16 | mudanças

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Como encarar aquilo? Analisando o horário, até que as ruas estavam bastante movimentadas. Ashley mantinha as duas mãos sobre o volante, conduzindo o veículo num estado de inércia que nem qualquer pensador louco poderia explicar. Os olhos estavam vermelhos, as lágrimas rolavam com facilidade por seu rosto porcelana e o que antes era uma maquiagem perfeita, agora não passava apenas de manchas pesadas; assim como as lembranças que se chocavam com seus pensamentos. Não sabia ao certo o que pensar, ainda doía ter que ouvir a voz rouca de John ecoar em sua mente palavras tão amargas e fortes. Um soluço fraco escapou de sua garganta, sentia-se completamente idiota por estar agindo daquela forma... Mas, além de ser uma mulher com princípios imponentes, revestida com armadura de titânio, era um ser fraco. Tão frágil quanto um cristal exposto a circunstâncias perigosas. 

Jogou o carro para o acostamento e pôs o veículo no ponto morto, depositando sua testa sobre o volante. Chorou como nunca havia feito antes. Por que ele tinha que ser assim? Tão imaturo e cabeça dura? Tão cego e estupidamente apaixonado por alguém que ele mal sabia a real história? Claro que Sarah possuía culpa, ela simplesmente reapareceu inundando de dúvidas as mentes de todos que conheciam seu sofrido acidente. Mas, Ashley jamais conseguiria perdoá-lo... Apesar da situação em que toda a briga havia se realizado, ele não possuía a mínima autoridade sobre o que ela deveria ou não deixar de fazer. E aquilo doía até mais do que um tiro certeiro em seu coração e o que mais lhe incomodava era o fato da indiferença que John Cowen utilizou para lhe dispensar. 

Ergueu a face olhando fixamente para a pista que se estendia em sua frente. Livrou-se do acúmulo de lágrimas esfregando os olhos com as costas de suas mãos; não poderia fraquejar assim. Nenhum homem era capaz de atingi-la tão cruelmente a ponto de deixá-la num estado lamentável como aquele... Chorar por ter sido dispensada? Fez um movimento negativo com a cabeça e trocou a marcha, entrando na rota que deveria seguir. Precisava colocar os pensamentos em ordem e uma boa dose de whisky. Sabia perfeitamente quem lhe abrigaria naquele momento de transtorno emocional... 

Precisava encontrar Garrett.

— Sua hora vai chegar, Sarah — murmurou para si. — E a sua também, Agente John Cowen. 

{...}

Tocou a companhia diversas vezes, sem prestar atenção no que realmente estava fazendo. Só precisava desabafar com alguém, precisava expor seus pensamentos confusos e tomar boas doses de algum líquido forte, que a fizesse entrar num estado anestésico para se livrar da dor que sentia. Garrett demorou mais alguns minutos para abrir a porta, mas finalmente o fez dando passagem para que a amiga pudesse entrar; sem muitas delongas, ela invadiu o apartamento do rapaz como um raio e posicionou-se próxima a mesa que possuía uns três diferentes tipos de bebidas alcoólicas. Tomou o copo cristalino em mãos e despejou ali o que mais tarde lhe causaria um profundo sono. O homem estava parado, encarando a coluna da loura que ainda não havia pronunciado nenhuma palavra sequer... Ele a conhecia muito bem e amizade que construíram não fora sobre qualquer suspeita de envolvimento sexual. Eles se davam bem, compartilhavam os mesmos problemas e sabiam perfeitamente como se aconselharem. 

— Ela está viva Garrett — disse num tom baixo, lutando para que as lágrimas não caíssem mais. — Eu já possuía suspeitas, mas no fundo eu queria que elas... Não se concretizassem.

— Do que está falando, Ashley? — ele questionou aproximando-se alguns passos. — Você chegou completamente desnorteada aqui, eu estou realmente preocupado.

— Tanta coisa aconteceu — ela virou-se o encarando. Os olhos esverdeados estavam distantes, escuros e cansados. — Mas, o que realmente importa no momento é que Sarah Linoy está viva. 

Garrett hesitou antes de continuar; a informação não estava sendo processada com clareza pelo seu cérebro e teve que sentar na poltrona próxima para não cair no chão. Então todas as hipóteses de sua companheira, todos os diálogos trocados e a autópsia obtida estavam completamente corretos acerca do acontecimento... A mulher de John nunca morreu, aliás, ela sempre esteve bastante viva apenas observando todos se movimentarem em prol de um corpo que não era dela. O homem ergueu os olhos até ela e deu um sorriso abobalhado, como se tudo aquilo não passasse de um mero mal entendido.

— Acredite, eu também tive a mesma reação quando a vi entrando no apartamento do agente 027 — evitou pronunciar o nome do rapaz. — Você precisava ver a cara de pau daquela vadia...

— Calma aí — ele ergueu-se unindo as sobrancelhas. — Você estava no apartamento do John? Ashley Sullivan no apartamento de John Cowen?

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora