Capítulo 25

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Depois de algumas horas dentro de um departamento de polícia - tão imundo quanto o prostibulo que estive a umas semanas atrás - finalmente fui liberada. Quero dizer, "fomos".

Sofia andava virando parte da minha vida e isso não me surpreende. A menina grudou em mim e não me larga por nada, até para ir no mercado me puxa junto e eu, como a adulta responsável que sou não deixo deficientes mentais ficarem andando por aí de livre arbítrio.

Andamos na rua de volta para nossa "casa" que "era" para ser provisória mas que tem sido de grande importância nas últimas 3 semanas.

Assim que ligamos para Marcos ele marcou diversas entrevistas para Sofia depor sobre o que viu no Flor Danada, e bem, isso rendeu um bom dinheiro. Sofia apareceu na televisão e isso a tirou do chão,  ficou completamente maluca e se trancou em seu quarto por 10 horas e só saiu por que estava com fome, alegava terem a clonado e depois prenderam esse "clone" na caixa de assistir, okay, na televisão.

Sofia apareceu em pelo menos 3 canais e eu, como sua irmã que sofria muito pelo o que aconteceu e que cuidou dela "por sua vida toda como uma pobre e miserável garotinha doente (demente)", vejamos, era isso o que dizia uma revista que li outrora em uma banca de jornal. Eu era O exemplo de jovens que dedicavam a vida a família e Sofia a de que não liga para doenças e faz o máximo para parecer bem.

A vida seguia.

__E então Sofia? --- Imitei a voz de Marcos enquanto caminhávamos de volta pra casa.

__Sofrendo... mas vivendo --- Respondeu com a voz miúda e logo caímos em uma gargalhada.

Marcos andava prestando total dedicação a Sofia, ela parecia ser realmente muito importante para ele. Não se passava um dia sequer sem uma ligação dele e isso a deixava entusiasmada a ponto de ficar deitada em frente do telefone esperando a hora que ele tocaria alertando que seu amado lembrara dela.

Não sabia o que conversavam mas quando acontecia Sofia fechava a porta do quarto para ficar a sós como telefone, mas dava para ouvir na rua suas gargalhadas escandalosas.

Sorri com lembranças de tantas vizinhas batendo na porta quando Marcos ligava muito tarde.

"Por favor, sei que é difícil para a senhora mas peço humildes desculpas pelo ocorrido. Não sei se sabe mas ela sofre por problemas insolúveis e por mais acompanhamento médico que tenha isso sempre se repetirá. Perdão e espero que tenha uma boa noite"

Bem, isso havia se tornado uma frase tão usada que acabei decorando e acredito que já falei mais de duas vezes ela para alguém, mas quando estou sem paciência digo algo como "Problema? Se mude" ou "Vai reclamar com a diretoria que eu não tenho cara de gente que se importa", mas na maioria das vezes eu acabo levando bronca da Sra. Sacomani que só não me tirou dali ainda por que o Marcos anda fazendo muitas promessas - sem fundamento - que não pode cumprir.

Parei de andar abruptamente. Eu já sabia o que era, andava acontecendo com muita frequência e isso era deprimente, doía, acabava com meu ar, bom hálito e quase sempre com meu humor.

Apoiei a mão na parede e coloquei para fora tudo que comi hoje de manhã, e não, não havia sido pouca coisa.

Sofia bateu levemente nas minhas costas como se isso fosse me fazer parar de terminar de rasgar minha garganta, porém já estava acostumada. Li na Internet que grávidas podem vomitar mais de 10 vezes por dia e assim que descobri isso para meu total desespero vomitei no teclado no notebook que Marcos comprou para Sofia mas eu não deixava ela encostar.

Voltamos a caminhada até chegar no conjunto de prédios que estávamos. Por incrível que pareça o lugar era uma pechincha, porém era de frente a uma escola e isso para a minha revolta é como morar de frente ao infern*. Puxa vida, essas crianças que tiram energia do além ficam gritando o dia todo. Quando toca o sinal ouço urros de alegria na décima altura e juro que já vi eles acionando fogos de artifício no meio da rua por mais que ninguém tenha acreditado em mim, bem, exceto por Sofia que assim que soube o significado da música "Firework" da Kate Parry não parou de chamar as pestinhas do mesmo.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora