14 | o início do fim

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Ainda pensava no beijo e na forma carinhosa como o rapaz havia deslizado a mão quente e áspera por sua nuca; depositando ali minutos eternos de carinho e comodidade. Ashley levava consigo um sorriso tão grandioso que mal tinha condições de reparar nos olhares engraçados que todos no Departamento lhe lançavam; já estava no fim de seu expediente e a notícia da cena apaixonante já corria por todos os lados daquele estabelecimento. John já havia se retirado do ambiente há tempos, iria levar Benjamin para casa e lá mesmo, num relance de descontração ele começaria a investigar se algum membro suspeito havia penetrado sua casa em busca de pertences do garoto. Aquele assunto já estava lhe causando longos calafrios, sua mente trabalhava todos os dias de forma exaltante e cansativa procurando desesperadamente por uma resposta para todos os acontecimentos que vinham atormentando sua vida. Os ataques, o fato do corpo de Sarah Linoy não pertencer a ela e agora descobrirem que Benjamin Cowen era o principal alvo do assassino... Deveria possuir uma ligação. Depositou alguns papeis sobre a mesa e alcançou o envelope que continha o resultado da autópsia do corpo. Já imaginara diversas vezes entregar de forma fria o papel nas mãos de John, o que lhe custaria mais alguns meses de comentários infames e brincadeiras sarcásticas, além de uma boa dose de agressões verbais que ele lhe depositaria cruelmente. Não era a melhor hora de causar mais incomodo para seu companheiro; levantou-se da mesa e encaminhou-se para fora de sua sala, trancando-a logo em seguida. 

Já deveria está em seu apartamento numa fantástica busca sobre o que vestir no jantar que aconteceria daqui umas horas. John Cowen havia lhe convidado para jantar. Para Jantar. Jantar. Apertou os olhos tentando idealizar o clima tranquilo e apaziguador que haveria enquanto saboreassem alguma culinária saborosa que o homem se encarregaria de comprar em algum restaurante requintado de Manhattan. Caminhava como se pisasse em nuvens e de fato estava, os pensamentos que circundavam sua mente causava-lhe sensações tão provocantes e irreais que se perguntou por um momento se aquilo realmente estava acontecendo. Comportando-se como uma jovem de quinze anos indo a caminho de seu primeiro encontro, na inútil expectativa do garoto ser o amor de sua vida. 

Parou diante a porta lateral de vidro que dá acesso ao corredor leste do Departamento, abriu a mesma com uma empolgação radiante assim que avistou a Senhora Woody lutando contra um pequeno carrinho repleto de roscas com coberturas de caramelo. Aguardou um instante até que toda a estrutura da mulher estivesse atravessada o portal e soltou a porta para que o objeto voltasse a sua origem.

— Que alegria contagiante! — a Senhora comentou enquanto caminhava na direção oposta. Ashley não escondeu o sorriso. 

— Eu tenho um encontro hoje — retrucou com os ânimos visivelmente alterados. — Nem sei mais como agir diante de situações assim... Sinto-me completamente idiota. 

— Seja você mesma — a gentil mulher cessou os passos encarando a face jovial da agente. Com sua voz arrastada prosseguiu a conversa. — Se ele a convidou é porque gosta de você do jeito que é. O John é um bom rapaz. 

— Eu sei, mas... — a loura uniu as sobrancelhas numa nítida expressão de desentendimento. Como ela soube? — Como sabe que vou me encontrar com o John? 

— Ah, minha querida... — gargalhou dando sequência a seus passos vagarosos. — Não há segredos no Departamento nove. 

{...}

O entardecer estava tranquilamente agradável e a vista que possuía da varanda de sua sala não poderia ser melhor. Havia preparado uma boa vasilha com pipoca e uma grande quantidade de refrigerante para iniciar uma conversa rápida e cuidadosa com seu filho; havia passado em um restaurante próximo e encomendado um prato deliciosamente especial para a noite que aconteceria logo mais em sua casa. Já havia combinado com a Senhora Paige que Benjamin ficaria mais uma vez sob cuidados dela enquanto realizava uma conversa particular com sua companheira de trabalho. Abandonou os trajes formais que utilizava para manter a aparência como agente e vestiu uma calça de tamanhos desproporcionais com uma pequena cordinha, que dava suporte para que a peça não caísse enquanto ele caminhava pelo o apartamento. Seu filho já estava aguardando no sofá, passando incansavelmente os canais da TV a cabo que haviam adquirido assim que se mudaram para o prédio; parecia irritado com a pouca variedade de filmes que estava sendo televisionado no momento. John sentou-se ao lado do pequeno jogando uma lata de refrigerante para o mesmo. 

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora