30 | em ruínas

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Dois dias haviam se passado.

Dois dias sem nenhuma notícia do paradeiro de Benjamin.

John Cowen manteve-se presente no Departamento durante todo esse tempo, tentando a todo custo fazer com que os profissionais extraissem o máximo de si para encontrarem o pequeno. Mas, o fato era que, ele não havia criado coragem suficiente para encarar seu apartamento. Como seria chegar em casa e não encontrar seu filho? Como seria dormir em sua cama, sabendo que o quarto ao lado estava completamente vazio? Ele tentou colocar em prática tudo o que Frankie havia lhe dito sobre ter força e paciência, mas nada parecia funcionar. Sentia seu coração enfraquecer toda vez que o relógio avisava que mais um dia estava indo e nenhum avanço ocorrera. Improvisara uma cama no pequeno sofá de sua sala, as noites mal dormidas estavam tornando-se constantes e a cafeína se tornara sua melhor amiga. Todo aquele ambiente estava lhe deixando completamente exausto e sem forças para continuar; precisava desesperadamente que aquele pesadelo tivesse um fim. Precisava do seu campeão lhe abraçando, relatando sobre mais um dia divertido na escola, questionando o por quê das coisas. John Cowen estava morrendo aos poucos.

Deixou um suspiro fraco escapar pelos lábios, as olheiras estavam marcadas fortemente e poderia jurar ter emagrecido alguns quilos naqueles poucos dias. Mal conseguia por uma bolacha na boca que sentia o estômago embrulhar, lhe causando um longo desconforto. Apoiou os cotovelos sobre a mesa de madeira e levou as mãos ao rosto, depositando ali toda a sua dor e exaustidão. Ben... Ben... Cadê você, campeão? Era o único pensamento que se mantinha vivo em sua mente.

Ouviu a porta se abrindo e ficou parado alguns segundos enquanto encarava Ashley Sullivan adentrando o ambiente.

— O que faz aqui? — ele questionou ríspido.

— Pelo que eu saiba ainda não me removeram do caso — ela respondeu aproximando-se do rapaz. Cruzou os braços observando o local. — Fiquei sabendo que você entrou num estado de depressão incurável.

— Está sabendo demais, pelo visto — retrucou impaciente. Não era para Ashley estar ali. Ele já havia deixado bem claro para Frankie os seus motivos, não havia?

— Você não vai resgatar o Benjamin ficando sentado nessa cadeira o dia inteiro, acho que já deu para perceber — ela manteve sua voz firme.

— Você estava num hospital há dois dias, não imaginei que fosse se recuperar tão cedo — ergueu-se de sua poltrona indo em direção a garrafa de café.

— Deram ordens ao hospital para me prenderem por um mês — Ashley parecia controlar com dificuldade a raiva que se alastrava por seu corpo; mas não queria iniciar uma briga ali. — Fiquei pensando durante horas... — ironizou — Quem seria a pessoa que ordenou essa loucura.

— Só por essa quebra de sigilo já concluo que esse hospital não é dos melhores — John confessou tomando numa golada só o liquido preto em mãos. Pôde notar o rosto da loira queimando.

— Você é um idiota! — exclamou aproximando-se com rapidez. — Quem pensa que é para fazer isso?! Você, mais do que ninguém, sabe o quanto eu sou importante para esse caso.

— Uau — foi sarcástico voltando a encará-la. — Então, já sabe onde o Benjamin está escondido?

— O que?! — Ashley franziu o cenho parecendo confusa com a pergunta.

— Já que se diz tão importante, eu espero no mínimo uma informação a altura.

A voz de John saiu mais dura do que ele planejara e Ashley sentiu uma dor aguda percorrer a sua espinha; não esperava toda aquela resistência. Não esperava palavras tão fortes como aquelas. John Cowen havia dado ordens ao hospital para que ela não fosse liberada tão cedo, mas com a ajuda de Garrett ela pôde revertar aquela situação ridícula. Estava ali para depositar algumas de suas inúmeras conversas elaboradas e cheias de ironias, mas a realidade era que já não possuía mais disposição para enfrentar o agente. Estava cansada de implorar a aceitação dele. O típico homem idiota e machista de Nova Iorque. Só isso poderia explicar tamanha divergência... Ele, certamente, era o homem mais difícil com quem ela já trabalhara e para sua total insatisfação, aquilo mexia com seus sentimentos. De uma forma dolorosa e desconfortante.

— Eu só quero ajudar — sussurrou prendendo o nó em sua garganta. Observou John balançar a cabeça negativamente. — Me deixe ajudar, John.

— Não posso — Ele pareceu baixar a guarda, seu coração doía por ter que manter-se tão distante da mulher. — Tenta entender... Por favor.

— Não consigo — Ashley aproximou-se, agora a poucos centímetros do homem. Pôde sentir a respiração pesada escapando. — Nós dois podemos acabar com isso, você sabe.

— Ashley... — ele implorou, seu olhar opaco e sem vida.

— Por favor...

E num golpe de mestre, a agente encostou sua cabeça no peito do rapaz e fechou os olhos, apenas escutando as batidas fortes que seu coração emitia. John sentiu todo o seu muro de concreto indo por terra, mas ainda assim algo lhe alertava o quão perigoso seria se deixasse Ashley participar de tudo aquilo. Ela já havia sido quase morta três vezes, como conseguiria manter o foco sabendo que mais uma pessoa estava correndo perigo? Envolveu seus braços ao redor daquele corpo pequeno e depositou um beijo rápido no topo de sua cabeça, para a surpresa da mesma. Queria que o mundo congelasse ali, naquele instante, com Benjamin ao lado de ambos sem nenhum mal os perseguindo. Fechou os olhos, cansado demais.

— Eu não quero que se machuque de novo — confessou com a voz rouca.

— Por você e pelo Benjamin vale a pena — as palavras sairam sem permissão, mas em nenhum momento Ashley sentiu arrependimento.

John deixou que um sorriso fraco brotasse no canto dos lábios e naquele instante teve uma súbita vontade de dizer o que estava sentindo. Precisava dizer. Precisava explicar o quanto ela se tornara preciosa em sua vida, o quão necessária a presença de Ashley era, precisava explicar a vontade louca que ele tinha de insultá-la e logo depois enchê-la de beijos e sorrisos. Ele estava ficando louco? A cafeína talvez o estivesse embriagando de pensamentos sem nexo e furtivos, talvez precisasse de um bom banho e seu filho ao seu lado. Parecia errado estar ali, enquanto o seu pequeno corria perigo ao lado de uma assassina; afastou-se subitamente encarando Ashley. Não queria assustá-la.

— Você precisa de um banho — ela disse sem importar-se com a repentina distância.

— Não posso sair daqui enquanto o Benjamin está... — John sentiu a voz falhar. Seu corpo implorava para que ele aceitasse aquela oferta.

— O Ben precisa de você forte, ágil e ligado — afirmou. Logo depois utilizou o dedo indicador para apontar o agente. — Você está um trapo. É isso o que aquela vadia quer.

Ele hesitou por alguns segundos e no instante seguinte deu um passo em direção a sua porta de madeira.

— Tudo bem — girou a maçaneta. — Vou para o meu apartamento.

Antes que ele pudesse se adiantar, a mulher tomou a chave do automóvel de suas mãos e ultrapassou o corpo do homem sem esperar uma resposta e John não ousou discutir, afinal, do jeito que se encontrava não sabia ao certo se chegaria vivo em seu destino.  


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Oláaa! Me perdoem a demora em atualizar a história, mas eu estou numa correria por causa da minha mudança. Tirei um tempinho ontem e consegui escrever. O capítulo foi curto propositalmente, já que o próximo será bem loooongo, rs. Espero que gostem! Não esqueçam de votar e comentar, ok? Beijos.


AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora