Capítulo 38

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Minhas palavras ainda pesam no ambiente.

É tão esquisito pensar que minha mãe mentiu para mim a vida inteira, e que o tempo todo minha mãe vivia aqui solitária.

Que por tanto tempo minha mãe sofreu sozinha, sem os pais abandonada nesse lugar,e que o tempo todo eu a desprezei, achando que todo o seu ódio e ressentimento era por causa de mim, sendo que envolvia muito mais do que uma simples gravidez, e sim os seus pais.

Coloquei os dois palmos contra o rosto e soltei o ar pesadamente.

É irreal. Surreal.

Meu pai me encara quase arrependido por ter me revelado a bomba, mas eu tento me acalmar, afinal já fui fraca por muito tempo, e um momento como esse necessita de toda a minha estabilidade e compreensão

— Me desculpe, Erika. Eu não deveria ter te contado isso, ainda mais levando em conta o seu estado — Moveu seu olhar até minha barriga.

Forço um sorriso de modo que ele pensasse que eu não estivesse tão mal.

— Não, tudo bem... — Murmurei ignorando minha emoções alteradas — Continua, por favor.

E então meu pai suspirou mas não contestou meu pedido.

— Continuando... Natasha havia morrido, e em uma semana já circulava nos jornais a notícia. "A mulher que começou o incêndio que jamais conseguiu sair". Ninguém sabia o por que daquilo, mas também ninguém nunca procurou descobrir.

Maísa estava desolada, sem os pais e com uma filha adolescente para cuidar. Nem sou capaz de imaginar o quanto sofreu... Bem nessa época que ela passou a ficar pior, a depressão piorou, as dívidas, impostos e vontade de viver. Você é o motivo dela estar aqui hoje, Erika, a única família que Maísa tinha... Bem, Maísa estava mal, isso é fato, e eu já não aguentava vê -la sofrer... Comecei a juntar o dinheiro que eu recebia da empresa do meu pai mensalmente, aos poucos comprei uma casa, um carro e diversas outras coisas. A minha estúpida ideia envolvia eu simplesmente aparecer para Maísa e levar ela e você para morar comigo num lugar novo... Bem, eu iria fazer isso, porém mundo não parecia querer o mesmo que eu...

Na mesma semana em que eu iria me revelar, me apareceu na minha porta alguém que eu não esperava ver. Meu filho. O filho de Natasha. Ele estava mal, parecia magro e sujo, e me contou que queria ficar comigo, já que Natasha morreu, ele teria de ir morar com a tia mas disse que preferia que eu tivesse sua guarda. Eu não poderia estar mais feliz e desesperado, afinal, ele é meu filho, mas como o meu plano com Maísa se seguiria?

E então, resumidamente, eu vivi com o garoto por três anos. Ele era muito bom no começo, até me chamava de "pai", eu estava nas nuvens com aquele menino. Era engraçado ver tantas manias parecidas que tínhamos, as vezes se assustando com nossa semelhança na frente do espelho... Eu daria minha vida por ele. Por meu filho..."

Meu pai deu uma pausa e eu não consegui segurar a língua:

— E o que houve com ele? Onde está o meu irmão? — Perguntei exasperada.

— Ele não está por aqui. É que... Ao final do terceiro ano, o garoto revelou que me odiava e me culpava pela morte da mãe, me contou muitas e muitas histórias falsas que Natasha o contou em que eu parecia terrivelmente cruel. Ele tentou me matar, não conseguiu mas foi por pouco... Resumindo, no final descobri que ele tem uma doença na cabeça que o faz ter ações sem pensar e na maioria das vezes agressivas; descobri que ele tem alguns problemas que herdou da família de Natasha.

Por fim o internei... Tive que fazer isso, então ele passa lá a alguns meses, a clínica é cara mas faço tudo por meu filho... Por seu irmão..."

— Minha mãe sabe? — Questiono sem pensar muito.

— Sim... A contei tudo assim que fui a sua casa e descobri que você tinha sumido, contei detalhe por detalhe, não omiti nada e ela me aceitou mesmo assim. Eu não mereço nada disso, nada mesmo Erika. Eu fui um desgraçado com o mundo todo, e principalmente com você e sua mãe, e te -las aqui como se nada tivesse acontecido me faz doer a consciência, muito...

— Ei, calma, você se arrependeu. Isso basta — Digo com um sorriso tranquilizante, tentando de alguma forma acalmar os ânimos que morriam em meu pai.

—... E sabe todos os imóveis e a casa que eu comprei para vivermos? Eu planejo realmente que possamos nos mudar para lá... Mas podemos resolver isso depois, nosso foco agora são nessas duas criaturaszinha aí — Lançou um olhar acolhedor a minha barriga.

Mordo a bochecha incerta se deveria fizer o que pensava, mas por fim abri a boca:

— Eu posso vê -lo?

— Vê -lo?

— É... O meu... O meu irmão...

— Oh — Meu pai soltou o ar com um ar supreso — Pensei que não gostaria dele... Ele foi a causa a qual não vim aqui antes...

— Mas ele contínua sendo uma pessoa, mais que isso, meu irmão — Digo tomando coragem para dizer que eu quero conhece -lo, e se eu quero eu consigo. Ou não.

— Sim sim. Nós podemos visita -lo, só não garanto que ele será uma boa pessoa... Por causa da doença, sabe.

— Eu não ligo, só quero ver deu rosto e colocar em dia esse tipo de papo de irmão que a gente vê na televisão — Brinco.

Meu pai da uma leve risada e logo concorda.

— Sim, vamos.

— E só mais uma coisinha — Peço.

— Pode falar, querida.

— Apenas queria perguntar qual o nome dele, por que né, acho meio chato que no meu primeiro diálogo com ele eu não saiba ao menos isso...

Meu pai sorri e então pronúncia as palavras, que se meu eu do futuro estaria aqui tamparia os meus ouvidos.

— Rodrigo Santos Correia — Ele diz e logo as coincidências fazem um tilintar ao se baterem na minha cabeça. O moreno loiro, da minha idade, amigável e que se chama Rodrigo.

Eu só conheço um e temo que não seja mera coincidência.

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora