15 | o sabor amargo do adeus

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Se fosse possível, os dois corações descompensados que pulsavam dentro daquela sala poderiam ser escutados. O clima havia se transformado apenas com as três velas avermelhadas que haviam sido acesas por aquele homem atônito, havia um sentimento tenso pairando por entre as chamas que correspondiam facilmente à situação em que se encontravam seus corpos. O silêncio se instalou logo após a última frase que Ashley havia dito, estavam discutindo sobre o quão Benjamin se tornava adorável a cada dia que passava; o carinho que o pequeno demonstrava para com Ashley era incrível. Assim que a moça adentrou o cômodo aquele ser de cabelos claros se pôs a andar rapidamente, encontrando os braços da loura abertos para um receptivo abraço. Depois dos minutos intensos trocando frases de elogios a criança, John foi até a bancada de sua cozinha e pegou a garrafa de vinho que ele havia pedido especialmente para aquele momento. 

Não que fosse uma situação estranha, mas estar na presença de Ashley Sullivan depois de tantas ofensas trocadas era uma surpresa tremenda, daquelas que apenas o destino é capaz de proporcionar. É aquela velha história... Muito ódio acaba se transformando em amor. John não possuía convicção de seus sentimentos em relação àquela mulher, mas já estava ciente que ultrapassava os limites de uma simples atração. Ainda observava com admiração a beleza que estava a sua frente; ela havia se transformado. Completamente diferente daquela mulher com muros de concreto a sua volta, cheia de palavras ácidas e com um ar superior repugnante, agora ela era apenas uma... Mulher. Vulnerável. Misteriosa. Com um olhar tímido e ao mesmo tempo marcante. Das mais lindas que ele já havia visto. Ela aparentava uma tranquilidade tão gostosa de ter por perto que o agente teve a súbita vontade de guardá-la consigo para sempre.

— Você está tão quieto — Ashley quebrou o silêncio tomando um gole de sua bebida. — Normalmente eu preciso fazê-lo calar a boca.

— Você não perde a oportunidade não é senhorita Sullivan? — brincou observando-a.

Estavam separados por alguns poucos centímetros, a mulher parecia vasculhar todos os detalhes do apartamento de seu companheiro. Sua pele alva esquentava à medida que o tempo corria no relógio; sentia o sangue percorrer toda a extensão de seu corpo e a cada silêncio que se fazia, mais nervosa parecia ficar. Como uma típica adolescente.

— Até que seu gosto para decoração não é tão horroroso — caminhou deslizando sua mão livre por um artefato de vidro que enfeitava o móvel.

— Contratei um designer — ele a acompanhou com os olhos. — Não tenho paciência para lidar com isso.

— Não apenas com isso — um sorriso provocador desenhou os lábios vermelhos da loura. — Aliás, conseguiu conversar com o Benjamin a respeito dos objetos?

— Não acho que seja o melhor momento para conversarmos sobre esse assunto — sugeriu dando alguns passos, numa aproximação lenta.

— Tem alguma outra sugestão?

— Várias — os corpos já estavam numa distância mínima, o que fez a respiração da mulher travar por instantes. — Não sei se você irá gostar... Somos muito diferentes.

— Por que não tenta?

A mão áspera de John se encaixou perfeitamente a costa nua da mulher que pôde sentir imediatamente seu corpo reagir ao toque; lentamente ele uniu a parte frontal de seu tronco ao de Ashley, explorando de forma delicada a região livre de sua nuca. Ele pôde observar o arrepio se mostrando da forma mais prazerosa na pele pálida e suave de sua companheira, que depositou a taça que carregava sobre o cômodo que havia ao seu lado. Sua mão antes livre, agora se mostrava ocupada demais percorrendo toda a extensão da coluna bem desenhada do agente; o calor aumentava na medida em que as investidas tornavam-se mais acesas e desesperadas, como se o mundo estivesse entrando num conflito nuclear e aquela era a última chance que lhes restava. John cessou seus movimentos no pescoço de Ashley e passou a encará-la, fitando com desejo os lábios vermelhos entreabertos. Pareciam dizer por conta própria o quanto desejavam se livrar daquele batom intenso que marcava a face da moça; e num movimento quase imperceptível ele aproximou-se, beijando-a com ternura e cuidado.

O quanto ela aguardou por aquilo não fazia ideia, mas aquele beijo estava sendo marcado por uma diferença de sentimentos absurda. Enquanto os outros vinham repletos de confusão, brigas e palavras desnecessárias... Esse possuía silêncio. Um silêncio tão revelador quanto conversas ditas pelas metades. 

Ashley o queria tanto, tanto, tanto. John a desejava na mesma intensidade. E aquilo o estava deixando louco.

Puxou-a para mais perto, causando espasmos de prazer pelo corpo da loura. O beijo tornava-se mais acentuado e rápido a cada minuto que se seguia no relógio e o destino daqueles corpos em chamas estava mais do que certo naquele instante. O rapaz inclinou-se, pressionando o frágil corpo na parede da sala; a perna de Ashley fora puxada, tendo sua coxa totalmente explorada pelo toque fervoroso do companheiro. Ele a pressionava com vontade e excitação, temendo que aquele momento acabasse de alguma forma; pausaram os movimentos, mantendo os olhares conectados por uma onda de desejo, respirações ofegantes e sorrisos nervosos.

— Você lembra quando eu disse que existia 1% de chance de não jantarmos? — ele questionou abrindo um largo sorriso para a mulher que o acompanhou.

— Não foi exatamente assim — respondeu observando a expressão confusa que se formou na face de John. — Lembro-me de ouvir algo sobre irmos parar em sua cama.

Ele encaixou o rosto da mulher entre suas mãos enquanto, novamente, sorria para ela. Ashley costumava causar esse efeito sobre o agente, fazê-lo rir. Como se houvesse encontrado o diamante mais precioso.

— Não quero forçar você a nada — sussurrou.
— Por que você não deixa seu lado romântico para amanhã, senhor Cowen?
— Quanta acidez, senhorita Sullivan — arqueou a sobrancelha provocando-a.
— Estou aprendendo com um companheiro de trabalho.

Antes que pudessem voltar ao beijo, a companhia soou pelo apartamento.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora