Mãe?

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(Isabela narrando)
Acordei 8:30 com o meu despertador. Bocejei e caminhei até o banheiro, tomei um banho quente, bem demorado. Sai do banheiro, peguei uma calça da colcci e uma blusa que comprei aqui no Rio. Uma melissa baixinha, óculos escuros e uma bolsa de mão. Fiz um make básico e desci as escadas correndo. Era um dia importante pra mim, e eu estava nervosa. Me sentei a mesa, comi um sanduíche de peito de peru e um copo de suco de pitanga. Ouvi minha mãe reclamar de longe. Logo, ela aparece na cozinha, com seu iPhone novinho e um lindo vestido estampado, na altura dos joelhos.
Isa: Mãe, aconteceu alguma coisa?
Malu: Seu irmão como sempre - ela bufou - Ele quer me deixar de cabelos brancos, só pode!
Ah, o Lorenzo. Tão inconsequente como sempre. Ele atendeu a mamãe e a ouvi gritar ao telefone. Meu irmão exagera, chegamos a alguns meses e ele já some desse jeito? Aff! Deve ter passado a noite com uma mulher, eu realmente não sei a quem ele puxou esse jeito de galinha. Será que o papai na idade dele era assim? Duvido! Meu pai é um amor, o sonho de marido para qualquer mulher.
Malu: Desculpe estragar sua manhã, querida. Sei que hoje é um dia importante.
Isa: A senhora não tem culpa. Só acho que você podia tentar colocar limites no Lore.
Malu: Não é tão fácil como parece.
Isa: Eu sei que não. Ele já é um homem.
Malu: Então, deixando seu irmão um pouco de lado, vamos? Não podemos chegar atrasadas. - ela se levantou pegando sua bolsa -
Isa: Sim, vamos. - senti meu coração bater mais forte. -
Pegamos um lindo carro na garagem, e fomos ao nosso destino.
Isa: Papai não podia vim conosco?
Malu: É difícil pra ele, meu amor.
Isa: Pra mim também é.
Virei a cara e fiquei fitando a estrada, não entendia o ódio que meu pai sentia pela Nicole. Em mais de uma hora, chegamos em frente ao presídio feminino, muitas mulheres gritavam pessoas na rua. Eu estava tão nervosa, ela nem sabia que eu estaria aqui hoje.
Passamos por algumas policiais que revistaram as nossas coisas, e logo, nos deixaram entrar.
Me sentei em uma cadeira e minha mãe permaneceu em pé. Eu tremia as pernas e limpava o suor das mãos na calça. Minutos depois, a porta se abre e uma mulher entra, se sentando em uma cadeira na minha frente.
A mulher tinha o cabelo acima dos ombros, estava envelhecida e com aquele uniforme horrível.
Isa: N-N-Nicole? - minha voz saiu mais trêmula do que eu planejei -
Nicole: Sim. Quem são vocês? Não costumo receber visitas.
Confesso que fiquei pra baixo, droga! Eu pensei que ela se lembraria de mim. Mas como, não é? Da última vez que me viu, eu ainda era uma criança. Ela permanecia com os olhos fixos em mim, mas como eu me apresentaria a minha própria mãe?
Isa: Ãh, sou eu.. a Isabela.
Nicole: Isabela? Que Isabela?
Isa: Sua filha.
Ela me olhou por alguns minutos, incrédula.
Nicole: Maria Luiza?
Malu: Sim, Nicole. Olá. - disse sorrindo -
Nicole: Continua a mesma patricinha de dar inveja a qualquer mulher. - ela riu um pouco -
Malu: E você continua a mesma implicante de sempre.
Nicole: Não esperaria que você iria contar a ela, contar que.. você não é a mãe.
Isa: Mas ela é a minha mãe. Não porque ela tem um papel que comprova que é responsável por mim, mas porque ela me escolheu, e cuidou de mim até aqui.
Nicole: Eu sei, mãe é quem cria. E Maria Luiza, você sempre foi mais forte que eu, não é? Quando eu vim pra cá, sabia que você cuidaria muito bem dela.
Minha mãe sorriu em resposta.
Nicole: Isabela, eu fui a pior mãe do mundo pra você. Se você soubesse realmente a verdade, tenho certeza que nem teria me procurado. Eu quero que você veja a minha realidade. Estou presa a mais de dezoito anos e ainda ficarei por mais algum tempo. Já me envolvi nos piores golpes que o Rio de Janeiro já presenciou, eu me prostituia, e fazia isso com você no quarto ao lado. Sem pensar sequer na sua segurança.
Minha garganta deu um nó, eu já sentia os soluços mais frequentes.
Nicole: E eu.. eu.. eu fingi que você tinha morrido.
Isa: O QUE? COMO? POR QUE FEZ ISSO?
Senti as mãos da Malu sobre os meus ombros, mas eu estava com raiva dela também. Ela não podia ter escondido isso assim de mim.
Nicole: Eu troquei alguns exames, enganando até mesmo o médico, e deixando a entender que você teria alguma deficiência mental. Mas para a minha surpresa, mesmo assim a Malu não desistiu de você, ela queria você.
E então, eu apliquei um remédio em suas veias, com a ajuda de uma amiga enfermeira, e seus órgãos pararam de funcionar por algumas horas. Foi o tempo necessário para o médico dar o laudo da sua morte e seu pai chorar em cima do seu pequeno corpo.
Isa: Você é doente! Eu nunca devia ter vindo até aqui. Só me fala: por que fez isso?
Nicole: Seu pai escolheu a Maria, então escolheu só a filha dela. Eu queria tirar você dele e deixar ele se sentindo culpado pelo resto da vida.
Isa: Eu quero ir embora.
Malu: Isa?
Isa: Mãe, me leva pra casa.
Malu: Tudo bem - ela suspirou - Boa sorte, Nicole.
Eu não olhava mais pra ela. Sentia que não havia mais lágrimas, mas as mesmas continuavam a passear pelo meu rosto já vermelho.
Nicole: Obrigada. Isabela, se quiser me ver novamente, estarei aqui.
Não respondi nada e ela saiu daquela sala. Abracei minha mãe com toda a minha força.
Isa: Você devia ter me contado.

Na foto, a Isabela.

 Uma Patricinha No Morro - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora