Soltei um resmungo com um alto barulho que vinha do lado de fora. Virei o corpo ficando com a barriga para baixo tentando afogar o som no travesseiro mas o som continuava alarmante, até que eu me lembrei que estava longe de estar tranquila na minha cama na casa da Rita então me levantei exasperada - não sem antes bater a cabeça novamente na madeira do beliche.
__O que está acontecendo? --- Perguntei desesperada e as garotas pareciam igualmente inquisitivas.
__É o Marcos --- Disse Sofia tranquila demais para estar ocorrendo talvez um assalto do lado de fora, e como as outras garotas ignorei seu comentário até que...
Até que eu identifiquei o som.
Cheguei mais perto da porta tentando escutar algo e eu ouvi a sirene de um carro de polícia. Não só um, vários carros. Levei a mão a boca com um pulinho não conseguindo conter a felicidade.
__A polícia --- Falei em um único fôlego a nossa salvação.
As duas garotas da beliche ao lado se olharam com sorrisos entorpecidos de alegria.
__Tem certeza? --- Uma falou ainda sem acreditar.
Dei passagem a porta de forma exagerada e ela foi até lá colocando o ouvido e tirando rapidamente.
Seu sorriso preenchia o rosto todo e junto a amiga começaram a se abraçar com lágrimas.
__É o Marcos --- Sofia repetiu só que agora, com um pouco de impaciência.
Bufei cansada dos dramas de Sofia esperando ansiosa o momento em que aquela porta iria se abrir e meu sorriso aumentasse.
Até... até que um barulho alto ecoou e eu me senti estremecer. Tenho certeza que minha cor sumiu e ao tentar pronunciar alguma palavra senti minha boca secar com o segundo estrondo que se seguiu.
Gritos desesperados e passos descompassados eram ouvidos claramente mesmo que cobertos pela grossa porta do quarto.
__Tiros --- Sofia começou a chorar cortando finalmente o silêncio que se seguiu entre eu e as outras três garotas que foi como uma bandeira erguida para palavras desconexas e choros.
Eu continuava quieta. Paralisada. De onde veio o tiro? Torcia para ser da polícia mas eu já não tinha tanta certeza, pois os tiros continuavam junto a gritos. A maioria femininos, o que me trazia suspeitas delas já estarem soltas e o medo tomou forma, mais especificamente a minha forma.
__SAIAM! --- Os choros e lamentações foram interrompidos por um homem - um policial, a contar por suas roupas - que abriu a porta com um chute e apertava as duas mãos, uma segurava uma arma desajeitadamente e a outra apenas se segurava e vejo isso pelas gotículas de sangue que escorriam ao chão do nosso quarto. Ele parecia se esforçar para evitar uma careta de dor, talvez tentando nos acalmar, o que era um completo fracasso pois os barulhos - agora mais altos por causa da porta aberta --- traziam a realidade o medo desesperador se apossando de cada uma de nós ali. --- SAIAM! --- Repetiu exausto revisando olhares entre nós e as pessoas que corriam exasperadas do lado de fora.
Sofia se calou abruptamente fitando o lado de fora com um sorriso sinistro, logo correndo até o mesmo.
Ela estava louca?! Um tiroteio ocorria de forma descompassada, sem controle algum e ela simplesmente ia até lá como quem ia da sala para a cozinha.
__SOFIA! --- Me ouvi gritar sentindo o coração bater violentamente. Por que eu conhecia essa garota a pouco menos de 24 horas e já me sentia responsável por ela? Espere, deixe -me reformular a pergunta: "Por que eu estava preocupada com a vida de uma louca suicida?!" - culpo você, feto não-desenvolvido preso em meio da minha barriga.
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Filho De Um Descuido
Teen FictionMe sinto Desrespeitada Estúpida Idiota Presa Errada Imbecil Inocente Grávida Na verdade é até estranho pensar nisso, sou boba de mais mesmo.... Chorei de mais mas, conto como foi a história, a tramóia, a idiotice de como fui parar na situação na qua...