03 | caso irrecuperável

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Sua cabeça havia amanhecido com uma dor alucinante lhe invadindo os extremos, tomou em mãos dois comprimidos para enxaquecas e os engoliu com um grande copo d'agua. Já havia amanhecido, mas a sensação que possuía era que mal conseguira dormir uma hora em seu sofá, já que não se adequava corretamente nos formatos de sua cama. Colocara Ben para dormir depois de assistir a dois filmes sobre mágica e heróis que salvam o mundo com apenas alguns poderes sobrenaturais. 

Encaminhou-se para o fogão e iniciou sua luta contra a frigideira na inútil tentativa de fritar algumas panquecas; a diarista levava muito trabalho para retirar a quantidade de gordura instaurada naquele eletrodoméstico, John nunca aprendera realmente a lidar com aqueles "monstros preparadores de comidas" como o próprio dizia. Depois de uns trinta minutos retirou um amontoado de massas que de longe, não possuíam o formato de um círculo como somos acostumados a ver em filmes de romance – quando o mocinho prepara um delicioso café da manhã para sua amada.

— Que cheiro é esse? — Ben surgiu com a sua rotineira roupa de dormir maior que o corpo, apressou os passos sentando-se em uma das quatro cadeiras em volta da mesa. — O que tem hoje para o café, papai?

— Bom dia garotão — John sorriu despejando em seu prato uma possível tentativa de panquecas. O pequeno franziu o cenho encarando o que estava a sua frente. — São panquecas!

— Isso é uma panqueca? — tomou a refeição em mãos analisando cuidadosamente cada parte. — Não parece...

— Vamos filho — o homem pegou um pote de caramelo e derramou uma boa quantidade sobre o seu prato — Está uma delicia! Coloque um pouco de caramelo e...

— Experimente o senhor primeiro — pediu com um sorriso debochado nos lábios rosados. 

John encarou friamente o seu prato e novamente desviou o olhar para o filho que aguardava ansiosamente pela aprovação do mais velho. Depois de alguns segundos observando sua comida, deu uma leve mordida. O sabor estava tão horripilante que se segurou para não vomitar tudo o que havia comido na noite anterior sobre a mesa, dirigiu-se até a pia e cuspiu o pedaço que estava entalado em sua garganta. Escutou uma risada inocente invadir o silêncio da cozinha e acompanhou o filho na diversão que fora experimentar aquela refeição preparada com tanto... Amor.

— Acho melhor a gente comer no McDonald's — sugeriu erguendo ambos os braços numa comemoração contagiante.

— Você venceu.

Com uma animação que apenas Ben conseguia impor a John, vestiram-se com suas respectivas roupas e foram em direção ao fast-food que ficava a alguns poucos metros da escola de seu filho. Logo depois se despediram e o mais velho partiu em direção ao Departamento 9.

{...}

Adentrou o local de seu trabalho sem muita simpatia com aqueles que estavam perambulando pela porta; deu uma ultima checada em sua gravata azul marinho e esboçou um sorriso no canto dos lábios, aprovando todo o seu conjunto físico. Derramou algumas palavras matinais para dois agentes que se apropriavam de armas de fogo em uma sala de vidro que ficava a esquerda dos escritórios, avistou a Senhora Woody em seu lugar de sempre e lhe cumprimentou com um aceno longínquo de mãos. Enquanto caminhava percebia com incrível facilidade – novamente, olhares sendo derramados pelas suas costas. Aquela rotina já o estava deixando desconfortável e tentou manter sua mente ocupada com algumas lembranças sórdidas enquanto virava a direita, passando por algumas mesas ocupadas por empregadores do FBI.

— Senhor John? — escutou uma voz fina entoar seu nome, virou-se observando Lisa Hardy com o seu típico visual de meia-idade. — Alguém lhe espera em sua sala.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora