Eu posso fazer isso.

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(Danilo narrando)
Receber tantas cartas assim foi no mínimo assustador. Parecia que o carteiro não havia feito seu trabalho por muito tempo. Saber que Isabela na minha ausência tinha escrito tantas cartas pra mim, foi inexplicável. Quando sai da Alemanha, fugindo das minhas responsabilidades de pai, fugindo de tudo que eu havia feito com ela, eu pensava em como eu gostaria de manter contato com ela.
Mas o quanto isso era impossível, pois naquele momento ela estava me odiando e eu sabia que esse ódio duraria por muito tempo, para sempre talvez.
Ter essas cartas nas mãos podem me levar a uma dolorosa viagem ao passado, por outro lado, terei uma vista privilegiada de tudo o que ela sentiu a cada momento. De como ela conviveu com a minha falta. Seria uma espécie de terapia, onde eu entenderia todos os pensamentos da Isa.
Peguei a primeira carta, ainda com um receio em mim. Será que isso é mesmo certo? Será que Isabela não me mataria quando soubesse?
Abri a primeira carta.
"Hoje eu tive a confirmação do que eu tanto temia: Eu estou grávida.
Amor, eu amanhã vou te contar e espero que tudo ocorra bem. Eu sei que você ficará ao meu lado e não vai me desamparar.
Eu estou morrendo de medo de ter que enfrentar os meus pais, mas saber que você estará lá, ao meu lado, segurando a minha mão torna tudo mais suportável.
Nossa família estará formada e apesar de ser cedo, eu sei que será um ótimo pai.
Obrigada por me estar fazendo tão feliz. Agora temos um fruto do nosso amor e eu já o amo!
Te amo demais! Parabéns papai! "
Ler aquilo partiu o meu coração. Ela realmente achou que eu assumiria. Ela realmente achou que seríamos uma família feliz. Tudo que eu estava vendo como mais problemas, ela viu como fruto do nosso amor. Suspirei alto e Laura se virou para mim rapidamente. Sei que ela está curiosa, mas isso é algo íntimo demais para ser compartilhado assim.
Carta dois.
"Hoje foi um dos dias mais sombrios da minha vida. Parece que levei um incrível balde de água fria.
Você não aceitou minha gravidez, Danilo. Como você pôde? Foi fácil falar que me amava na hora de ir pra cama comigo, mas na hora de assumir, você apenas some.
Você apenas me deixa sozinha. Você abandonou o nosso filho.
Mas sabe de uma coisa? Ele não precisa de você. Ele tem mãe. E não vamos precisar de você pra nada.
Seu irresponsável. "
Irresponsável. Era isso que eu era. Deixei que o medo me dominasse e óbvio, o resultado foi desastroso.
A terceira carta, relatava quando eu hum, a agredi. Relatava com tantos detalhes que eu pude reviver a cena.
Raios, como eu consegui ser tão covarde assim? Era a Isabela, grávida, esperando um filho meu. E eu a machuquei e acabei com o bebê que era gerado em seu ventre.
Eu tive os meus motivos, mas nada justifica. Na quarta carta ela relatava a perda do bebê e a primeira tentativa de suicídio.
Ela tentou se matar. Ela tentou acabar com aquela dor, mesmo que tivesse que acabar com a sua vida para isso.

(Laura narrando)
Céus, como podia caber tanta curiosidade em mim? A cada suspiro, cada vez que ele limpava a garganta ou limpava algumas lágrimas, eu o olhava com aqueles olhos do gato do Shrek.
Eu só queria que ele desse um mínimo comentário do que estava lá. Me odiei imensamente por não ter lido nem uma no caminho até aqui.
Maldita curiosidade. Maldito Danilo que não me conta nada. Bufei sozinha.
Estava tão irritada que nem vi o médico que se aproximava de nós.
Méd: Parentes de Isabela da Silva Sanchez?
Laura: Nós.
Eu, Juliano e Danilo pulamos das cadeiras.
Dan: Como ela está, doutor? É algo grave?
Méd: Ela está em um coma induzido, a batida do veículo foi forte e durante o capotamento, partes do carro perfuraram um de seus rins. Por sorte, não perfuraram também a coluna.
Eu mordi os lábios, enquanto meu cérebro captava tudo.
Dan: E doutor, o que ela precisa?
Méd: Ela precisa de um transplante urgente de rim.
Dan: Ela está correndo risco.. de vida?
Méd: Infelizmente, sim. Mas quando mais rápido conseguirmos um doador, mas rápido será sua recuperação.
Laura: Eu vou doar, doutor. Eu sou a irmã dela e devo ser compatível .. eu posso fazer isso.
Juliano: Princesa, é muito lindo da sua parte querer ajudar sua irmã. Mas você está grávida.
Comecei a chorar. Chorar alto. Eu não poderia ajudar.
Diego: Laura? Por que está chorando? Por favor, vocês receberam notícias? - papai chegou ali chorando -
Juliano: Ela precisa de um transplante de rim.
Mamãe levou a mão até a boca. E vi seus olhos se molharem.
Diego: Eu vou fazer o teste, eu quero ver se sou compatível.
Juliano: Eu também vou.
Sorri ao ver meu amigo querendo ajudar.
Dan: Eu também quero fazer.
O médico levou os três para uma sala, enquanto eu e mamãe, mais uma vez, ficamos na sala de esperas.

Quero agradecer imensamente a lindona da   pela idéia do capítulo

 Uma Patricinha No Morro - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora