13 | alvo na mira

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O dia nascera agradavelmente bom. O sol irradiava seu brilho pelas ruas da cidade, assim como o vento que tocava tranquilamente as folhas secas que cobriam alguns pontos de Nova Iorque. A inconstância na temperatura causava certo tipo de desordem para boa parte das pessoas que regiam sua vida através das previsões lançadas erroneamente pela televisão. John era um desses que providenciava um terno para dias mais frios, seguindo a linha de raciocínio que lhe ensinavam desde que era menor. Se estiver frio à noite, certamente fará frio de manhã. Mas, assim como os erros que cometera ao longo de sua vida, esse fazia parte da pequena lista de ensinamentos que continuariam regendo suas rotinas. Trajou apenas uma blusa social com uma cor azul-acinzentada, calças jeans escura e um sapato qualquer que encontrara pelo caminho de seu apartamento. Como de costume, deixou seu filho Benjamin no colégio e seguiu a direção do Departamento nove.

A sensação incômoda da noite anterior ainda não havia lhe deixado completamente. Guiava seu conversível sem ao menos notar todos os detalhes que passavam através de seus olhos quase transparentes; talvez sua mente já estivesse acostumada com o trajeto e nem se quer tinha o trabalho de orientar os movimentos do volante – esses já estavam gravados e se repetia da forma mais robótica possível enquanto seguia o seu caminho. Não conseguia livrar-se da tensão que se registrava em seus músculos; estavam rígidos, como se estivessem prevendo um golpe que lhe atingiria em cheio. Aguardou alguns segundos até que uma fileira de carros ultrapasse em frente à entrada do estacionamento e adentrou o ambiente, posicionando o veículo em uma das vagas disponíveis. A Ferrari avermelhada encontrava-se no lado oposto ao seu conversível e tirou suas conclusões (óbvias) de que Ashley Sullivan já se encontrasse no Departamento. Uma recente recordação passou por sua cabeça; o ato violento em atirar o celular contra a parede lhe custara um aparelho novo. E ela era a culpada. Desfez-se dos pensamentos matinais e continuou seus passos rumo ao interior do local; sentia a ansiedade lhe consumir de uma forma estranha, por mais que tentasse controlar os sentimentos, cada dia mais se tornava impossível.

E lá estava ela. Os cabelos louros soltos, caindo sobre sua coluna ereta; a franja estava presa por um pequeno grampo dourado, a calça de couro desenhando suas pernas e a jaqueta de mesmo material lhe caindo tão bem quanto o par de olhos verdes que levava em sua face. Um sorriso descontraído nos lábios... Aquilo causou uma fagulha de raiva acender as lembranças do telefonema que ele fizera. Inspirou um pouco de oxigênio e começou sua dura caminhada até parar exatamente ao lado da mulher, que estremeceu ao reconhecer o aroma forte que invadira suas narinas.

— Pelo visto a noite foi boa — provocou mantendo o olhar azulado fixos nos movimentos das pessoas que realizavam seus respectivos trabalhos.

— Isso não é da sua conta — revirou os olhos mantendo-se indiferente à presença de John. 

— Bem, não sou o único que vive se metendo onde não deveria — aquele sorriso cínico surgiu no canto de seus lábios. 

Ashley lhe lançou um olhar irritado, controlando-se para não ataca-lo ali mesmo. Arrancar a única faísca de felicidade que havia em seu peito deveria ser a diversão mais apropriada para o homem, já que sempre arranjava um jeito de tirá-la do sério. Manteve-se estática em seu lugar, lançando olhares repletos de desejos obscuros para o seu companheiro que aparentava está numa tranquilidade comum. Apenas aparentava. Ela pôde sentir um calor atingindo-lhe as maçãs do rosto assim que se lembrou do telefonema entre Garrett e John; certamente o diálogo da noite anterior havia provocado reações no mínimo irritantes no rapaz, uma vez que se mostrava tão preocupado em relação ao que havia feito com o seu amigo. Deixou os ombros relaxarem, voltando sua atenção para o movimento que antes observava.

— Se eu não te conhecesse John, presumiria que está com ciúmes — arriscou mordendo levemente seu lábio inferior. Ele mantinha-se intacto. E atraente.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora