A tarde chegara calmamente naquele dia, o Departamento estava em constante movimento como era de costume, mas algo inquietava Frankie em sua pequena sala arejada. O fato de o homem caído do helicóptero trabalhar em um bar situado no beco em que John encontrara Sarah pela primeira vez causava uma possibilidade de futuros problemas por ali. Ashley estava sentada a sua frente, em uma daquelas poltronas extremamente confortáveis. Fora chamada pelo Diretor por algum motivo que a mesma desconhecia. Pelas as expressões daquele homem sabia perfeitamente que se trataria de um assunto delicado, referente a alguém que ela já imaginava. Afinal, ele não estava presente ao seu como era para ser.
— Você é uma mulher inteligente, Ashley — ele iniciou com as mãos cruzadas e os cotovelos apoiados sobre a mesa. — Já deve ter percebido sobre quem quero falar.
— Sobre algum dos inúmeros defeitos do meu querido companheiro — ela desdenhou amarrando os cabelos louros em um rabo de cavalo mal feito.
— Vamos deixar as ironias para depois, por favor — seu tom de voz envolvia um misto de seriedade e ansiedade, um pouco de cautela. Soltou um suspiro antes de iniciar. — O John pode ter seus defeitos...
— Inúmeros, milhares, diversos — ela o interrompeu. Em troca recebera um olhar de reprovação.
— Ele tem aquele jeito deplorável de achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo, mas... — pausou parecendo vasculhar a mente em busca de palavras. — É bastante frágil quando tocamos no assunto da Sarah, sua mulher que faleceu.
— Acidente de carro, indo passar férias no Canadá — ela adiantou-se tomando uma postura diferente. — Já sei tudo a respeito desse caso, pelo que eu me lembro, não encontraram nenhum problema mecânico no carro ou algo assim. Estou certa?
— Sim, mas não estamos aqui para falar sobre os relatórios do caso — entregou-lhe uma folha com algumas palavras gravadas e uma foto do rapaz morto. — Esse homem do helicóptero... Trabalha em um bar próximo ao local onde o John conheceu a Sarah.
— Já estou sabendo disso — revirou os olhos como se receber aquele tipo de informação fosse uma perca total de tempo; não era descaso, talvez nervosismo. — É uma mera coincidência, pelo que eu saiba aquele beco é bem famoso por abrigar muitos criminosos.
— Isso é o que me preocupa... — Frankie encostou-se a sua poltrona e manteve as sobrancelhas suspensas, analisando cuidadosamente o que estava prestes a dizer ali. — O que a Sarah fazia naquele dezoito de julho, em plena madrugada... Naquele beco?
Ashley sentiu o peso de aquela frase deleitar-se sobre sua espinha; aquilo lhe causou certo desconforto e franziu o cenho tentando processar e acompanhar o raciocínio do Diretor. Com os olhos esverdeados ainda atentos, pôs sua observação em prática e revirou as laudas que possuía em mãos algumas vezes. O homem morto estava envolvido com contrabando de armas, drogas e até mesmo com um sequestro há dois anos... E qual o motivo dele está querendo assassinar ela e o próprio John? Deixou um baixo suspiro escapar e mirou o semblante de Frankie que deixava transbordar a sua aflição.
— O senhor acha que a Sarah era uma criminosa? — arriscou perguntar.
— Não! — exclamou repentinamente. — Aliás, não sei muita coisa a respeito dessa mulher... Só que o agente 027 a conheceu nesse beco. E soube também que ela estava acompanhada de um homem...
Bingo. Ashley deixou um sorriso irônico escapar e arqueou levemente sua sobrancelha esquerda analisando cuidadosamente a fisionomia que estava impressa naquela foto pequena no canto superior da folha. Talvez tivesse entendido perfeitamente onde o seu Diretor estava querendo chegar, todo aquele rodeio e cautela... Ergueu-se da cadeira em que estava e encaminhou-se para porta da sala.
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AGENTE 027
Romance[book one] Dono de casos bem-sucedidos e medalhas de honraria, o agente especial do FBI, John Cowen, carrega consigo uma lista de qualidades - e outra de defeitos. Precisa administrar sua vida secreta com a responsabilidade de criar um filho sozinh...