32 | sem saída

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— Me diz que você não ia esconder essa mensagem de mim.

John olhava agora fixamente sua companheira, que estava com os nervos alterados com a repentina mudança de expressão do homem. Sentiu o coração na boca quando ele apertou fortemente o aparelho na mão e por um segundo imaginou o objeto sendo estraçalhado contra uma parede qualquer; por quanto tempo ele aguentaria controlar sua raiva? Como ela ousou pensar em esconder aquilo dele? Era a vida do seu filho que estava em jogo, droga! Ergueu-se do sofá e deu alguns passos afastando-se da mulher. Não queria que aquilo estivesse acontecendo, não queria ter que iniciar o velho jogo de indiretas que sempre esteve presente na relação dos dois. Ashley mantinha-se inquieta, os pulmões estavam trabalhando num ritmo louco para recuperar o oxigênio que escapava sem permissão. Ela havia falhado, sabia disso... Mas, ele precisava entender. Ela tinha os seus motivos, não tinha?

— John, por favor... — iniciou com a voz trêmula.

— Você não tinha esse direito — ele murmurou andando impaciente pelo cômodo. Passou a mão livre pela cabeça. — Por que fez isso?

— Eu ia contar — ergueu-se acompanhando os passos do rapaz. — Eu fiquei confusa, mas já havia tomado minha decisão.

— Tem certeza? — John parou em frente a moça, olhando-a como se ela houvesse cometido um crime. — Você quer saber o que eu acho?

— John...

— Que você ia tentar bancar a heroína novamente — cuspiu as palavras antes que a agente se pronunciasse. — Quantas vezes você vai ter que apanhar para saber que não tem super-poderes? Que não pode resolver tudo sozinha? Pelo o amor de Deus, Ashley!

A loura ficou em silêncio, tentando digerir o que havia acabado de escutar e por mais que tentasse odiá-lo, não conseguiu. Ele estava coberto de razão. Inúmeras vezes ela tentou ajudar, mas sempre acabava atrapalhando mais... Era essa a visão que todos deveriam ter. Ashley Sullivan, a agente que não consegue resolver um problema sem causar consequências irreparáveis. Quantas vezes ela já havia apanhado por isso? Inspirou depois de alguns minutos, limpando a lágrima que rolou sem permissão pelo rosto; o que estava acontecendo com ela? Desde quando se importava com o que as pessoas pensavam a seu respeito? Aliás, fora indicada para esse caso justamente por sua competência e agora estava fraquejando diante de seu companheiro. John Cowen. Talvez esse nome fosse a resposta para tudo o que vinha acontecendo. Se alguém deveria ser culpado por aquela fragilidade repentina, seria ele.

— E o que vai fazer agora? — questionou quebrando o silêncio.

— Não parece óbvio? — ele riu nervoso. — Vou até o endereço, resgatar o meu filho.

— Sozinho? — arqueou a sobrancelha, aproximando-se devagar. — Quem tá bancando o herói agora?

— São situações diferentes — John sentiu a boca secar.

— Não, John — toda a fragilidade parecia ter ido embora quando alteou a voz. — São situações completamente iguais, porque nós dois somos iguais. Nós queremos provar para o mundo que podemos resolver qualquer coisa sem ajuda alguma, por isso estamos nos ferrando constantemente.

— Eu sou o pai dele — disse, visivelmente incomodado com as palavras ditas.

— O que isso importa agora? — deu de ombros. — Ele precisa de ajuda, independente de quem seja e nós somos os únicos que possuímos essa pista. — Ashley massageou a têmpora e voltou a olhar o homem. — Nós dois somos inteligentes, nós podemos bolar algo para tudo isso acabar da melhor forma.

John pareceu analisar aquelas palavras como se as mesmas estivessem numa vitrine e a oferta tentadora demais para ser recusada; desde que começara a trabalhar ao lado da loira, jamais dera o braço a torcer. Sempre estivera ocupado demais tentando não dar razão a tudo de certo que ela realizava, ocupado demais brincando de irritar a mais nova companheira. Ignorando todas as aversões, apenas afirmou com a cabeça concordando em acompanhá-la em qualquer plano que viesse a ter.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora