Capítulo 33

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— Você tem certeza? — Perguntei pela décima vez ainda incerta.

— Toda e total, filha — Minha mãe sorriu carinhosa enquanto acariciava meu cabelo.

Estamos no carro de frente com a minha casa enquanto eu choramingo com medo do que meu aparente pai vai dizer. Minha mãe saiu de casa do nada ao ir me buscar e nem o avisou e acabou de receber inúmeras mensagens preocupadas dele no celular.

— Mas e se ele ficar bravo? E se ele te deixar por que eu apareci? Ele já não fez isso quando você ficou grávida?! — Resmunguei sem me dar conta inicialmente de que poderia soar rude — Ah, mãe. Me desculpa...

— Que isso — Ela sorriu um pouco tristonha — Ele te ama tanto, filha, mas tanto!

Não. Eu não conseguia acreditar nisso. Ele é como um Mike que a abandonou mas... Mike não me abandonou, eu só fugi... Mas isso não vem ao caso, eu simplesmente não gosto dele.

Um careta emburrada surgiu no meu rosto como uma criancinha.

— Mas você tem mesmo certeza? — Perguntei pela décima primeira vez.

Minha mãe se esvaiu numa alta e alegre gargalhada.

— Tenho, Erika, tenho sim.

E assim nós saímos do carro  com minha mãe agarrada nos meus ombros não deixando eu ver seu rosto. Sem ter a mínima ideia do que poderia estar pensando agora.

Engulo em seco enquanto meus pés pisam no tão conhecido chão de madeira em frente à casa que eu vivi a minha vida inteira. Num ataque de nostalgia eu giro a chave da minha mãe e abro a porta devagar.

A luz está acesa e eu consigo ver o meu pai sentado de costas no sofá. Os cabelos loiros desgrenhados brilhando contra a luz fraca da lâmpada e as costas curvadas pela idade.

— Maísa? — Perguntou ainda de costas enquanto se levantava.

— Não — Disse receosa ainda sem conseguir olha -lo no rosto, então encaro o chão de madeira.

Ele paralisa. Seus ombros ficam tensos e eu mais ainda, como medo do que viria. Ele virá devagar até ficar de frente comigo.

— Erika? — Ele pergunta com lágrimas nos olhos que se avermelham rapidamente.

— É — Digo ainda sem encara -lo diretamente.

Ergo um pouco o olhar, o suficiente para a minha barriga, a qual abraço com um pouco de força.

Calma sementinha, eu sei que você tá com medo mas ele é inofensivo. Não é como Mike... O seu pai.

Falo mentalmente para ele ou ela. Para a até agora, sementinha.

— Oi, amor — Vejo que minha mãe já entrou e está a minha frente, pois sua sombra me cobre.

— Oi... Amor

Levanto a cabeça e vejo que ele tenta me ver atrás da minha mãe.

Ela suspira e me coloca abruptamente a sua frente, de início me assusto mas tento me acalmar. Minha mãe tosse forçadamente tentando extinguir aquele silêncio perturbador que se formou.

— Não gostaria de falar alguma coisa, papai? — Ouço minha mãe dizer forçando o "papai".

Ele se espanta e arregala os olhos. O vejo sibilar com a boca um "o que" para a minha mãe. Viro a cabeça e a vejo revirar os olhos.

— Bom, filha, aposto que tem uma linha história para nos contar — ela diz e seu olhar cai para a minha barriga, fazendo que consequentemente meu pai olhe também.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora