Duas semanas depois
John estava sentado em sua sala no Departamento nove, tentando a todo custo se concentrar na papelada que o diretor havia lhe entregado mais cedo. Foi terrivelmente estranho ter que retornar a sua rotina, quando na realidade, preferia estar infiltrado num quarto de hospital observando sua companheira que até o momento, não havia esboçado nenhum tipo de reação. A cada dia, sentia uma parte de sua alma sendo arrancada e massacrada; pedia desesperadamente que alguma divindade lhe desse forças para enfrentar tudo aquilo, para ser o suporte que Benjamin sempre necessitou durante os oitos anos de vida do garoto. Mas, estava fracassando da forma mais humilhante e sentia-se culpado por isso. Frustrado e sentindo a última gota de paciência indo embora, atirou todos os papeis ao chão, retirando-se logo em seguida daquele ambiente que estava sufocando seus pulmões. Caminhou pelo corredor, sem dar importância para os que estavam trabalhando e só parou quando adentrou sem permissão a sala de Frankie.
— John — o mais velho arqueou as sobrancelhas, desaprovando a petulância do rapaz ao entrar sem avisar. — Algum problema?
— O que você acha? — retrucou impaciente.
— Sei que está passando por um momento difícil, mas não há nada que possamos fazer agora — Frankie iniciou, pondo em prática anos de treino em se tratando do seu agente mais complexo. — Infelizmente, precisamos esperar.
— Duas semanas, Frankie — gesticulou com as mãos. — Duas semanas e a merda daquele hospital não deu nenhuma posição em relação a Ashley. Você acha isso normal?
— O que posso fazer? — uniu as sobrancelhas, inquisitório. — É um quadro grave, ás vezes uma pessoa passa anos em coma e...
— Não diga isso — interrompeu, sentindo o coração falhar com aquela hipótese.
Se entreolharem e Frankie soube o momento para se calar; sabia perfeitamente como estava sendo aquela situação para John, pois já havia visto ele passando por algo semelhante anos atrás, quando Sarah ainda possuía um conceito positivo entre os funcionários do Departamento. Acontece que, naquela época, o rapaz teve o seu momento de luto que durou pouco mais de um mês e logo depois já estava na ativa, pondo toda a sua habilidade em prática; hoje, Frankie tinha a nítida sensação que se o pior viesse a acontecer com Ashley, ele não perderia apenas um soldado... Mas, dois. John Cowen não aguentaria a perca.
Ciente de que não conseguiria ajuda, John balançou a cabeça negativamente e abandonou o diretor em sua sala, seguindo direto para o estacionamento onde entrou em seu carro, dando partida pela cidade. Não sabia mais o que pensar, nem ao menos sentir; novamente sentiu-se inútil. A brisa tocando-lhe a face seria o remédio perfeito para a resolução de seus problemas, se a imagem de Ashley deitada na cama do hospital não viesse como facadas em seu peito a cada minuto. Fechou os olhos num segundo e os abriu novamente, acelerando cada vez mais o veículo. Queria ir para algum lugar onde tudo sumisse completamente, onde todo o sofrimento fosse arrancado de suas entranhas e dissipado pelo tempo. Desejou isso inúmeras vezes nos últimos quinze dias, sempre que deitava a cabeça no travesseiro e notava um peso de mil toneladas esmagando seu cérebro; na madrugada, quando já não aguentava mais aquela dor aguda invadindo as partes de sua mente, assemelhava-se a um andarilho pela própria casa, observando cada detalhe dos móveis, as texturas da persianas e o sono inocente do filho. Em um desses dias de lamúria, tomou coragem e sentou-se na ponta da cama do garoto e despejou todos os sofrimentos que lhe estavam arrancando a vida; desculpou-se como nunca havia feito e depositou um beijo na testa do pequeno que dormia como pedra.
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AGENTE 027
Romance[book one] Dono de casos bem-sucedidos e medalhas de honraria, o agente especial do FBI, John Cowen, carrega consigo uma lista de qualidades - e outra de defeitos. Precisa administrar sua vida secreta com a responsabilidade de criar um filho sozinh...