Capítulo 5

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A cada segundo a madrugada se tornava mais fria. Tanto que me vi obrigada a levantar no meio da noite atrás de outra blusa.

Aos tropeços, busquei uma luz. A mais próxima era o celular na escrivaninha.

No instante que o liguei, que surpresa, 27 notificações.

— O que é que... — Me vi sussurrando.

Eram todas de apenas dois contatos.

"Anne Lee", uma longa mensagem sobre o como era grata. Essa é uma história velha, a ajudei a conseguir um encontro com o monitor.

Coitadinha.

O monitor é bonito demais pra ela.

"Mike", 26 mensagens sobre estar me esperando. Aonde? A última, de duas horas atrás, dizia para olhar pela janela.

Me peguei rindo sozinha. São 4 da manhã, Micael Garrido!

Ele pensou mesmo que eu estaria acordada as duas horas e, ainda mais, que iria descer para vê-lo? Pobrezinho. Bom que a essa altura já deve ter partido.

Ainda assim um comichão cresceu na boca no estômago. Não. Impossível.

Ainda assim... Será?

Testar é de graça, disse para mim mesma. É, só um teste...

Me dirigi á janela do quarto que dá para os fundos da casa. Espalmei o vidro a procura de qualquer sombra humana.

Junto do alívio veio a decepção.

Não havia ninguém.

E no mesmo instante que voltava para a minha cama, esquecendo completamente do cobertor a mais, o celular vibrou na escrivaninha.

Não me orgulho de dizer que corri em sua direção feito uma tonta. O capturei ávida na procura do botão de ligar.

"Alguém visualizou..."

Me vi sorrindo para o breu.

Ao voltar minha atenção para a janela, reparei um vulto ao lado da árvore dos fundos. Algo quase imperceptível, vista somente se com muita atenção.

Meu coração martelou.

Então o vulto acenou.

Acenei de volta.

Ele ergueu um retângulo brilhante, sinalizando com ele próximo da orelha. Assenti, um movimento despercebido.

Um segundo depois o celular voltou a vibrar, mas dessa vez se tratava de uma ligação.

Deveria atender? O ar me faltou. O que implicava aquela ligação?

Provavelmente iria me chamar. Pedir para que enfrentasse a madrugada fria para vê-lo.

No mesmo instante lembrei da minha mãe dormindo no quarto ao lado, pacificamente, sem ciência alguma da filha que cogitava abandonar seu lar e desrespeitar sua ordem para ver um garoto. Garoto duvidoso, acrescento.

Não havia tempo para mais especulações. O vulto abanava o celular da janela, "não vai atender?" diziam seus movimentos.

Ele estava ali a horas. Um gesto nobre, não é? Quão mesquinho seria recusar? A culpa acompanhou as marteladas do meu coração.

"Alô" — Atendi aos sussurros.

"Que formalidade, Keka!" — Sua risada era deliciosa.

Ri fracamente em resposta.

"Seu louco"

"Por você? Sim" — A cor me sumiu. Micael Garrido havia acabado de confessar sua paixão?

"Mike..."

"Shhhhhh. Só desça aqui"

"Não posso"

"Porque?"

"A minha mãe..."

"É rápido"

"É madrugada, Micael. E temos aula em algumas horas"

"Cinco minutos, Keka, ouviu? É tudo o que peço. Estou aqui a horas, afinal. Você me deve"

É.

Me vi aceitando a culpa.

"Cinco minutos" — Sussurrei.

Juro que pôde ouvir seu sorriso através da ligação.

No mesmo instante ele desligou. Não havia discussão, desceria por cinco minutos e voltaria. Apenas isso.

Vesti uma blusa a mais e tomei todo o cuidado para não acordar minha mãe. Rapidamente alcancei a porta dos fundos  e adentrei o quintal.

Ainda ao lado da árvore, Micael fez um sinal com a mão como que me chamando. Revirei os olhos e atravessei a grama, percebendo só agora que estava sem sapatos.

— O que foi, hen?

Antes de mais nada, ele me puxou pela cintura. Suas mãos quentes firmes ao meu quadril.

— O que está fazendo? — Perguntei com a voz miúda.

— Não reprimindo meus desejos.

Balancei a cabeça negativamente.

— Outra resposta, por favor — Pedi.

— Quer a verdade ou a mentira?

— Quem sabe um meio termo?

O garoto apertou os olhos enquanto pensava.

— Esse frio congelou os meus dedos. Preciso urgentemente da sua carne para me esquentar.

A resposta foi tão absurda que me peguei rindo.

— Finalmente! Um sorriso! — Ele festejou.

Imediatamente simulei uma careta séria, só para provocar.

— E então... O que é tão importante para te fazer acampar na madrugada mais fria do ano no quintal da minha casa?

— Eu teria que te mostrar.

— Bom... — Conferi o celular — Você tem 3 minutos.

Mike sorriu.

Então tomou minha mão, guiando-me alguns metros. Quando pensei em mandá-lo parar ou mesmo perguntar onde estávamos indo, a caminhada cessou.

De frente a nós, um carro. Não qualquer um, o UNO.

— Ah — Disse para o ar — Você concertou...

— Não parece tão empolgada.

Apertei os olhos para abri-los novamente com um sorriso forçado.

— Não, é um máximo! Legal, Mikael, sério.

Seu sorriso morreu. Dentro de um segundo estava mais próximo. Então afastou uma mecha da minha testa.

— Sabe ainda vamos voltar juntos, né?

— Mas o carro...

— Nunca foi sobre o carro, Erika. Você sabe disso.

Não resisti ao impulso. Logo tinha os lábios colados nos dele. Lento e vagaroso, como a noite.

Quando me afastei, seus olhos pareciam brilhar.

— Acho que se foram os nossos cinco minutos.

— É mesmo? — Mal absorvia o ambiente.

— Uhum... — Então ele mesmo buscou o próprio celular. Após uma rápida conferida voltou a atenção ao meu rosto — Tenho uma pergunta séria.

— Faça.

— Precisa mesmo ir a escola hoje?










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