34 | coragem

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Benjamin continuou com o corpo curvado, apenas sentindo o toque em seu ombro se tornar mais forte a cada minuto; por fim, desistindo de lutar contra tudo o que estava sentindo, ergueu o olhar para encarar o homem completamente estranho em seu encalço. Por Deus, quando aquele pesadelo acabaria? Levantou-se com dificuldade e por mais que tentasse, suas pernas não conseguiam obedecer ao comando de seu cérebro em correr o mais rápido possível.

- Não tente nenhuma gracinha, moleque - ele sussurrou, entonando toda a sua maldade naquela pequena frase. Benjamin apenas assentiu.

- Fique longe do meu filho!

Tudo aconteceu rápido demais. Viu o capanga desmontar em sua frente, caindo completamente sem reação na calçada suja; Um. Dois. Três. Inúmeros socos e palavrões eram atirados ao vento. Antes que ele pudesse tentar algum movimento, um homem veio por cima desferindo violentos golpes na face daquele que encontrava-se totalmente imóvel. John não tentou se controlar, pelo contrário, queria acabar com a vida daquele ser imundo que estava prestes a levar Benjamin de volta para o covil das cobras. Mais socos. Mais chutes. Mais palavras praguejadas. Ergueu-o pela blusa, olhando firmemente nos olhos amedrontados. Podia sentir claramente o cheiro de ferro tendo livre acesso por suas narinas. Inspirou fundo, lembrando-se da presença de seu filho que assistia tudo com um misto de sentimentos pelo corpo; afastou-se com rispidez, abandonando o corpo de forma violenta. Sua respiração estava ofegante, a carga de adrenalina depositada parecia está causando diversos efeitos por seu corpo, talvez estivesse tendo algum tipo de parada cardíaca. Encostou a testa na parede de concreto de um dos prédios e recuperou o pouco equilíbrio que ainda restava em seu corpo. Ao virar-se, sentiu um calor aquecer todo o seu interior.

Benjamin o olhava assustado, mas ao mesmo tempo podia-se perceber expressões de alívio contornando o pequeno sorriso que crescia em seus lábios secos. John sentiu o nó formado na garganta e não teve vergonha em chorar; caiu de joelhos na calçada, recebendo o abraço que mais sentiu falta durante a semana que passou. Ambos choravam. Ambos sentiam a conexão entre eles crescendo e crescendo, a cada lágrima que escorria; como podiam ter tido a coragem de afastá-los? Como tiveram a coragem de envolvê-lo naquele plano louco? O agente o trouxe ainda mais para o abraço, temendo que a qualquer momento ele pudesse desaparecer, como mágica. Um soluço rouco invadiu aquele momento, vindo exclusivamente de um pai que não temia esforços para proteger o filho e que em algum momento, falhou; prometeu a si mesmo que jamais falharia de novo, em hipótese nenhuma. Perder Benjamin novamente, seria como arrancar o resto de vida que vez ou outra aparecia. Afastou-se um minuto, deslizando suas mãos por toda a pequena estrutura em sua frente.

- Te machucaram? - questionou preocupado, os olhos azuis entregues ao mar de lágrimas que não cessava. - Me desculpa filho, por favor... Eu errei, eu errei...

- Tudo bem, papai - ele disse, retirando sabe-se lá de onde forças para sorrir. Não queria seu pai sofrendo. - Eu não fui corajoso como o senhor me ensinou, mas eu não conseguia mais correr...

- Shhh - John sussurrou, depositando um beijo na testa do garoto. - Você é o mais corajoso do mundo, meu campeão. Conseguiu fugir daqueles caras maus!

- Você foi meu herói - disse, abraçando-o novamente e sentindo-se, enfim, seguro por estar ali. - Obrigado.

- Eu te amo tanto, filho - afundou o rosto no pescoço do pequeno e pediu mentalmente para que o mundo congelasse. Afastou-se, sendo atingido por uma realidade tão amarga quanto aquela que haviam acabado de sair. - E a Tia Ashley?

Seu coração falhou quando o sorriso no rosto de Benjamin desapareceu.

- Eles a pegaram, papai - a voz nitidamente encoberta de medo.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora