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Dulce Maria Saviñon

Olhando para o vazio, com a mente distante e imaginando o que as crianças estariam fazendo agora, ouvi o barulho de carro e portas batendo. Ele saiu e voltou com mais pessoas? Não sei o que ele quer de mim com tantos homens. Estou com tanto medo. Queria ser forte e corajosa como minha irmã, mas não consigo. A porta se abriu e, sem coragem de olhar para cima, ouvi outra voz que tanto temia, a do pai de Pablo.

— Então a sua puta de estimação veio dar a boceta para um mafioso italiano aqui em Portugal? Que péssimo gosto para mulheres, meu filho ― disse o pai de Pablo, me dando ânsia de vômito.

— Não é muito diferente do seu gosto, papai.

— Não posso negar que ela é gostosa. Para todo o trabalho que você me deu para encontrar essa puta, vou ter que experimentar para ver o que tanto você vê nessa boceta.

— Sua hora vai chegar, pai, mas antes vou mostrar a ela como se obedece e a não fugir mais.

— Tive que cobrar muitos favores para encontrar essa aí. Espero que valha a pena. Se até o mafioso já a comeu, por que eu não deveria experimentar? ― Meu Deus, o que vai ser de mim? Por que eles chamam Christopher de mafioso? Não entendo.

— Olha para mim, vagabunda. Olha nos meus olhos e me peça perdão.

— Eu não levantei a cabeça e ele puxou meu cabelo, forçando-me a olhar para cima.

— Per... Perd... Perdão ― solucei quando a onda de medo e pavor passou pelos meus olhos.

— Espero que esteja realmente arrependida, porque você vai ter que se mostrar uma boa menina para mim e para meu pai. Tem gente grande querendo você, e não sei se quero compartilhar você com o russo mandão, amigo do meu pai. Será que devo? ― O pavor me consumiu. Comecei a hiperventilar e ele gargalhou.

— Não, por favor, não faça isso. Eu imploro, qualquer coisa, menos isso. Por favor ― supliquei. Ele me deu um tapa tão forte que caí de costas no chão. Fiquei ali, abraçada às pernas, e ouvi o barulho deles saindo, rindo e fechando a porta de aço.

Chorei tanto que minha cabeça doía. Meu corpo tremia e olhei para a lua pela pequena janela, iluminando o quarto que agora estava escuro. Só queria que isso acabasse logo. Se tivesse que ser o meu fim, que fosse rápido.

Ouvi o barulho de passos rápidos, como se alguém estivesse correndo. Meu coração se apertou com a possibilidade de ser a polícia ou alguém atrás de mim. Não queria criar esperanças, mas não podia negar que desejava ser salva. Estava molhada, com frio, suja e com fome. O pouco que tinha no estômago tinha vomitado. O pior de tudo era o medo do meu destino. Ouvi um barulho abafado, como se algo estivesse estourando, seguido por passos correndo e, por fim, tiros altos.

Meu Deus, tiros! Era a polícia! Graças a Deus, minha irmã me encontrou. Tentei levantar para fazer algum barulho na janela, mas estava muito fraca e minha voz quase não saía. Foi quando a porta se abriu, e para minha tristeza, Pablo entrou no quarto, me puxando pelo braço, junto com seu pai.

— Olha só o que essa vagabunda fez, tudo isso por sua causa, sua puta! — O pai de Pablo me deu um tapa no rosto, fazendo-me virar de lado. Ele me puxou para fora, me obrigando a correr em direção a um carro. E então, ouvi a voz do meu herói.

— Tira as mãos da minha mulher agora, seu merda! ― Era ele, Christopher!

Graças a Deus, era ele! Espere aí, "minha mulher"?

— Minha mulher? Você está se achando, né? Seu italiano de merda! Essa vagabunda é minha e sempre vai ser. Diga para ele, sua putinha, de quem você é! ― Ele me sacudiu e apontou uma arma para minha cabeça, que eu nem tinha percebido que ele estava segurando.

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