Capítulo 54

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A graça não depende da existência do sofrimento, mas onde há sofrimento você encontrará a graça de inúmeras maneiras.
A Cabana

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─ Diz que isso não é verdade. - falei, com a voz embargada. Eu fitava o chão, era o melhor lugar, onde eu podia olhar.
─ Kate... - falou, como se estivesse implorando para não receber uma sentença de morte.

Não, meu coração não estava em migalhas, ele já não existe mais, porque nem migalhas sobrou. Olhei para Benjamin que estava com um sorriso triunfante no rosto. Meu cérebro não raciocinava, eu queria apenas sumir. A única coisa que me vinha na cabeça era, CORRER. Eu o fiz, sem pensar duas vezes. A chuva, que cessou por um breve instante, voltou mais forte. A água que um dia foi boa, agora me impedia de correr. Ouvi gritos, de longe, fazendo-me estremecer, a violência dele, se tornava ainda mais assustador.

Tudo estava girando e minha cabeça latejava, eu parei de correr e tudo ficou negro. Eu apenas ouvia a chuva, não enxergava nada, me sentei onde quer que fosse, e gritei.

A dor me consumia.

Minhas mãos tremiam e meus soluços do choro era como avalanches, as lágrimas salgadas era do tamanho dos pingos da chuva, que ficava cada vez mais forte. Nada do que o meu corpo sentia chegava perto do quanto o meu coração doía, era como se tivesse uma mão arrancando os pedaços dele. Eu gritei novamente, forçando minhas cordas vocais, para ver se a dor dela, sufocaria a outra, mas era em vão.

A chuva abafava qualquer som que saía de mim, e eu agradeci aos céus por isso.

Minha visão foi voltando aos poucos, eu me levantei e vi o meu prédio de longe, não havia forças para ficar em pé, mas ainda assim fui andando, em passos de tartaruga. Meu corpo tremia, a chuva estava congelando até meus ossos. Eu me sentia como um zumbi, e quando entrei no prédio, todos me olharam como se eu literalmente fosse um. Ignorei todos os olhares e fui andando, com a água pingando de mim, fui em direção a Bella, que me olhou, estupefata.

─ O que fizeram com você? - perguntou ela assustada, quando largou seu posto e veio correndo até mim. Eu abri a boca para responder, mas a voz não saiu. ─ Shiii. - disse quando estava me esforçando a falar. ─ Não precisa falar nada, vou te levar para o apartamento. - falou e me conduziu até ele, eu a olhei grata, enquanto ela caminhava paciente comigo.

Ela colocou uma água quente e perfumada na banheira, me deixando a sós, e mais a vontade.

Entrei na água quente e no mesmo instante meu corpo relaxou, aquecer meu corpo novamente, era maravilhoso.

Ainda não acredito que meu mundo tenha virado dessa maneira, em alguns minutos. Eu simplesmente corri, deixando todos eles para trás, eu queria ignorar mas o grito ensurdecedor de Ian ecoava na minha mente prometendo nunca sair dali.

Assim que comecei a correr de lá, ele gritou ANJO, e no mesmo instante a chuva caiu. Era surreal que tudo isso tenha sido uma farsa, somente uma farsa!

Eu o escolhi e estou pagando por isso. Não havia mundo, tudo era o oceano em qual eu estava afogada, sem possibilidades de sair, e muito pior, sua correntezas faziam questão de quebrar ossos por ossos.

Eu queria tanto questionar a Deus! Queria perguntar mil porquês, mas isso não adiantaria. Muito pelo contrário iria piorar minha situação, porque se tem alguém que pode fazer essa dor sumir, nem que seja por milésimos, vai ser Ele!

Sai da banheira e coloquei um roupão, meu corpo gritava para continuar naquele água quente, mas não tinha condições, eu não aguentava tamanha dor.

No Tempo de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora