05 | elogios e grisettes de batata

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Era de um vermelho intenso, quase sangue. Um design tão maravilhoso quanto o do seu pobre carro que estava em um conserto na parte mecânica do Departamento. Estava aguardando ansiosamente para que a Seção lhe mandasse um presentinho para compensar o que passara nas últimas horas, mas até o momento... Nada. Ashley já estava sentada em sua poltrona de couro legítimo, sua Ferrari 360 spider causava inveja em muitos que passavam rotineiramente pelas ruas daquela cidade. Mas, John manteve-se apenas com uma expressão levemente surpresa. Nada mais do que isso. 

— Bonito carro — elogiou pondo um sorriso cínico nos lábios. Ashley arqueou as sobrancelhas na espera de uma crítica. — O que foi? Tenho meus momentos de sinceridade, senhorita Sullivan.

— Uma triste pena que sejam raros esses momentos — disse girando a chave na ignição, um som baixo e forte ecoou pelas descargas. 

— Sou sincero na maior parte do tempo, você que não aceita essa minha característica... — ele pausou buscando uma palavra em sua mente. — Tão marcante.

— Maldita hora em que fui oferecer-lhe carona — trincou os dentes dando partida e afastando-se com uma velocidade incrível do estacionamento.

John sentia-se desconfortável, era para ele está dirigindo o carro e não uma mulher. Todos os olhares da rua estavam destinados a um único automóvel e não era ele quem estava no controle da máquina. Tentou ocupar sua mente com algo que não fosse aquele momento constrangedor, afinal, ele era o agente 027... Bom, isso deveria dizer alguma coisa – mesmo que 100% dos seres que caminhavam pelas calçadas não soubessem disso. 

Ashley levou a mão ao pequeno som portátil e apertou o botão "play" que piscava sem parar; ao seu toque uma música começara a tocar e os olhos de John acompanharam os movimentos que a loura fazia. Ele deveria está em um pesadelo, daqueles que não se acorda nunca. 

— Que voz irritante é essa? — ele questionou referindo-se a voz feminina que ecoava das caixas de som. Uma música com melodia um tanto melancólica, quase insuportável de se escutar. Segundo suas conclusões, é claro.

— It's Britney, bitch — ela gargalhou. Aquilo mais soou como uma vingança pelo o que ele tinha feito há tempos atrás. — Look like home, take me home... And the light in your eyes...

Aquela voz estridente causou um nó em seu cérebro e ele teve uma vontade incontrolável de atirar-se para fora daquele conversível. Mas, para sua tranquilidade estavam aproximando-se do colégio que Ben frequentava; a mulher estacionou e apenas abaixou o volume, cantarolando agudamente enquanto John ia ao encontro de seu filho. Não era para reparar em detalhes como aquele, mas seu olho esverdeado acompanhou os passos do homem e analisaram a cena que se construiu nos minutos seguintes.

John estava com os braços abertos, ajoelhado naquela calçada imunda esperando com um sorriso... Fantástico... Maravilhoso... Incrivelmente sensual. Mas que droga é essa? A loura reconheceu o garoto assim que ele apontou a centímetros depois do portão e com o mesmo formato nos lábios que o pai carregava, correu animado para cair no abraço mais aconchegante que ela já vira. No mesmo instante, ela esquecera aquela música que soava ao fundo e até mesmo de quem ela estava irritando minutos antes daquilo acontecer. Um sorriso transbordando admiração desenhou sua boca avermelhada, ela saltou do carro e fora em direção aos dois.

— Olá — ela disse gentilmente aproximando-se dos dois. Percebeu o mais velho revirar os olhos com a sua presença, mas tentou ignorá-lo. Seu foco era Benjamin. — Sou Ashley, amiga de seu pai.

— Amiga ou namorada? — ele riu cruzando os braços. Lindo. Engraçado. Sem limites.

— Nossa, que gracinha — a loura comentou com um sorriso amarelo; John soltou uma gargalhada indecifrável. Ela sentiu as bochechas ruborizarem-se. — Mas, com toda a felicidade do mundo eu digo: Não sou a namorada do seu pai.

— Acho que já sei por que... — Ben aproximou-se do ouvido da mulher, sussurrando para que seu pai não ouvisse os comentários a respeito de sua comida. — Ele disse que ia melhorar na hora de fazer as panquecas, tenha um pouco de paciência.

Ashley não pôde deixar de rir. A inocência infantil era algo que realmente ela poderia estudar quando tivesse algum tempo livre; numa possibilidade bem remota, poderia até ter sido professora para aqueles pequenos os quais ela tanto admirava. John tomou o filho no colo e observou as expressões da loura se esvaírem assim que lançou um olhar reprovador para a mesma, afinal, eles eram inimigos quase mortais e estavam apenas trabalhando juntos devido a um caso insano que começara a atormentar suas vidas. Benjamin não era nenhuma criança tão tola que não percebesse aquela troca de sentimentos negativos; ele apenas balançou a cabeça, portando-se como um verdadeiro adulto diante daquelas duas pessoas infantis.

— Nós vamos comer no Mc Donald's? — o garoto questionou com seus olhos azuis brilhando em alegria; John sorriu afirmando levemente com um aceno de cabeça. — Estou morrendo de fome.

— O que?! — Ashley interrompeu aquele momento de felicidade alimentícia, seu olhar incrédulo era lançado sem medo sobre o mais velho. — Esse é o horário de almoço, não de comer porcarias. 

— O papai não sabe cozinhar — Ben entortou a boca numa expressão de lamentação. John sentiu uma queimação subir até as orelhas; não era para ela saber daquilo.

— Que novidade... — bufou dando de ombros. Numa ideia benevolente, vinda inteiramente de sua mente brilhante ela sorriu como se aquilo fosse à solução para todos os problemas de Benjamin. Apenas de Benjamin. — E se eu fizesse um almoço para você?

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora