20 | velhos tempos

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O batucar intenso de seus dedos contra a madeira da mesa parecia estar tomando posse de seu cérebro. Ashley estava em sua sala havia exatamente quatro horas, não havia saído para nada, nem ao menos pegar mais algumas bolachas deliciosas na cozinha do Departamento. Mantinha-se inteiramente concentrada na conversa que havia tido com Frankie e para ser franca, não sabia exatamente o que fazer com toda aquela informação; se ao menos Garrett atendesse aos seus telefonemas, mas o filho da mãe fez questão de sumir num dia importante como aquele. Apoiou os cotovelos na beirada da mesa e levou as mãos ao rosto, aquela profissão ainda a mataria!

Assustou-se assim que a porta de sua sala fora aberta, dando passagem a um John Cowen um pouco abatido. Ela prendeu a respiração e por um momento sentiu o tempo congelar; talvez não estivesse preparada para encará-lo depois daquele acontecimento na cozinha de seu apartamento, aliás, ela nunca estaria preparada para encarar aqueles olhos azuis.

— Eu sei que a porta é automática, mas acho que ainda sim prefiro quando as pessoas batem — Ashley disse após despertar de seu transe. John arqueou as sobrancelhas ignorando-a completamente e acomodando-se na cadeira de frente a ela. — Qual o motivo da visita?

— Fiquei sabendo sobre o Harry — fora direto. Sem rodeios. Sem respostas cobertas de ironia. — O Frankie disse que você está cheia de teorias.

— Talvez... — ela inspirou o observando. — Você não tem nenhuma? Já que é sempre tão esperto.

— Fico impressionado com a sua capacidade de querer me tirar do sério — ele disse sem demonstrar nenhum tipo de reação, mas Ashley pode perceber o cansaço em sua voz.

John estava especialmente diferente naquele dia e a loira percebeu assim que ele pôs os pés em sua sala; um olhar baixo de quem não suporta mais enfrentar a mesma situação todos os dias, como se a insatisfação o tivesse pegado de uma forma que nem o próprio soubesse explicar. Mas, havia mais do que isso cravado no semblante daquele homem... Existia uma confusão de sentimentos, inúmeras perguntas que estavam sem respostas e isso, talvez, fosse o que mais estivesse lhe incomodando. Apesar da enorme vontade de vê-lo experimentando do próprio veneno, Ashley arrependeu-se de ataca-lo sem ao menos reparar na bandeira branca que ele havia erguido. Ao menos por hoje.

— Parece que você tem tido dias difíceis — ela arriscou, estudando com cautela o campo desconhecido em que estava pisando.

— Talvez... — ele respondeu, imóvel. Apenas um olhar perdido vagando por ali.

— Sei que é inútil o que vou dizer, mas... — ela forçou um sorriso. — Se quiser conversar, sou uma boa conselheira.

— Você sabe que isso não funciona com a gente — ele esboçou um sorriso e logo depois coçou a barba por fazer. Estava um trapo.

— Por isso eu disse que seria inútil... — ela cantarolou a última palavra e ergueu-se indo até um móvel de madeira onde havia uma garrafa de whisky.

— Resolveu ser simpática comigo? — John virou-se para encará-la.

— Sim, mas já estou arrependida — você não merece a minha preocupação. Cretino. — Acho que não tenho nenhuma informação relevante para você sobre o Harry.

— Pensei em irmos ao apartamento dele.

Era uma oferta tentadora e de primeiro momento, Ashley recuou. Toda aquela pose de homem fraco e sem armas para contra atacar a estava deixando com suspeitas. Mas, ainda sim, era uma oferta tentadora. Eles precisavam averiguar o que de fato havia acontecido ao Harry, apesar da loira já ter concluído tudo o que se passava; entretanto, seria a oportunidade perfeita para que John enxergasse com os próprios olhos o tamanho de sua estupidez ao acreditar em Sarah e ver o rapaz remoído em arrependimento era uma cena que a agente não poderia perder. Largou o copo de whisky que havia pegado sobre o móvel de madeira e encaminhou-se até a porta, que se abriu com a aproximação.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora