Não se afasta de mim.

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(Danilo narrando)
O destino sabe ser bem surpreendente conosco. Juro, que ao ver minha Isabela ali, na minha frente novamente, senti meu coração se aquecer.
Claro que, ao atravessar o oceano e deixar o meu país de origem para vim para o Brasil atrás dela, eu preparei um filme perfeito em minha mente. Uma cena digna de bons livros e até, novelas mexicanas. Mas parece, que o tempo conseguiu sozinho promover o nosso reencontro.
Juro, que ao comprar minha passagem, fiquei com medo de isso ser só uma idéia sem fundamentos. Aliás, o Rio de Janeiro é grande o suficiente para que eu consiga perder uma marrentinha de vista.
E lá estava a Duda, minha amiga íntima, trazendo o grande amor da minha vida para mim. Vi em seus olhos negros uma incrível repugnância, sua mágoa por mim era algo palpável. O jeito que ela me olhava, me deixava em cacos.
Mas aí, me apresentei para ela. Como se aquela fosse a primeira vez. Era como eu queria que fosse. Queria que pelos céus, ela pudesse me dar uma chance para tê-la ao meu lado. Eu não podia me explicar por todo o mal que a causei, porque nem mesmo eu, conseguia me perdoar, mas eu apenas queria recomeçar do zero.
Ela apertou minha mão, de uma forma esnobe e eu entendi, que não seria nada fácil conquistar sua confiança mais uma vez.
Duda nos deixou a sós, e eu não sabia como agir. Eu estava sem o que dizer, e pela sua expressão de poucos amigos, eu sabia que não conseguiria ter uma conversa amigável com ela. Pelo menos não agora.
xxxx: Titio Dan, você se esqueceu da hora da história.
Minha pequena Bia, tão meiga e inteligente. Bem na hora!
Dan: Você vem?
Isa: Vim para isso. - rosnou -
A levei para perto de onde as crianças estavam.
Dan: Certo, crianças. Um minuto! Temos uma convidada!
Vi o pequeno Davi, levantar sua pequena mãozinha lá no fundo.
Dan: Pode falar, Davi.
Davi: Ela vai ajudar na hora da história?
Todos ficaram agitados com a idéia.
Dan: Silêncio! - eles se aquietaram - O nome da nossa convidada é tia Isabela.
XXXXX: OI, TIA ISABELA. - todos falaram juntos -
Dan: E ela vai nos ajudar a contar uma história de princesa!
Hugo: Princesa de novo?
Karen: Quieto Hugo, da última vez foi do Hulk e ninguém reclamou do seu sapo verde e esquentadinho.
Hugo: Ele não é um sapo, Karen. Sapo é você! - ele mostrou sua minúscula língua para a colega -
Dan: Se vocês continuarem brigando, eu não vou mais contar nenhuma história. - eles se calaram - Tudo bem. Que princesa a tia Isabela pode ser?
Bárbara: A Rapunzel! Porque ela tem cabelos beem grandes!
Elen: Pare de ser boba. O cabelo da tia só vai no bumbum, falta um montão pra chegar no pé. E o cabelo da Rapunzel é loiro, não é preto!
Karen: E se fosse a Cinderela?
Bárbara: A tia não é burra de esquecer a sandália por aí.
Dan: Acho que ela seria uma boa Frozen. - alfinetei -
Gabi: Ah tio, você não sabe de nada. Ela não parece nadinha com a Frozen.
Depois de muitas discussões, decidiram que a minha doce Isa, daria uma ótima Chapeuzinho Vermelho, apesar de eu ainda achar mais adequado o papel da Frozen.
Isabela se saiu super bem na historinha, arrancou sorriso das garotada e deixou todos fascinados.
Gabi: Tia Isabela, promete voltar? - perguntou agarrando-se as pernas da morena -
Isa: Eu prometo.
Ela se abaixou, e todos vieram lhe dar beijos e abraços apertados. Senti uma pequena inveja de cada um.
Isa: Onde vamos agora? - dessa vez, ela tinha um brilho no olhar -
Dan: De princesa, a palhacinha!
Coloquei um lindo nariz de palhaço nela, e fomos divertir crianças que estavam com câncer. Era bom ver o sorriso de cada um, era bom ver que eu fazia a minha parte.
Isabela deixou todas suas diferenças comigo de lado, e mesmo eu sabendo que isso seria momentâneo, eu fiquei absurdamente feliz. Era como se tudo que eu idealizei, agora pudesse ser visto pelos meus próprios olhos.
(...)
Saímos da sala, rindo feito loucos. Eram crianças amáveis, que não se deixavam abater. Era bom ver a inocência de cada um, era bom ver que eles eram fortes e não tinham medo de qualquer doença.
Isa: A peruca não quer sair.
Fui despertada do transe. Sua voz tão doce, me trazia a realidade. Isabela sempre foi assim, a garota mais doce e meiga que eu já tive o prazer de conhecer.
Soltei sua peruca, presa em seus longos fios de cabelo, tão negros quanto um céu a noite. Tão perfumados tal como um jardim de lírios do campo. Toquei neles e era como se pelo menos uma parte dela, fosse minha novamente.
Ela se virou de frente pra mim, e mais uma vez, tive a chance de ter seus olhos em perfeita sintonia com os meus.
Senti ela engolir em seco e dar alguns passos para trás, evitando qualquer contato muito próximo.
Mostrei a ela uma parte da ONG, e me senti ridiculamente bem, só em estar perto dela. Só em ter sua atenção mais uma vez.
Uma chuva bem forte começou.
Isa: É, preciso mesmo ir.
Ela me olhou pela última vez, e correu dali, em meio ao temporal.
Me toquei quem estava correndo na chuva, a menina mais desastrada que já conheci e temi, que ela pudesse se machucar.
Corri atrás dela e puxei seu braço, colando nossos corpos molhados pela chuva.
Isa: O que foi?
Dan: Você, está correndo.
Isa: O que tem?
Dan: Eu não quero que se afaste novamente de mim.
Seus olhos negros brilharam e eu sentindo seu hálito quente em minha pele, não resisti e a beijei.

 Uma Patricinha No Morro - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora