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Dulce Maria Saviñon

Estava em pé, tremendo como vara verde, diante da enorme mesa de mogno, em frente ao homem mais atraente que já vi em toda a minha miserável existência.

Quando o vi correndo em minha direção mais cedo para me entregar um lenço, senti-me como em um conto de fadas, só que molhada e ensanguentada. Levei um susto ao ouvir sua voz rouca brigando com as crianças, coitadinhas. Não vou dizer que não estou chateada com o que fizeram, porque estou sim, mas minha raiva momentânea passou quando vi Dante tremendo e chorando. Já imaginava que Nina iria chorar, mas ver Dante chorando? O arrependimento estava presente naqueles pequenos olhos azuis, como o oceano. Tentei intervir, mas o senhor Christopher, também conhecido como "Hugostoso", não aceitou minhas desculpas. Sim, eu já dei um apelido para ele na minha cabeça.

Ele era alto, devia ter uns 1,80 e alguma coisa, com um corpo musculoso. A calça social marcava suas coxas, o terno alinhado parecia feito sob medida e abraçava seus braços, deixando pouca coisa para a imaginação. Aliás, eu consigo imaginar, apostaria meu rim que há um pacote de seis gominhos debaixo dessa camisa de botão preta. Ele usava um terno de três peças grafite escuro, camisa e gravata pretas e sapatos italianos. Seu cabelo castanho estava perfeitamente penteado, seus olhos castanhos tão intensos que pareciam hipnotizar, nariz fino e arrebitado, e a boca perfeitamente desenhada. E, por último, mas não menos importante, a barba. Como amo um homem com barba bem-feita e aparada. O conjunto era perfeito, nem mesmo meus personagens literários eram tão completos em perfeição. Quase esqueci da pergunta para dar uma resposta e fiquei aqui de boca aberta. Firmei a voz, nervosa e admirada com sua beleza tão próxima.

— Não precisa se desculpar, senhor Uckermann, eles já me pediram. ― Disse, ainda mais nervosa do que o normal.

— Não precisa me tratar com tanta formalidade, pode me chamar Christopher ― Ele disse, sendo simpático, mas minhas mãos estavam tão suadas que escorregavam uma na outra.

— Tudo bem, senhor Christopher ― Falei séria, mas ele riu, e meu Deus, ele ficou ainda mais atraente, quase obsceno de tão perfeito.

Nossa Senhora, protetora das calcinhas molhadas, me ajude.

— Sério, não precisa se desculpar, e se o senhor não quiser que eu prossiga com o trabalho, eu vou entender. Afinal, deixei eles sozinhos para pegar o brinquedo que Dante me pediu. ― Falei sem pausas, com medo da resposta.

— A culpa não foi sua, e sim da imaginação fértil deles. Não se preocupe, eu queria apenas fazer o pedido de desculpas mesmo. Da próxima vez, apenas fique mais atenta. Não acredito na total redenção dos dois ainda. ― Ele me alertou em tom de diversão, e eu criei coragem para perguntar.

— Posso fazer uma pergunta? Sen... Christopher? ― Corrigi antes que ele chamasse minha atenção novamente.

— Claro, se eu puder responder. ― Afirmou, arrumando a postura em sua poltrona.

— Eu reparei que as crianças ficam tristes sem a sua presença nas refeições. O senhor não teria como estar presente? Pelo menos no café da manhã? Já conversei com eles e vamos criar uma rotina, eles terão horário para acordar agora. ― Pronto, joguei a bomba. Se desse certo, beleza. Se não, sairia correndo.

O cara é bilionário, deve ter muitos funcionários para trabalhar para ele por apenas meia hora enquanto toma café com os filhos.

— Eu sei que eles ficam tristes. Vou fazer o possível para participar das refeições a partir de hoje, ok? É difícil, tenho vários negócios e meus horários são incertos, mas farei o meu melhor. ― Respondeu decidido, e eu acreditei em suas palavras. Por enquanto, estava satisfeita.

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