__Entendeu Sofia --- Um médico de cabelos crizalhos e um jaleco nada limpo parecia cansado exlicando pela terceira vez algumas instruções para Sofia que mais parecia estar sonhando de olhos abertos --- Isso é importante! Seu braço pode infeccionar, você tem sérias chances de contrair alguma doença no sangue com esses seus costumes de usar seu braço como se ele estivesse bem. Eu repito: ele não está.
__Eu seeei --- A garota ao lado fez uma careta dramática e para dar ênfase levantou os braços porém, o esquerdo que estava enfaixado foi junto e logo ela o moveu rapidamente de volta ao lado de seu peito com uma careta de dor, Sofia tinha sim sua péssima atitude de ser irritante e indiferente a informações importantes - tais como avisos médicos - mas ve -la com dor me fazia sentir em mim.
O médico suspirou pela décima vez nos últimos minutos.
__Isso é importante. --- aconselhou cansado --- Você tem que voltar aqui semana que vem que eu irei trocar o gesso por um novo. Você não pode mexer esse braço e peço que descanse o dia todo amanhã e depois também. Você perdeu muito sangue e eu já estou fazendo um favor te liberando mais cedo --- Olhou atravessado para Marcos que assentiu envergonhado e o roxo por baixo de seus olhos deixava a cena ainda mais patética --- Se o administrador soubesse disso me demitiria, Sofia teria de tomar soro a noite toda, teria de...
Sofia bufou audívelmente irritada. Como se todas as informações que o médico nos fornecia não passassem de pura bobagem. A olhei fulminante e ela se encolheu um pouco como se meu olhar fosse uma arma letal.
__Agradeça --- A obriguei ainda encarando seu rosto de forma severa.
__Obrigada Doctor Who --- Deu uma risadinha e eu apenas revirei os olhos com sua tamanha infantilidade. Pigarreou retomando a postura --- Obrigado Doutor Whoopi, por sua gentileza em me encaixar no horário, por quebrar regras por mim e suportar meus chiliques ao costurar meu braço.
Assim que Sofia terminou levantei as sobrancelhas surpresa pela sua elaborada resposta e vi Marcos sorrir orgulhoso me dando a certeza que ele tinha dedo nisso.
Dr. Who sorriu brevemente repetindo novamente as instruções com medo de que a garota esquecesse e fosse para uma aula de natação com o braço engessado. Bom, sendo a Sofia tal opção não seria descartada.
__Cuidarei para que tudo seja feito --- Marcos sorriu atencioso para o médico Whoopi e enfim acenou. Saimos para o carro do nosso mais novo companheiro; policial-fracote-ruivo.
◆
Já dentro do carro, Marcos nenhuma palavra sequer havia trocado, Sofia tagarela sobre coisas triviais que eu ignorei olhando apenas para a minha regata verde marcada pela barriga.
Cutuquei de forma curiosa e nada. Era duro. Coloquei os dois palmos sobre o tecido da regata fantasiando quando estivesse maior e ri baixinho com o pensamento.
Como uma criança mexi o dedo do meio e o indicador como perninhas fazendo uma dança ritmada sobre a barriga imaginando se ele estava sentindo mas retirei rápido. Será que doía? Me assustei quando notei que era a primeira vez que eu me interessava de verdade por esse assunto. Como seria aqui dentro, depois de - não sei ao certo - dois meses ele já deveria responder a estímulos externos?
Já era a época de chutar? Ou de se mexer. Mexi os lábios confusa de um jeito diferente, era uma confusão boa, que valia a pena decifrar porém antes que eu cogitasse a ideia a cortei abruptamente se lembrando do mantra:
Se corta o mal pela raiz.
Cruzei o cenho sabendo que esse era o certo a ser feito. Concentrei a atenção na estrada por alguns minutos até Marcos estacionar.
__Bom garotas. Eu tenho que voltar ao trabalho. Já devem ter se dado pela minha conta e eu tenho que ajudar lá dentro. --- Continuamos quietas pensando - pelo menos eu - nas garotas ali dentro, será que já estavam soltas? E se sim, para onde foram? Apertei as mãos inquieta --- Vocês tem para onde ir, certo? Família, ou algum amigo? Se não eu levo vocês para o "Instituto Flor Danada"...
Sofia praticamente pulou do banco ao ouvir o nome, o olhou com uma careta antes de lançar uma frase mentirosa.
__Temos amigos! É... a Ana, a Laura. Não é Erika? --- A olhei incrédula. Me recusava a acreditar que Sofia estava mais uma vez me incluindo em suas idiotices. Que mal seria ela ir para o orfanato? Ela era a de menor ali e precisava de um responsável.
__Não, nós não temos...
__Verdade!, eu tinha que esquecido que elas se mudaram. Mas ainda tem o... o... Vitor e os meninos? --- Soou como uma pergunta. Me cortou deixando claro que a última coisa que ela queria era ir para o "Instituto Flor Danada".
Revirei os olhos e concordei com a cabeça.
__Isso.
Marcos estava desconfiado e isso não era surpreendente. Se eu fosse ele, eu nos mandaria direto a um hospício.
__De toda forma --- Nos olhou sério --- Aqui está uma quantia qualquer --- Pegou algumas notas colocando delicadamente em minha mão, com um olhar pedindo confiança pela grande quantia. Aceitei de bom grado, aliais, estava sem minha mochila então aquilo teria de servir --- Aluguem um táxi até a casa de seus "amigos" ou um hotel para ficar por um tempo. Eu pediria para vocês darem uma entrevista chata para o oficial sobre o que vocês viram lá mas...Vocês não parecem em condições disso --- esse era seu jeito delicado de nos chamar de doentes problemáticas --- não teria importância mesmo, já tem muitas garotas para relatar --- deu de ombros fazendo pouco caso.
Assenti atenta.
__Mas... quando te verei denovo? --- Sofia parecia prestes a chorar.
Ele suspirou igualmente chateado. De uma forma esquisita era fácil compara -los a duas crianças de 10 anos tristes por que os pais vão se mudar.
__Me ligue assim que puder --- Colocou um papel com alguns números em sua mão --- E se precisar de qualquer coisa eu juro, que irei voando até você e te ajudarei.
Sofia arregalou os dois olhos os deixando como duas grandes bolas de gude azuis.
__Você voa?! --- Berrou abismada e o policial apenas riu negando com a cabeça. Abriu a porta para sairmos e demos em frente a calçada mal cuidada.
E antes que pudessemos ir embora Marcos segurou as mãos de Sofia.
__Qualquer coisa --- repetiu preocupado.
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Filho De Um Descuido
JugendliteraturMe sinto Desrespeitada Estúpida Idiota Presa Errada Imbecil Inocente Grávida Na verdade é até estranho pensar nisso, sou boba de mais mesmo.... Chorei de mais mas, conto como foi a história, a tramóia, a idiotice de como fui parar na situação na qua...