Capítulo 44

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Os barulhos são altos. Agudos. Não param.

Tento abrir os olhos mas as luzes fortes me impedem de tal proeza, então os fecho novamente.

Tento pensar em onde eu poderia estar. O que está acontecendo. O que aconteceu?

Recobro meus pensamentos antigos, mas nada. Nada me vem a cabeça para que eu possa fazer algum tipo de ligação. Sei que sou Erika e estou grávida de gêmeos, mas como vim parar aqui?

Sinto tontura, algo fofo no peito e meus lábios secos. Devo chamar por alguém?

Ouço algumas vozes. Elas não são muito altas, parecem mais com sussurros distantes, mas ainda assim consigo as ouvir. Quero chamar, quero avisar que estou aqui mas não tenho forças.

Estou morta?

— ERIKA! — Consigo ouvir meu nome soar ao longe. Vem de uma voz masculina, ela parece um gemido esganiçado devido ao choro.

A pessoa agora encostou a cabeça em meu peito. Eu consigo sentir isso, assim como consigo ouvir seu choro.

— Me desculpa... Me des-desculpa! — A pessoa está falando, quase delirando.

Quero me mover. Quero saber quem chora e porque está se desculpando.

Não tenho forças.

— Ele... Eles... — A pessoa continua lamentando.

Eles

Eles quem?

— Nossos... — Continua.

Nossos

— Nossos... filhos... — A pessoa em questão me aperta mais forte.

Meus bebês... Meus bebês!

Tiro forças do além para conseguir erguer os meus braços. Com dificuldade, mas consigo os mover a barriga. Tento sentir algo, mas ela parece murcha, vazia.

— Erika! — A pessoa grita. — Ela está acordada! ACORDADA!

A pessoa se separa de mim e logo sinto agulhas sendo postas em meus braços rapidamente, mas a única coisa que consigo pensar é na minha barriga murcha. Senti apenas pele sobre ela, não o redondo durinho de sempre.

Receio. Tenho medo.

Não me lembro direito o que aconteceu, mas não consigo pensar que não há nada ali. Não pode não haver nada, não pode!

As agulhas injetam algo em mim. Algo como adrenalina, pois logo me sinto mais disposta.

— Srta. Santos, ouça o que direi a seguir, é importante... — Outra voz vem, distante.

— Preciso que diga algo, abra os olhos ou faça qualquer outro movimento. Os seus batimentos cardíacos estão lentos a ponto de parar, se não se mostrar presente teremos que optar pelo tratamento de choque, que pode endurecer o leite materno.

Leite materno.

Porque estão preocupados com isso? Os meus filhos nem estão mais aqui... A não ser que realmente não estejam. Se eles já tiverem nascido, se eles...

Abro a boca sugando ar e tento dizer algo, mas só esse movimento já é o suficiente para que eu ouça algumas pessoas festejarem.

— Chamem o Dr. Leonsedo, ela está bem! Busquem mais adrenalina...

De alguma forma, eu confio nas palavras do médico. Eu vou ficar bem.

*

Passa -se algum tempo, não tenho certeza de quanto, mas sei que um bom tempo.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora