08 | agradecimentos e ciúmes

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Em quase todos os dias daquela semana incrivelmente conturbada, Ashley manteve-se entediada e ao mesmo tempo confusa. Havia exatamente sete dias que ela sentava em seu escritório e repassava todos os documentos presentes a sua frente, tentando encontrar um erro ou até mesmo o motivo pelo qual o criminoso em questão arquitetava a situação. Várias xícaras de café e algumas doses de whisky passaram pela sua garganta e toda a insônia que lhe acompanhava causava terríveis olheiras no contorno de seus olhos esverdeados. Deu graças aos céus quando notou que era dia. Sim, dia de rever seu companheiro e escutar alguma espécie de piadinha sem graça que ele construíra durante todas as duas semanas que passaram. Deixou um leve suspiro escapar e deu uma última olhada em sua aparência no retrovisor de seu conversível; cabelos soltos com ondas caindo ao longo de sua coluna, uma jaqueta de couro preta por cima de uma camiseta justa branca. Trajava calças escuras e uma bota que convinha ao seu visual. 

Estava bonita. Linda, apesar das profundas marcas de noites mal dormidas que preenchiam o contorno dos olhos. Mas, para que toda a preocupação em está apresentável? Revirou os olhos caminhando em direção a entrada do Departamento. A porta de metal maciço se abriu e adentrou com passos tranquilos pelo corredor. Era inevitável tentar ignorar o movimento que sentia em seu estomago, novamente parou olhando-se em uma das janelas de vidro que transmitia seu reflexo. Ok, aquilo estava indo longe demais. Cumprimentou algumas pessoas que seguiam sua rotina no imenso aglomerado de mesas e notebooks. Aproximou-se da sala em que John provavelmente deveria está... A única porta de madeira do ambiente. Ela já dissera o quão cafona achava aquilo? Hesitou ao por a mão sobre a maçaneta. Pensou uma. Duas. Três vezes ao girar o objeto quando fora surpreendia por alguém com a voz incrivelmente rouca e sensual lhe chamando. 

— Acho que alguém sentiu saudades — John pôs um sorriso no canto dos lábios, deixando a mulher totalmente desconfortada. Ela ajeitou a jaqueta em seu corpo lançando um olhar nada amigável para o seu companheiro. — Não me olhe assim...

— Assim como? — ela iniciou uma caminhada rotineira, tentando o quanto antes alcançar a porta de sua sala.

— Como se estivesse perdidamente apaixonada — ele a seguia com as expressões mais tranquilas de um homem provocador. Ela bufou, soltando uma gargalhada repleta de ironia.

— Pensei que a primeira palavra que fosse dizer seria obrigada — ela despejou as palavras adentrando a sala de forma fervorosa. Ele a acompanhou. — Eu que mandei aquela bandeja de café da manhã.

— Nossa, como ela é bondosa — ironizou encostando-se no armário de marfim que havia na sala; enfiou as mãos no bolso de seu paletó observando-a. — Eu não me lembro de ter pedido.

— Você é um mal educado — o olhou incrédula. Ele realmente havia dito aquilo? — Da próxima vez me lembre de te deixar jorrando sangue até a morte. 

— Foram apenas duas costelas fraturadas — sorriu afrouxando sua gravata prateada; Ashley por um momento imaginou está analisando algum objeto de sua decoração. Ele tinha mau gosto para gravatas e alguém necessitava dizer aquilo a ele. 

— John — ela sussurrou levando os dedos a testa, massageando lentamente com movimentos circulares. Ele lhe causava essa reação. — Eu não quero brigar com você, então se retire, por favor.

— Estamos brigando? — questionou aproximando-se da mesa. Ele gostava daquele jogo e ainda mais quando os hormônios de certa moça se alteravam. Nitidamente. — Estou tentando ter uma conversa civilizada, senhorita Sullivan.

— Eu não quero te expulsar aos gritos — disse cada palavra com um intervalo de tempo suficiente para que ele percebesse a sua raiva se expandindo. Ela o fitou com o olhar mais duro que conseguira fazer desde que chegara ali. — Não quero ser desagradável.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora