Capítulo 17

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__FILHA? ---Sou chamada escandalosamente assim que coloco os pés dentro da minha casa, o cenho levantado e a boca levemente aberta da minha mãe não são o que me surpreendem, e sim, ver o seu estado e o estado da casa.

Não consigo emitir sequer um som da minha boca que deve estar tão aberta que não me surpreenderia se entrasse uma mosca. O leve cheiro de flores na casa é inconfundível, ainda por cima com minha mãe passando um rodo ali.

__Você voltou? ---Ela disse vendo que não esbocei nenhuma reação, fechei a boca imediatamente, e varrendo com os olhos o lugar notei que um mês é o suficiente para alguém retomar a vida.

O lugar estava em perfeita organização, o chão ilustrado, vasos de plantas, fruteira com frutas recém compradas, potes variáveis em estantes, quadros em alguns cantos e... E um assobio de alguma cantiga popular dando ar de lar ao lugar que antes para mim só era reconhecido como solitária, casa sombria, prisão e que tinha o aroma especial de bebidas e cigarros.

__Erika! ---Ignorou o meu rosto que deveria mostrar indignação e obviamente perguntas sem resposta e veio de maneira exagerada ao meu encontro praticamente pulando em cima de mim com um abraço que para ela deve ser materno.

Estava com um corte de cabelo diferente, os cabelos loiros que antes eram enormes e geralmente bagunçados agora caiam em seu ombro lhe dando um ar jovem. Os olhos antes eram tão apagados agora pareciam vivos, o azul a deixava parecendo um pessoa alegre, viva. E mesmo que talvez haja um motivo para isso, a ve -la tão bela e entusiasmada me fez ficar furiosa, é cruel desejar que ela estivesse chorando e com cheiro de bebida velha agora?

__Mã.. mãe ---Tentei segurar as lágrimas, apertei os lábios impedindo que elas caissem, por mais que estivesse, digamos, alegre, eu não esqueci que esta mulher a minha frente nem se preocupou em me procurar, em procurar a sua filha que sumiu em seu pior momento, mesmo que ela não saiba.

A empurrei para traz, fanzi o cenho e cerrei os dentes tentando ao máximo não dizer nada que possa diminuir as minhas chances de ter uma explicação.

__Por que não me procurou? ---Sem ao menos pensar soltei aquelas palavras que nos pensamentos pareciam tão melancólicas, mas faladas dava um tom egoísta. Minha mãe parecia surpresa e por um momento, um curto momento, notei um raio de tristeza alcançar seus olhos.

__Maisa --- Ouvi uma voz grave masculina cantarolar o nome da minha mãe seguido de passos que aparentemente vinham do quarto --- Minha querida, você viu o sa... --- Suas palavras morrem assim que o tal homem chega a sala e encontra a cena da minha mãe junto a mim.

Talvez não tenha sido uma boa ideia vir aqui. Talvez eu não deveria ter dado ouvidos aqueles pensamentos que tudo poderia estar bem.

__Quem é você?! --- Quebro o extenso silêncio que se forma depois da chegada do homem, deveria ter entre 30 ou 35 anos, estava sem camisa, então era evidente o quanto malhava. Os cabelos eram loiros e me lembrava alguém, não sei quem e nem tenho ideia de quem poderia ser, mas ele parecia me conhecer pela cara de espanto que carregava enquanto sustentava o olhar entre minha mãe e eu.

__E... eu sou ---Ele continuava espantado me olhando tentando falhamente falar alguma coisa.

__Você é? ---Incentivei mordendo a bochecha entendendo que seja quem ele for, tinha algo com a minha mãe, não que eu achasse que ela nunca iria "desencalhar" mas por que não deixava de ser estranho ver que a sua mãe pode sim arrumar alguém e ser feliz com esse alguém.

__Mateus ---Desviou os olhos de mim para Maisa como se estivesse fazendo uma pergunta silenciosamente. "Mateus" me olhou de forma apreensiva quase idêntica a da de Maisa depois de ganhar uma "confirmação" pelo olhar dela.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora