31 | medos

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Havia se passado trinta minutos desde que chegaram ao apartamento de John. Era doloroso demais ter que adentrar o local e não notar a presença irradiante do pequeno Benjamin e se estava sendo difícil para Ashley, ela não ousou imaginar o quanto estava doendo em seu companheiro. Estava na cozinha preparando sanduíche e suco para o homem, afinal, não era necessário ser uma especialista para notar o quão abatido ele estava; olheiras profundas, boca ressecada, as pequenas rugas no canto dos olhos mais realçadas do que nunca. Ele estava um trapo e a loira não poderia deixá-lo daquela forma. Não estavam em vantagem para perder um soldado durante a guerra. Deixou um suspiro baixo escapar e terminou de colocar o líquido alaranjado numa jarra dessas de vidro, pôs o sanduíche num prato de porcelana e posicionou os utensílios sobre o balcão da cozinha. Logo depois, John invadiu o ambiente completamente renovado, Ashley não pôde deixar de notar o cheiro incrivelmente fresco que exalava de sua pele. O agente trajava apenas uma calça jeans, a toalha ainda estava pendurada sobre o ombro e enxugava os cabelos de forma desordenada. Ela riu.

— O que foi? — o rapaz questionou aproximando-se da bancada.

— Nada — desconversou, levando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha. — É bom tomar um banho, às vezes.

— Tem razão — confessou intrigado com o pequeno lanche a sua frente. Arqueou a sobrancelha em dúvida. — Você que fez?

— Não vejo mais ninguém aqui — Ashley debochou.

— Então eu devo um obrigado... — John sorriu dando uma mordida exageradamente grande no sanduíche, prosseguiu com a boca cheia. — Está uma delícia.

Ashley apenas assentiu com a cabeça e antes que pudesse começar a despejar algumas de suas teorias sobre o paradeiro de Benjamin, sentiu o celular vibrar. Tomou o aparelho em mãos e congelou quando começou a ler o conteúdo da mensagem que havia chegado:

Rua St. Brooklin, beco número 6.

Prédio de tijolos.

Venha sozinha, ou o garoto morre.

A agente sentiu o coração tomar um impulso repentino e os batimentos agora pareciam extremamente descontrolados; um gosto amargo invadiu sua boca, o arrepio na espinha lhe causando uma tontura forte, por um momento pensou que fosse desmaiar ali mesmo. Deveria se controlar, precisava se controlar... Vamos, Ashley. Não soube por quanto tempo ficou encarando o celular, mas seu plano brilhante em disfarçar as suas sensações havia ido por água abaixo. John já estava observando tudo, o sanduíche havia ficado pela metade no prato e não precisou de mais tempo para perceber que havia algo de errado acontecendo.

— O que houve? — questionou tomando a atenção da mulher para si. Os olhos verdes da mesma estavam marejados.

— Nada — respondeu depressa, forçando um sorriso. — Uma mensagem do Garrett.

— Você mente muito mal — John retrucou desconfiado. — Desde quando fica tão abalada com uma mensagem daquele cara?

— Abalada? — inspirou tentando parecer o mais calma possível. — Ora, John. Só fiquei surpresa pelo conteúdo da mensagem, mas nada que seja do seu interesse.

— E o que Garrett vai achar da namoradinha dele tá no apartamento de outro homem? — ele pôs um sorriso no canto dos lábios e deu novamente outra mordida em seu sanduíche.

— Nada — sentiu um calor alcançar seu rosto. — Eu não devo satisfações a ele. E muito menos a você, agora quer calar a boca, por favor?!

Antes que John pudesse emitir mais uma de suas piadas, a mulher partiu em direção a sala tentando conter o misto de emoções que havia lhe alcançado no último instante. Seu coração ainda batia fortemente, seu corpo parecia fraquejar a cada minuto em que insistia em reler a mensagem. O que ela deveria fazer? Ir sozinha? Sem nenhuma cobertura? O que aquela maldita mulher queria? Certamente não estava nos planos manter Ashley viva, muito menos Benjamin. As perguntas vinham como uma enchorrada, sua cabeça explodiria em alguns segundos. Despertou de seu transe quando notou a aproximação de John. Ela sabia que não havia convencido o homem com aquela conversa ridícula sobre o Garrett, culpou-se grandemente por não ter elaborado uma resposta melhor.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora