Capítulo 7

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- Parar? Por que?

- Na verdade eu queria olhar para os seus olhos - Ele riu colocando as suas mãos geladas em volta do meu rosto.

Não consegui falar nada, a chuva já se engrossava, e batia em meus ombros descobertos.

Ele chegou cada vez mais perto dos meus labios e em pouco tempo já estavam colados.

Aquele beijo havia sido diferente do que tivemos em meu quintal. Nesse, havia algo especial. Não sei se o clichê do beijo na chuva contribuiu de alguma forma, mas se havia sido diferente, havia.

Ele segurou em minha mão e me puxou pela chuva gelada e quando eu respirava via uma fumaça branca sair da minha boca.

- Vamos logo para casa. - Mike ainda sorria correndo pela chuva me puxando pela a sua mão.

Finalmente chegamos, mais rápido do que eu imaginava! Parecíamos voar pela chuva.

Ele se enrolou muito tentando pegar a chave o que me fez rir muito.

- Não ri não! - Ele riu entre palavras o que me fez rir mais ainda.

Finalmente ele abriu e entramos e ele fechou -a logo a traz.

Quando ele terminou se virou e me olhou com um sorriso. Nós estávamos completamente gelados e molhados, com certeza pegariamos uma pneumonia se demorassemos mais um pouco daquele jeito.

- Vou tomar banho - Anunciei o deixando na porta.

Mas, ele correu atrás de mim e me puxou.

- Eu também - Ele disse.

Sinto meu corpo já gelado, gelar ainda mais. Eu praticamente era uma geladeira.

Me afasto.

- Mike...

- Tá bom, pode ir...

Engulo em seco e vou até o banheiro. Tomo um banho quente que era para ser relaxante mas não consigo parar de pensar no que aconteceu hoje. Como pode o dia ter sido tão cheio de coisas tendo as mesmas 24 horas que todos os outros?

Deixo a água lavar o meu corpo e assim que saio, coloco o meu roupão que estava sempre lá e enrolo a toalha no cabelo.

Saio dali e sou recebida por Mike, sentado no chão, perto ao banheiro.

- Você parece uma criança assim, sabia?

- E você é quem nessa metáfora?

- Não sei. Devo ser a mãe.

- Não, você é a outra criança.

- Porque eu seria uma criança se não estou sentada no chão pateticamente?

- Quem disse que não está?

E então ele puxa a barra do meu roupão me fazendo desequilibrar e cair no chão ao seu lado.

- Quem é a criança agora? - Pergunta.

Dou uma risadinha.

- Vai tomar banho, Mike. Seu fedorento.

Ele revira os olhos.

- Você sabe que eu te amo, né?

- Ama? Essa é nova. Esqueceu tão rápido da loira do parque.

- Sério que você ainda tá nisso? - Ele de repente fica irritado. - Aff, Erika.

- O que foi? - Pergunto genuinamente confusa. A pouco tempo estava tudo bem!

- Eu deixo você ficar aqui quando sua mãe briga com você, cuido de você, a levo para passear num lugar que gosta e te dou amor. Por quê que você é assim, tão ingrata?

Ouço as palavras como um soco no coração. Tento evitar as lágrimas, mas elas escorrem.

- E agora quer pagar de vitima. Você é mesmo uma criança, Erika.

E então ele se levanta e vai em direção ao banheiro, me deixando sozinha no chão frio com as lagrimas escorrendo.

O ouço ligar o chuveiro mas não deixo o chão. Não consigo parar de pensar nisso.

Meu pai me abandonou. Minha mãe me odeia. Meus amigos não são muito próximos de mim. As pessoas da escola gostam de mim, mas me temem também.

A única pessoa que me deu valor foi Mike. A única. E eu estou desfazendo dele. Tão ingrata...

Eu sou uma pessoa horrível.

Me levanto do chão e sento no sofá.

Mike com certeza deve ter várias garotas loucas por ele, mas me escolheu mesmo assim. É assim que eu agradeço? Balanço a cabeça.

Assim que ele termina o banho e abre a porta, levando do sofá de súbito e o beijo.

- Mike, me desculpa! Eu faço o que você quiser! - Eu digo.

- Ah é, Erika? - Ele diz com a voz doce de sempre mas uma feição ainda séria.

- Qualquer coisa!

E então ele olha para o seu quarto.

- Qualquer coisa?

Balanço a cabeça ritmadamente.

- Então vem comigo.

Tudo aconteceu de forma rápida. Eu não sei explicar. Não sei como aquilo aconteceu. Eu queria mesmo? Não sei dizer. Só sei que tenho que agradar o Mike. Ele merece.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora