37 | eu te amo

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John pareceu entrar num mundo paralelo, onde todas as suas inseguranças e medos voltavam como uma tempestade repentina. Coma. Coma. Não há nada que possamos fazer. Nada. As palavras ecoavam por todos os cantos de sua mente, revirando seu estômago, fazendo com que cicatrizes antigas se abrissem numa só pontada. Aquilo não poderia acontecer... Deus! Desviou o olhar para Benjamin, que parecia desligado demais para entender a gravidade do que haviam acabado de lhe dizer; o garoto se afastou alguns centímetros, parecendo entretido demais com o pequeno mural que havia na parede. John fechou os olhos por um segundo e encarou os profissionais a sua frente, talvez esperando algum pedido de desculpas, algo que indicasse que tudo aquilo não passava de um engano.

— Como assim, nada que vocês possam fazer? Vocês precisam fazer alguma coisa — conseguiu dizer, tentando controlar o timbre da sua voz.

— Senhor Cowen, todos os procedimentos médicos adequados para esse tipo de situação foram realizados da melhor forma possível. A pancada que ela recebeu levou ao traumatismo e, até o momento, não houve resposta de nenhuma natureza da paciente — o primeiro médico tentou acalmá-lo, mas o agente não parecia entender o que ele estava dizendo. Sua cabeça girava e nada fazia sentido. Ashley não estava respondendo? Ela era a mulher mais forte que conhecia, como podia não estar respondendo?

— Não! Vocês é que devem estar fazendo alguma coisa errada! — passou as mãos pelos cabelos com força, jogando-os para trás. Precisava descontar sua raiva em algum lugar. — Como podem simplesmente abandonar uma paciente?!

— Como disse? Não estamos abandonando ninguém...

— E o que me diz disso? — apontou para a porta fechada, inspirando fortemente. Precisavam fazer alguma coisa. O que estavam fazendo ali parados? — Estão deixando a minha mulher sem assistência alguma, dentro desse maldito quarto!

— Senhor Cowen, aconselho que se acalme e deixe que...

— Acalmar?! — replicou, interrompendo-o mais uma vez, com uma expressão surpresa na face. — Não é a sua esposa que está dentro de um quarto praticamente morta!

— Garantimos ao senhor que tudo que estiver ao alcance da Medicina será feito, mas, infelizmente, no momento, precisamos esperar uma resposta da paciente. — o segundo médico disse com uma voz pacífica, consequência das inúmeras situações semelhantes que já vivenciara.

O agente sentiu um nó formando-se em sua garganta, o coração comportando-se de forma irregular e sua respiração sendo bloqueada pelo peso que havia se instalado nos pulmões. Esperar. Quando que sua vida começaria a entrar nos trilhos? Quando, finalmente, conseguiria ter paz? Observou os médicos dando passagem para que entrasse no quarto, mas recuou alguns passos; não estava preparado para encarar Ashley numa cama de hospital, totalmente sem vida e rodeada por aparelhos que emitiam um barulho capaz de enlouquece-lo. Estava tudo planejado em sua mente, desde o momento em que reconhecera seus verdadeiros sentimentos e agora sentia todo o seu futuro deslizando como areia pelas mãos. O que havia de errado com ele? Seu destino estava fadado ao fracasso, certamente. Benjamin teria que viver com a dor de nunca ter possuído uma figura materna ao seu lado e tudo isso era sua culpa. Ele teve a chance de se redimir, no momento em que Sarah entrou em seu apartamento inventando todas as atrocidades de uma mente enlouquecida e ele simplesmente havia cuspido e desviado do caminho que lhe levaria a felicidade. Engoliu a seco, como se uma faca acabasse de penetrar sua garganta. Céus, deveria acabar logo com aquela angústia. Girou a cabeça, encontrando o filho.

— Podemos entrar, papai? — ele questionou, inocente demais para entender a complexidade que se passava pelo interior do mais velho.

— Crianças não podem entrar — mentiu, o guiando pelo corredor. — Que tal você me esperar alguns minutos no playground?

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora