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Dulce Maria Saviñon

Estava tão aliviada. Eles estão aqui, como prometeram. Estou finalmente em Portugal posso me sentir segura. Caminho até o portão de desembarque e corro para os braços daqueles que nunca vão me machucar.

— Que alívio ver vocês aqui ― digo, com as lágrimas prontas para cair.

— Seja bem-vinda, irmã, ao seu recomeço ― minha irmã diz animada, mas com um olhar triste ao ver meus hematomas.

— Vem, deixa eu pegar a sua bagagem ― Christian diz procurando a mala.

— Não tenho nada além dessa mochila, amigo, deixa que eu levo ― a tristeza se manifestou em forma de lembrança. Deixei tudo o que tinha para trás.

— Claro que não, né? Eu levo. Vem aqui, me dá um abraço, e vamos sair daqui. Você precisa comer e descansar ― diz, pegando minha mochila e me abraçando enquanto andamos em direção à saída do aeroporto.

— Veste esse casaco, irmã. Está muito frio ― Anahí falou, entregando- me o casaco que havia trazido para mim. Eu estava morrendo de frio desde a saída do avião. Que lugar frio é esse?

— Obrigada. Cadê a Madá? ― perguntei, sentindo sua falta.

— Está em casa, preparando uma comidinha gostosa para você. Louca para te ver. Eu iria fazer uma comida para você, mas o carro da sua irmã está no conserto, então tive que ser motorista dessa vez ― Christian falou, todo divertido com seu sotaque português que eu amo.

Christian era ainda mais bonito pessoalmente. Como pode um cara ser tão bonito? Ele foi feito à pincel, loiro, alto, másculo, inteligente e chef de cozinha. Só faltou o mais importante: gostar de mulheres. Sim, Christian é gay. Quem olha para ele nunca diz, ele não dá pistas. É um príncipe europeu, sabe? Muito bonito e não finge que não é bonito porque ele sabe que é.

Seguimos para o carro que é muito bonito, limpo e cheiroso. Christian é muito cuidadoso, pelo que percebi até agora. É estranho ter um amigo tão íntimo que só agora vou conseguir conhecer os detalhes.

A cidade é linda e o que mais me encanta é a mistura do antigo com o novo, como se a cidade contasse duas histórias ao mesmo tempo. Espero que eu consiga refazer o mesmo, um dia contar as duas versões da minha história.

Chegamos ao prédio onde minha irmã e Madá moram. É lindo, parece aqueles imóveis que a gente vê nos livros antigos. Janelas grandes, algumas partes em tijolinho, mas por dentro é tudo moderno. Entramos no elevador até o terceiro andar. O frio estava fazendo meu queixo tremer. Estava receosa, ansiosa, nervosa. Tudo que continha o sufixo "osa" eu estava sentindo.

A porta foi aberta por uma Madá emocionada. O abraço foi gostoso, quentinho, e logo na porta já senti o cheiro de casa, um cheiro que não sentia há muito tempo.

— Vamos entrar, irmã. Você precisa de um banho e comer. Vamos conversar bastante também ― Minha irmã disse, entrando. Madá se afastou e me puxou para dentro.

O apartamento era lindo, simples, mas arrumado no estilo delas, que, aliás, era o meu estilo também. Eu gostava muito, tinha um jeito de Pinterest, sabe? Em tons bege, marrom e dourado. Parecia que eu estava dentro de uma foto.

— Nossa! ― Só consegui murmurar isso.

— É a nossa cara, né, irmã? Espera até ver o seu quarto. Arrumamos com muito carinho para você.

— Eu dormiria no chão se fosse preciso, Annie. Não precisa gastar o seu dinheiro comigo. Já estou te dando tanto trabalho ― Me sentia tão envergonhada, tão intrusa na vidinha delas.

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