28 | sequestro

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Trinta minutos haviam se passado desde que Sarah abandonou a agente naquele galpão com os dois homens encapuzados que contratara; agora, apenas uma mulher coberta de hematomas e sangue se encontrava ali. Estava de busto, os olhos verdes apertados devido ao inchaço que começava a surgir. O líquido vermelho escorria pelo nariz, boca e outras partes que ainda não conseguia se importar devido a dor cruciante que pulsava pelos locais atingidos. Ela estava morrendo? Ou já teria morrido? O gosto de ferro lhe causava ânsia, teve vontade de chorar e foi isso que fez. As lágrimas rolando por sua face machucada se misturava com o sangue presente; chorava por diversos motivos, mas o principal a estava maltratando mais do que aquela maldita surra.

Enquanto mantinha-se imóvel, alguém estava se preparando para sequestrar Benjamin. E o que ela poderia fazer? Tudo doía. Não conseguiria encarar uma rodovia sem pelo menos perder o controle do carro e provocar um acidente. Chorou ainda mais. Como ela deixou-se levar tanto por suas emoções? Agora estava sozinha e o máximo que conseguia fazer era lamentar-se por suas escolhas erradas. Seu corpo tremia; precisava de controle. Inspirou profundamente, sentindo os pulmões queimarem – consequência de costela fraturada que um dos homens fizera questão de deixar. Ergueu-se com extrema dificuldade, apoiando-se em um dos containers próximos a ela. Levou a mão ao estomago... Dor. Retirou o celular do bolso da jaqueta e discou o número de Garrett.

— Ashley?! — o ouviu chamar preocupado. — Onde você está?

— O Benjamin — sussurrou. A voz embargada. — Você precisa avisar ao John. Eles vão pegar o Benjamin.

— O que você está falando? — ele pareceu confuso. — Estou rastreando sua ligação, fique calma.

— Não! — Ashley tentou, mas a ligação já havia sido interrompida.

(...)

Aula de artes novamente. A professora Clara estabelecia algumas regras em classe para que as crianças não formassem um furacão por ali; escreveu algumas sequencias de números no quadro e na frente dos respectivos, algumas anotações para que todos se acalmassem. Ben estava unido a mais dois garotos, seus fieis amigos – como costumavam dizer ao outro. Os cabelos louros estavam caídos sobre a testa, sua animação estava incontrolável e recebera algumas broncas das próprias amiguinhas de sala.

Retirando-se do canto em que estava partiu em direção a professora, a puxou pela blusa e pediu gentilmente para ir ao bebedouro. Apesar da relutância da mulher, o pequeno parecia está mesmo necessitado por algumas gotas de água; sua insistência vencera e seu pedido fora concedido. Saiu às pressas da sala deixando para trás todos os colegas que estavam empenhados em desenhar qualquer coisa sobre a natureza em seus quadros de pinturas.

O corredor estava vazio, tão deserto quanto não costumava ser. Ben parecia está sendo engolido por aquela imensidão de paredes límpidas e colorido; apesar da pressa em chegar ao seu destino, cessou a velocidade de sua caminhada ao notar uma porta aberta. Era a porta onde os zeladores depositavam seus instrumentos de trabalho: rodos, baldes, produtos de limpeza, etc. A curiosidade infantil é algo realmente surpreendente, podendo trazer crescimento individual ou até mesmo um desenvolvimento incrível dentro do âmbito escolar. Mas, e o que poderia haver de errado em querer ir mais afundo sobre determinados assuntos ou lugares? Ah, é apenas um quarto onde são depositados objetos. Nada demais. Nada de menos.

Mais alguns passos. Mais perto. Com o toque suave de sua mão ele escancarou a porta e num grito sufocado, fora puxado para dentro. Agonia. Desespero. Ele mal sabia quais sentimentos estava sentindo, aliás... O que era desespero? O garoto se contorcia violentamente tentando livrar-se daquele corpo mil vezes mais forte do que o seu. Ele não sabia o que estava acontecendo, era algum tipo de brincadeira? Quem faria uma brincadeira feia daquelas? Clamou por seu pai. Precisava de seu pai, ele chegaria a qualquer momento e com um súbito surto de heroísmo o tiraria dali. Seu pai era um herói e ia resgatá-lo. Por que seu pai não chegava logo? Pai... Papai... Santo Deus, ele estava tentando gritar e não sabia o que fazer para que sua voz fosse escutada. A boca estava sendo abafada por algum tipo de pano e um cheiro inebriante lhe invadia a mente... Frágil. Cada vez mais frágil. Os olhos estavam sendo inundados por um mar de lágrimas que vinham à tona, sem cessar. As forças iam esvaindo-se com o passar daqueles segundos intermináveis, com a pouca coragem que lhe restava fechou os olhos. Sim, seu pai sempre fazia isso. Quando tiver um pesadelo feche os olhos... Conte até dez... E tudo irá passar. E passou. Ben caíra num sono tão profundo, quanto o escuro daquele quarto.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora