21 | sem respostas

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O apartamento estava completamente revirado. Ashley tinha prendido a respiração por alguns segundos, mas agora já se encontrava dentro do local analisando minuciosamente todos os objetos que estavam fora do lugar. John apenas a acompanhava, sua mente fervilhando. Cacos de vidro, cortinas rasgadas, duas pequenas mesas de madeira completamente destroçadas no centro do que antes deveria ser a sala. Se entreolharam por um minuto e logo depois continuaram a análise; o agente se encaminhou pelo curto corredor que havia ali e deu uma breve olhada no único quarto e logo depois no banheiro.

— Que estranho... — foi a única coisa que a loira conseguiu dizer. Ainda encarava com atenção o ambiente destruído.

— Você acha que... — John iniciou desviando o corpo dos moveis que estavam pelo caminho. — Ele pode ter arranjado algum problema?

— Não sei — respondeu de imediato. — É melhor chamarmos a equipe forense, não quero por a minha mão em nada aqui.

O homem afirmou com um aceno de cabeça e logo puxou o seu celular do bolso, discando o número que tanto tinha utilizado nos últimos anos.

(...)

Trinta minutos depois o local já estava repleto de especialistas do Departamento, recolhendo qualquer resquício que pudesse explicar o que havia acontecido ali. Ashley mantinha um semblante preocupado, sua mente estava a ponto de explodir tentando encaixar algumas peças de seu quebra-cabeça particular. Era terrivelmente agoniante ter milhões de explicações, mas não poder compartilhar o que estava pensando com o seu companheiro de trabalho; não que ela tivesse vontade de fazer isso, mas no momento era a única pessoa que estava próxima o bastante. A cinco passos, para ser mais exata.

John também parecia perdido em suas teorias. Mas, na realidade ele estava apenas exausto demais com tudo o que vinha acontecendo. Será que encontrariam alguma pista ali? Estava ciente de que Harry era o principal suspeito, afinal, ele havia invadido sua casa para pegar fotografias de Benjamin para coloca-las na cena do crime. Mas, para que tudo aquilo? Havia algo mais a ser explicado? Por que tudo parecia fora de seu controle? Queria, de algum modo prático e rápido, acabar com todas aquelas perguntas que lhe pairavam sobre a mente. Deixou um suspiro baixo escapar e coçou a sobrancelha, como se o ato pudesse tranquiliza-lo.

Mais minutos se passaram e agora os dois estavam fora do prédio, ambos encostados no carro conversível de John. Nenhuma palavra fora trocada desde então, como se soubessem que não havia nada para ser dito. Aquela falta de explicações começava a deixar Ashley incomodada, até mesmo um pouco furiosa; odiava ter que ficar de mãos atadas, odiava o fato daquele caso está longe demais para ser desvendado e nesse ponto o homem ao seu lado concordava plenamente, mesmo que não houvesse esboçado nenhum tipo de emoção.

Um rapaz de cabelos castanhos aproximou-se do "casal".

— Infelizmente não encontramos nenhuma informação relevante — comentou com sua voz fina. — Apenas as digitais do senhor Harry por toda a parte, o que indica que foi o próprio quem destruiu o apartamento.

— Por que diabos ele faria isso?! — John uniu as sobrancelhas, perguntado mais para si mesmo do que para o rapaz.

— Talvez ele tenha tido algum acesso de fúria — Ashley comentou, a voz demonstrava insatisfação. — Serio que só encontraram isso? Nenhuma gota de sangue? Digitais de outra pessoa? Qualquer coisa!

— Infelizmente não — o rapaz parecia realmente abatido diante das circunstancias.

— Certo — ela esboçou um sorriso forçado e logo depois o homem se retirou.

Novamente o silêncio se instalou. O céu de Nova Iorque começava a adquirir tons alaranjados, a hora havia passado de forma lenta e apática e o movimento começava a aumentar, mesmo naquele ponto distante do centro. Ashley inspirou algumas vezes e logo depois se moveu para dentro do carro; John a acompanhou com os olhos azuis opacos e fez o mesmo, ligando o automóvel em seguida. Mesmo na ausência de palavras, ambos podiam sentir a exaustão que seus corpos faziam questão em demonstrar; talvez precisassem urgentemente de uma semana de férias. Ou meses. Mas, não.... Um alerta sempre fazia-nos lembrar que era a vida do pequeno Ben que estava em jogo e só de pensar John sentia um soco lhe atingir o estomago. Por que logo ele?! Logo o seu filho? Que nada tinha a ver com todo o mundo que ele escolhera participar.

— Preciso de um drink — o homem disse, alto o bastante para que a companheira ouvisse.

— Eu estava pensando a mesma coisa, senhor Cowen — Ashley o olhou brevemente, com um sorriso cansado no canto dos lábios.

(...)

O trânsito estava um caos. Já se passavam das oito da noite quando Ashley e John conseguiram alcançar o estacionamento do Departamento nove; a loira ainda teve de aguentar o rapaz se afastando alguns metros para dar um telefonema importante, o que significava dar alguma satisfação para sua amada mulher fantasminha. Quando o rapaz voltou, a agente já não se encontrava onde ele a havia deixado e então adentrou o local indo em direção a sua sala.

Retirou o blazer, o jogando em qualquer lugar da sala e afrouxou sua gravata cinza. Estava indo em direção a sua poltrona favorita quando notou que a sua porta se abrira; encarou uma Ashley diferente em sua porta. Uma Ashley que levava em sua face um sorriso indecifrável. Em sua mão direita havia uma garrafa de whisky e na esquerda dois copos americanos que com certeza foram retirados da cozinha.

— Ainda precisa de um drink? — ela deu alguns passos, demonstrando uma confiança que fez o corpo de John reagir a aproximação.

— Mais do que nunca.

Ele caminhou em sua direção e antes que Ashley pudesse se arrepender do que havia proposto, ele fechou a porta de madeira atrás dela. Aquela seria uma noite longa. Talvez a maior de suas vidas. 

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora