Capítulo 20

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Rodrigo brincava com as mechas do meu cabelo - que não estava mais preso. A luz começava a aparecer e toda aquela escuridão passou a dar lugar ao sol que parecia muito feliz, ou talvez fosse apenas meu humor de grávida me falando que estava.

Ele suspirou parando de mecher no meu cabelo.

__Eu venho aqui toda manhã para ver isso --- Ele não precisava dizer o que pois os raios de luz vinham de forma graciosa em nossa direção nos aquecendo um pouco. O dia estava a nascer e consequentemente a aparecer mais e mais pessoas, e a grande maioria com pressa não se importava de não olhar para o chão, onde dois andarilhos tentavam se aproveitar do calor. --- Melhor irmos, daqui a pouco aqui estará tão cheio que você mal ouvira seus pensamentos.

Ele me deu a mão para levantar e começou a me guiar e então me sugiu uma dúvida. E se ele fosse um estrupador? Um assassino?! Ele continuou a andar porém eu criei raizes no chão e continuei ali sem movimento algum.

__Vem... eu sei onde podemos comer alguma coisa... --- Como resposta meu estômago roncou e a fome surgiu como um passe de mágica, ele deu um sorriso sacana sabendo que eu iria e incerta o dei a mão o deixando me puxar pelas inúmeras pessoas até uma lanchonete simples.

Encarei a porta enquanto ele entrava sem pestanejar. Tirei da bolsa o pouco de dinheiro que tinha, eu iria mesmo gastar isso assim? Não seria mais prudente guardar até...

Um ronco interrompeu meus pensamentos me lembrando novamente de algo que eu não sabia da existência até ontem. Que se dane, eu ia comer. E comer por dois.

Entrei me sentando.

__Rodrigo... --- Falei me sentando na cadeira que estava de costas para uma parede de vidro que dava para o lado de fora.

__Erika...

Ele repetiu ainda com um sorriso que parecia não querer cair, porém antes de eu falar algo ele levantou a mão gritando um "Luís" e um senhor com aparentemente 40 anos surgiu das portas que davam a cozinha com um sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto rechonchudo.

__Ah, Rodrigo! Senti tanto a sua falta! --- Luís deu um abraço em Rodrigo com seus grandes braços que sufocariam qualquer um, até mesmo um marmanjo como ele.

__Não faz tanto tempo assim... ---Rodrigo permanecia alegre e eles iniciaram uma conversa que parecia não ter fim e que eu não me importei em ignorar. Gesticulavam como se a vida dependesse disso e davam gargalhadas que me assustavam de 5 em 5 segundos.

__E que moça bela você me trouxe hein Rodrigo! ---Luís finalmente nota a minha presença pegando minha mão direita encostando os lábios me deixando constrangida --- Ah! É tímida! É realmente um raro charme Rô!

Rodrigo coça a nuca antes de se sentar na mesa comigo.

__Luís, traga um café da manhã reforçado para essa bela moça porque ela precisa de um pouco mais de massa nesse corpo de boneca! --- E lá se foi mais um comentário que eu não entendi.

Luís assentiu animado e saiu às pressas de volta a cozinha.

__Vocês parecem bem próximos... ---Falei enquanto fazia pequenos círculos com a unha na mesa.

__Ah... Luís Fortunato sempre foi como um pai para mim, se bem que eu não sei direito o que é ter um pai... --- Ele olhou pensativo a mesa e eu resolvi não perguntar seja lá o que for que fez seus olhos lacrimejarem. --- Enfim --- Continuou --- Quando bem mais jovem eu estava na rua e esse bom homem me abrigou e me deu um emprego muito bom mas, hoje em dia está difícil de mante -lo levando em conta as pesso....

Ele se cortou abruptamente antes de tentar invariáveis vezes mudar de assunto.

__Pessoas? Bom... Eu meio que dependo de pessoas para o meu negócio --- Abriu um sorriso amarelo --- É! Sim... As pessoas que movem o... Mundo?

Filho De Um DescuidoOnde histórias criam vida. Descubra agora