A cada segundo a madrugada se tornava mais fria. Tanto que me vi obrigada a levantar no meio da noite atrás de outra blusa.
Aos tropeços, busquei uma luz. A mais próxima era o celular na escrivaninha.
No instante que o liguei, que surpresa, 27 notificações.
— O que é que... — Me vi sussurrando.
Eram todas de apenas dois contatos.
"Anne Lee", uma longa mensagem sobre o como era grata. Essa é uma história velha, a ajudei a conseguir um encontro com o monitor.
Coitadinha.
O monitor é bonito demais pra ela.
"Mike", 26 mensagens sobre estar me esperando. Aonde? A última, de duas horas atrás, dizia para olhar pela janela.
Me peguei rindo sozinha. São 4 da manhã, Micael Garrido!
Ele pensou mesmo que eu estaria acordada as duas horas e, ainda mais, que iria descer para vê-lo? Pobrezinho. Bom que a essa altura já deve ter partido.
Ainda assim um comichão cresceu na boca no estômago. Não. Impossível.
Ainda assim... Será?
Testar é de graça, disse para mim mesma. É, só um teste...
Me dirigi á janela do quarto que dá para os fundos da casa. Espalmei o vidro a procura de qualquer sombra humana.
Junto do alívio veio a decepção.
Não havia ninguém.
E no mesmo instante que voltava para a minha cama, esquecendo completamente do cobertor a mais, o celular vibrou na escrivaninha.
Não me orgulho de dizer que corri em sua direção feito uma tonta. O capturei ávida na procura do botão de ligar.
"Alguém visualizou..."
Me vi sorrindo para o breu.
Ao voltar minha atenção para a janela, reparei um vulto ao lado da árvore dos fundos. Algo quase imperceptível, vista somente se com muita atenção.
Meu coração martelou.
Então o vulto acenou.
Acenei de volta.
Ele ergueu um retângulo brilhante, sinalizando com ele próximo da orelha. Assenti, um movimento despercebido.
Um segundo depois o celular voltou a vibrar, mas dessa vez se tratava de uma ligação.
Deveria atender? O ar me faltou. O que implicava aquela ligação?
Provavelmente iria me chamar. Pedir para que enfrentasse a madrugada fria para vê-lo.
No mesmo instante lembrei da minha mãe dormindo no quarto ao lado, pacificamente, sem ciência alguma da filha que cogitava abandonar seu lar e desrespeitar sua ordem para ver um garoto. Garoto duvidoso, acrescento.
Não havia tempo para mais especulações. O vulto abanava o celular da janela, "não vai atender?" diziam seus movimentos.
Ele estava ali a horas. Um gesto nobre, não é? Quão mesquinho seria recusar? A culpa acompanhou as marteladas do meu coração.
"Alô" — Atendi aos sussurros.
"Que formalidade, Keka!" — Sua risada era deliciosa.
Ri fracamente em resposta.
"Seu louco"
"Por você? Sim" — A cor me sumiu. Micael Garrido havia acabado de confessar sua paixão?
"Mike..."
"Shhhhhh. Só desça aqui"
"Não posso"
"Porque?"
"A minha mãe..."
"É rápido"
"É madrugada, Micael. E temos aula em algumas horas"
"Cinco minutos, Keka, ouviu? É tudo o que peço. Estou aqui a horas, afinal. Você me deve"
É.
Me vi aceitando a culpa.
"Cinco minutos" — Sussurrei.
Juro que pôde ouvir seu sorriso através da ligação.
No mesmo instante ele desligou. Não havia discussão, desceria por cinco minutos e voltaria. Apenas isso.
Vesti uma blusa a mais e tomei todo o cuidado para não acordar minha mãe. Rapidamente alcancei a porta dos fundos e adentrei o quintal.
Ainda ao lado da árvore, Micael fez um sinal com a mão como que me chamando. Revirei os olhos e atravessei a grama, percebendo só agora que estava sem sapatos.
— O que foi, hen?
Antes de mais nada, ele me puxou pela cintura. Suas mãos quentes firmes ao meu quadril.
— O que está fazendo? — Perguntei com a voz miúda.
— Não reprimindo meus desejos.
Balancei a cabeça negativamente.
— Outra resposta, por favor — Pedi.
— Quer a verdade ou a mentira?
— Quem sabe um meio termo?
O garoto apertou os olhos enquanto pensava.
— Esse frio congelou os meus dedos. Preciso urgentemente da sua carne para me esquentar.
A resposta foi tão absurda que me peguei rindo.
— Finalmente! Um sorriso! — Ele festejou.
Imediatamente simulei uma careta séria, só para provocar.
— E então... O que é tão importante para te fazer acampar na madrugada mais fria do ano no quintal da minha casa?
— Eu teria que te mostrar.
— Bom... — Conferi o celular — Você tem 3 minutos.
Mike sorriu.
Então tomou minha mão, guiando-me alguns metros. Quando pensei em mandá-lo parar ou mesmo perguntar onde estávamos indo, a caminhada cessou.
De frente a nós, um carro. Não qualquer um, o UNO.
— Ah — Disse para o ar — Você concertou...
— Não parece tão empolgada.
Apertei os olhos para abri-los novamente com um sorriso forçado.
— Não, é um máximo! Legal, Mikael, sério.
Seu sorriso morreu. Dentro de um segundo estava mais próximo. Então afastou uma mecha da minha testa.
— Sabe ainda vamos voltar juntos, né?
— Mas o carro...
— Nunca foi sobre o carro, Erika. Você sabe disso.
Não resisti ao impulso. Logo tinha os lábios colados nos dele. Lento e vagaroso, como a noite.
Quando me afastei, seus olhos pareciam brilhar.
— Acho que se foram os nossos cinco minutos.
— É mesmo? — Mal absorvia o ambiente.
— Uhum... — Então ele mesmo buscou o próprio celular. Após uma rápida conferida voltou a atenção ao meu rosto — Tenho uma pergunta séria.
— Faça.
— Precisa mesmo ir a escola hoje?
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Filho De Um Descuido
Teen FictionMe sinto Desrespeitada Estúpida Idiota Presa Errada Imbecil Inocente Grávida Na verdade é até estranho pensar nisso, sou boba de mais mesmo.... Chorei de mais mas, conto como foi a história, a tramóia, a idiotice de como fui parar na situação na qua...