Capítulos 26

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Eu estava ansiosa. Sim, eu Erika Santos Barbosa estava completamente ansiosa. Fitava o relógio de minuto em minuto.

14:36

Estava roendo as unhas e isso não era um bom sinal. Eu nunca fiz isso e o fato da ansiedade estar se apossando do meu corpo a ponto de me fornecer novos costumes não era uma ideia legal. Claro que não era legal.

Eu estou em um laboratório ilegal, contra a lei sem corretísmo. É óbvio que isso não é legal.

A competência estava tentando me fazer desistir me falava toda hora coisas como: "O que Rita acharia disso?" Ou pior: "O que a Erika do terceiro colegial acharia disso?". Eu já não tenho muita ideia - aliais aquela Erika deixou de existir a muito tempo - mas de uma coisa eu tenho certeza e sei muito bem que não teria nada de orgulho e conseguia até ver ela a minha frente me dando um sermão que me deixaria com a consciência mais pesada que um elefante.

Bom. Eu já estava com a consciência mais pesada que um elefante mas não precisava de uma Erika para me lembrar do como estou prestes a fazer algo irracional.

Abracei a barriga percebendo que sentiria falta disso. Desse costume que adquiri de abraça -la sempre que me sentia inconsolável ou verdadeiramente triste. Parecia que eu era dependente dele e não eu.

Fitei as duas outras grávidas a minha frente. Nenhuma delas parecia tão sentimental quanto eu, não pareciam nem ao mínimo se importarem com o que estavam prestes a fazer. Pareciam simplesmente frias como se estivessem apenas a espera de um dentista que iria apenas checar se seus dentes andavam intactos, e já eu? Eu parecia estar na fila para um esquartejador.

__Senhorita Fontes, espero ter sido bem clara em questão das instruções.

A aparente senhorita Fontes revirou os olhos.

__Não se preocupe. Acredito veemente que irei hibernar por uma semana. Serei incapaz de estragar esse processo --- A observei sorrir cansada. Enorme olheiras negras circulavam os seus olhos e toda a sua pele estava sem brilho algum. Estava pálida e me vi sem quere pensando qual  era o tamanho de sua barriga.

Será que estava bem grande? Como as grávidas dos filmes, ou só rasa, talvez como a a minha? Tá, admito que a minha não é mais um exemplo de uma barriga rasa.

Mordi o lábio.

A Srta Fontes que estava sentada em uma cadeira de rodas, talvez pelo enorme cansaço,  foi empurrada até a porta. Antes dela sair passou a minha frente e a vi acariciar a própria barriga vazia. Uma lágrima solitária escorregou e só então notei o como ela era jovem.

Talvez da minha idade até. Engoli em seco segurando as lágrimas, andava muito emotiva.

Comecei a lacrimejar e não ousei piscar impedindo que elas caíssem.

__Srta. Franco, sala 16 --- Uma das grávidas se levantou indiferente levando consigo sua bolsa pequena.

Estava desesperada. Sofrendo um terrível conflito interno.

Me levantei correndo até o banheiro sem se importar que a qualquer momento iriam me chamar.

Assim que dentro me olhei no espelho e vi uma garota sozinha, opaca e vazia e só não solitária por causa daquela lombada na barriga esticando a mais larga das minhas camisetas e de repente perceber que eu poderia perder aquilo me fez ficar estramente depressiva.

Coloquei as duas palmas grudadas ao espelho enorme do banheiro enquanto me juntava a imagem refletida como se algum modo me mostrasse que aquilo que aparecia ali não era eu, mas era e eu sou cética o suficiente para saber disso.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora