17 | pratos limpos

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— Você foi incrível!

Garrett ainda não havia conseguido conter as gargalhadas que vinham quando relembrava as palavras de sua mais nova companheira para John. Era bastante agradável vê-lo numa situação como aquela: um beco sem saída, no caso do que havia acontecido, num beco sem palavras. Ashley estava com o quadril encostado na mesa de sua sala, o braço cruzado e encarava fixamente um ponto qualquer no chão; algum ponto que a estava levando para um universo completamente diferente da realidade que vivia. E esse universo tinha nome e sobrenome. Apesar das palavras irônicas trocadas e do sarcasmo envolvendo a situação, ela sentia seu coração aquecer como um carvão em brasa sempre que o encontrava. O jeito com que ele a olhava, o sorriso cínico brotando no canto dos lábios e a barba camuflando sua pele lisa. Ela sorriu e relembrou os diálogos que foram acontecendo e a tiravam do sério de uma forma que apenas John Cowen conseguia exercer.


"— Preciso leva-la até a porta? — disse sem ao menos expressar nenhuma vontade em suas palavras. 

— Seu cavalheirismo me comove, sabia?"

(...)

"— Eu deveria ganhar uma medalha por ter que aturá-lo — ultrapassou o corpo do homem embriagando-se com aquele forte perfume amadeirado. 

— Ah, claro — ele gargalhou inclinando a cabeça para trás. — Você tem algum tipo de obsessão por medalhas ou o presidente é seu melhor amigo?"


O sorriso não poderia ser mais sincero do que aquele desenhado nos lábios rosados da loura. O quanto ela desejava aquilo de volta não era capaz de medir, mas de uma coisa possuía absoluta certeza: não deixaria que nada lhe tirasse aquelas lembranças. Nem a máquina mais avançada seria capaz de arrancar o que ela mais prezava em sua mente: suas recordações. Talvez fossem os motivos pelo qual ainda continuava se preocupando com o caso que o Departamento havia lhe entregado. Por tudo que havia acontecido, ela poderia simplesmente ter lavado suas mãos em relação aquilo. John não merecia sua dedicação, mas Benjamin sim e ela faria aquilo por ele. Ninguém mais.

— Eu tenho mesmo que ficar presenciando isso? — Garrett alteou a voz despertando a mulher de seu pequeno devaneio. Ela uniu as sobrancelhas sem entender a pergunta. — Esse seu sorriso apaixonado...

— Você está louco? Que sorriso? Do que está falando? — desconversou afastando-se de onde estava. 

— É quase impossível não perceber o quanto você é apaixonada por esse cara, Ashley. Não adianta negar — não havia sorrisos em Garrett e a loura sabia perfeitamente que aquela conversa estava na seção "verdades e mentiras" do homem.

— Eu não sou apaixonada por ele! Pelo o amor de Deus, você vai começar com essa história mesmo? — questionou bastante irritada. 

— Certo e você foi apenas fazer uma visita para ele ontem — ironizou cruzando os braços. 

— Tudo bem, você venceu. — ela inspirou tentando controlar as emoções. — Nós íamos passar uma noite juntos. Uma única noite. Um encontro casual, sem obrigações e responsabilidades. Só que a Sarah chegou! Ele tem uma mulher, a mãe do filho dele cara...

— Para de mentir para si mesma, Ash. — Garrett suspendeu as sobrancelhas observando atentamente a companheira. — Você sabe que seria mais do que uma noite.

— Eu sei, eu mais do que ninguém sei que seria mais do que uma simples noite Garrett — Ashley manteve-se com o semblante enigmático. — Mas não aconteceu. E todo o futuro que eu poderia vir a ter com o John, acabou no instante em que ele me pôs para fora da casa dele. E por favor, não insista nesse assunto.

— Tudo bem — ele ergueu as mãos demonstrando rendição. Não continuaria a discutir, por mais que ela tentasse negar, ele sabia que a ferida ainda demoraria tempo para cicatrizar. — Uma última coisa, se me permite...

— Pode falar — deu de ombros.

— O John é um homem cego, frágil apesar de não aparentar. Eu convivi poucas vezes com ele, mas lembro-me bem da época que a Sarah foi dada como morta. E ele morreu junto, entende? Nunca vi um homem tão devastado como naqueles anos, a aparência desgastada, o hálito de álcool sentido de longe. Ele só precisa de um apoio.

— Ele precisa de um saco de pancadas — ela exclamou debochando das palavras ditas. — E fantasticamente eu fui à escolhida! Por acaso ele te pagou para você vir fazer esse teatrinho? Eu só quero seguir minha vida e resolver logo esse caso. Tudo bem? Chega disso, chega de discussões sobre esse "homem sentimental". — ela gesticulou aspas com as mãos e saiu da sala, batendo a porta fortemente.

O que Garrett não sabia é que Ashley já conhecia a história de John e isso a machucava tanto quanto o que ele havia feito no dia anterior. Mas ela não se deixaria levar pelos sentimentos de piedade e culpa. Ele colheria o que plantou e ela seria a causadora de tudo.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora