Não os deixe morrer

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Malu narrando

Eu já estive em muitos lugares ao qual jamais pensei que estaria.
A favela era um desses lugares.
E claro, eu jamais imaginei que me apaixonaria pelo chefe do tráfico e engravidaria dele na nossa primeira transa.
Nunca nem se passou por minha cabeça ser tão humilhada como fui, e apesar de tudo, continuar a amar um cretino.
Nunca que eu pensei que o perdoaria e aceitaria dividir minha vida com ele permanentemente.
Ah, e claro.
Apesar de já ter livrado sua vida por muitas vezes, jamais pensei que teria que salvar ele do nosso próprio filho.
Eu estava ali, em pé a poucos metros deles. Minhas pernas bambeavam e minhas mãos estavam frias e trêmulas.
Meu coração estava tão acelerado, que eu sentia leves fisgadas no peito. Minha respiração estava tão falha, que eu tinha que fazer uma incrível força para que o ar chegasse aos meus pulmões.
Quando ouvi a arma ser destravada, minha única reação foi gritar. Gritei na esperança que o Lorenzo percebesse o que estava fazendo.
Mas, ele pareceu firme. Nem se mexeu com meu grito.
Diego, por outro lado. Ouviu meu grito e assim que viu a arma apontada, empurrou a Isa para os braços do Dan.
Diego: Lorenzo, abaixa essa porra dessa arma.
Lore: Não dessa vez, "papai" - disse com tom de deboche -
E assim que vi seu dedo se movimentar para puxar o gatilho, corri até ele e pulei, segurando seu braço para longe fazendo com que ele caisse ao chão.
Mas, no caminho até o chão, ele puxou o gatilho e eu fechei os olhos com força. Ouvi gritos da Isa, do Dan e do Diego.
Saber que um deles podia ter sido baleado, fez com que eu levasse uma das mãos até a barriga e senti uma pontada tão forte que gritei de dor.
Senti que alguém puxou a arma da mão do Lorenzo e em segundos, sinto fortes braços me erguendo por trás. Inspirei uma boa quantia de ar e senti o maravilhoso perfume do meu marido.
Diego: O que foi, Malu? - perguntou preocupado, com uma das mãos apontando a arma pro Lore -
Malu: Nosso bebê! - consegui sussurrar em meio a dor -
Isa: PAI! TEM ALGO ESCORRENDO PELAS PERNAS DA MAMÃE!
Entrei em desespero. Eu estava perdendo meu filho.
Diego: Dan, coloque o Lorenzo para fora. Ele não é mais bem vindo aqui. - Diego entregou a arma - Leve também a namoradinha de merda. Isa, tire algum carro da garagem e me espere lá fora.
Isabela saiu correndo e Dan levantou Lorenzo pelo braço.
Lore: Mãe...
Eu não olhei, não por orgulho, não por fazer querer ele pagar pelo que fez, eu apenas.. não consegui. Eu estava tão decepcionada que não queria nem olhá-lo.
Depois disso, os acontecimentos foram incríveis flashs na minha cabeça.
Lembro do Diego me pegar no colo, do Dan jogando o Lorenzo e a Laura na rua. Lembro da Isa chorando e me deitando no banco de trás.
Lembro do Dan ir dirigindo até o hospital.
E lembro de uma sala branca, onde alguém gritava: "Não os deixe morrer."
Depois disso, tudo se embolava em minha mente. Eu não sabia o que realmente tinha acontecido, não me lembrava de nada.
Abri os olhos devagar, tentando me acostumar novamente com a claridade.
Tentei me mexer um pouco, pois todo o meu corpo doía de uma forma absurda.
Os últimos acontecimentos voltaram a minha mente e eu levei a mão até a minha barriga, desesperada.
Isa: MÃE!
Virei o pescoço lentamente e vi a Isa, a Laura e o Diego ali. Sorri com a cena, mesmo estando destruída por dentro.
Diego: Meninas, posso conversar com sua mãe?
Aquilo me deixou ainda mais nervosa. Será que ele me diria que o nosso bebê... Comecei a chorar feito criança.
Eu não queria receber essa notícia, preferi nem saber. As meninas saíram e Diego veio até mim.
Diego: Ô minha princesinha, porque está chorando?
Malu: Eu estou com medo. - chorei mais -
Diego: Calma. - ele sorriu docemente enquanto secava minhas lágrimas com os polegares - Ela ainda está aqui. - ele tocou minha barriga - Está um pouco fraquinha e vai precisar de muitos cuidados. Mas ela está aqui e isso que importa.
Malu: Ela?
Diego: Sim, nossa Alice está a caminho.
Sorri largamente e o beijei.
Em seguida, um médico veio me examinar, me mostrar os ultras e conversar comigo.
Ele me explicou que devido a perda de líquidos, a bebê está um pouco "cansadinha" e que agora todo cuidado é pouco. Minha gravidez agora é de auto risco e eu preciso fazer repouso absoluto. E também vou ter que ir ao médico com mais frequência e tomar vários remédios.
Bom, pelo menos ainda estava aqui e seu coraçãozinho batia junto ao meu.
Ainda havia esperança, nada estava perdido.
Naquela mesma tarde, recebi alta. E quando cheguei em casa, tive uma linda surpresa. As irmãs mais babonas do mundo prepararam uma festinha pra Alice, com muitas faixas e balões cor-de-rosa.
É, mãe de princesa de novo! Rs OÍJ ð@HØ# è

 Uma Patricinha No Morro - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora