Capítulo 19

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Você ja chegou a pensar como seria o mundo se você não tivesse chegado a existir? Provavelmente sim, e provavelmente deve ter ficado assustado vendo que ou nada mudaria, ou as coisas estariam melhor. Suspiro fitando o escuro que se tornou "meu" quarto por conta da noite que soprava ventos gélidos pela pequena fresta da janela. Fechei os olhos dessa vez mais leve apenas sentindo as lágrimas escorregarem pelo meu rosto até chegar enfim ao queixo fazendo pequenas cosquinhas ali me fazendo abrir um pequeno sorriso.

Minha mãe estaria feliz em algum lugar no mundo aproveitando sua juventude e talvez até junto ao meu "pai". Sabrina e Scott não teriam de se preocupar comigo ou sentir pena, poderiam ter seguido sua vida ao contrário de agora em que a maior preocupação é mandar mensagens e pequenas visitas para ver meu estado. Rita poderia passear por aí, visitar seus avós, passar os feriados lá ou estudar muito para passar no ENEM que se aproximava - o mais provável.

Soltei o ar pelo nariz deixando o sorriso se alargar enquanto repetia milhares e milhares de vezes na minha mente que isso era o melhor a se fazer. Claro que era! E mesmo que me doa pensar nisso, Rita e Mike poderiam ficar juntos sem alguém para impedi -los, nem uma amiga, uma ex namorada ou a mãe de um filho indesejado.

Terminei de fechar o ziper da mochila e calcei os sapatos, fiz um rabo de cavalo com o cabelo enquanto colocava a toca da blusa por cima, mesmo sendo verão, essa noite estava especialmente fria. Prendi a mochila nas costas só com uma alça no braço direito.

Atravessei o corredor sem fazer barulho, focando meu olhar ao chão e quando passei em frente ao quarto dos pais de Rita - onde ela estava dormindo - a vi encolhida abraçando os joelhos e mesmo que seu cabelo cobrisse boa parte de seu rosto pude ver seus olhos inchados de choro, e neste momento notei novamente que eu só estava atrapalhando a vida alheia e com uma dor insuportável passei reto enquanto tentava reprimir um soluço engolindo uma bolha de ar. As lágrimas já escorregavam sem restrições enquanto me aproximava da porta que dava a saída.

Coloquei o bilhete que mais me doeo escrever do que qualquer coisa sobre o balcão.

" Rita,
Obrigada pela moradia temporária, pelo seu tempo, pelas suas lágrimas e seus esforços em me manter ocupada e alegre.
Não pense que foram vãos por que eles me motivaram a estar aqui com coragem e não em um lugar qualquer chorando as mágoas e irritada com um ex impertinente.

Por favor! Não me procure e posso te assegurar que estarei bem, andei pensando no aborto mas não sou eu que vou quebrar uma lei e no momento minha maior saída é parar de arruinar a vida alheia,inclusive a sua.

Assim que estiver organizada e com a vida em ordem te ligarei! Isso é verdade, mas não posso dizer quando e nem se vou estar assim logo então paciência, ou simplesmente não me espere e viva sua vida.

Lembra daquela nossa conversa? Quando você disse que ainda amava o Mike?! Por mais que eu não goste dele por favor! Não deixe a minha vida atrapalhar a sua, sei que não é um bom conselho mas o ouça e quem sabe você não ms convida para ser sua madrinha?

Estude, estude e estude. Consiga um objetivo nessa vida atribulada, não deixe ninguém dizer que ter T.O.C é uma doença - por mais que seja - os deixe no chinelo e mostre o que é capaz e eu tenho certeza que é muito. Te amo ruivinha! Viva sua vida!

-Espero que não ache ruim mas, eu levei algumas roupas suas-"

Suspirei mais uma vez me virando de costas sentindo mais e mais lágrimas. Abri a porta mas antes dei um último olhar para trás de mim, vendo pela mochila a casa, eu já estava aqui e não iria me arrepender. Porém ver tudo aquilo me deixava nauseda sem motivo algum, talvez tivesse mas eu não iria admitir assim. Eu sentiria muita saudade!

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora