(Laura narrando)
Acordei às 7:30h com o Juliano me balançando. Tomei um banho, peguei uma roupa emprestada com a Mary, comi uma fruta no café da manhã e viemos andando até a clínica.
Estou sentada a um bom tempo aqui, o Juliano está evidentemente nervoso. Minha boca está seca e eu ainda espero que isso seja um pesadelo terrível.
xxxxx: Laura Dornelles Sanchez?
Me levanto e entro em uma sala bem pequena. A mulher aponta uma maca e eu entendo e me deito na mesma.
Passo os olhos pela sala, é um cubículo, todo branco. Mas está bem conservado e bem limpo.
Será que ela tem licença para fazer esse tipo de exame? Que se dane se não tiver também, não me importo com essa droga de criança.
Ela me faz perguntas sobre a gestação e passa um gel bem gelado em minha barriga. Depois, passa um aparelho em cima daquele gel horrível.
xxxxx: Esse bebê foi planejado?
Laura: Ãh, não. -
xxxxx: Os melhores presentes vem quando menos esperamos.
Ela passou aquele aparelho por mais um tempo.
xxxxx: Olha Laura, como é pequenino. Como depende de você.
Eu olhava atentamente e um nó enorme se formava em minha garganta, me deixando sufocada.
Logo ela ampliou a imagem e circulou duas partes.
xxxxx: Consegue compreender o que é?
Ah não, não e não! Droga! Isso não, não pode ser.
Eu compreendia, mas não aceitava. As lágrimas agora inundavam meu rosto.
Juliano: O que foi, doutora? Eu não vejo nada!
xxxxx: Vocês serão pais de gêmeos!
E quando eu acho que não pode piorar, vem mais essa! Dois! Duas crianças. O dobro de responsabilidade, o dobro de trabalho, o dobro de tamanho.
Agora eu tenho o dobro de certeza de que esse, quero dizer, esses bebês não podem vim ao mundo.
Tirei aquele gel horrível da minha barriga e fui para a casa de Juliano em silêncio. Eu estava ferrada, nem casa para abrigar meus filhos eu não tenho. Não trabalho, tenho minha faculdade, o pai deles nem sonha que eles existem e meus pais me matariam se sonhassem que estou nesse estado.
Esse não é o momento para eu ter nem um filho, muito menos dois. Eu vou tirar e ninguém vai me impedir disso.
Cheguei em casa e me joguei na cama, que nem minha é. Juliano respeitou meu silêncio e eu o agradeço mentalmente por isso. Eu não preciso discutir, eu não preciso me defender, só eu sei o que estou sentindo. Mesmo que eu explicasse um milhão de vezes, ninguém entenderia.
Eu me sinto falha por ter deixado isso acontecer e me sinto um monstro por ter que tirá-los. Mas são preciosos demais para sofrerem tanto. Sem pai, sem teto, sem dinheiro, com uma mãe despreparada.
Uma boa parte da cama já está molhada pelas minhas lágrimas, meu peito sobe e desce de um forma bem frenética, ouço meus soluços fazerem eco naquela pequena e humilde casa. Levo a ponta dos dedos até a minha barriga. E a toco com toda delicadeza que consigo.
Juliano: Não chore.
Sinto seu peso na cama e logo, seus braços me levam a deitar em suas pernas. Ele limpa algumas lágrimas, mas é em vão, elas descem em uma velocidade incontrolável.
Juliano: Eu vou te ajudar no que for possível.
Laura: E no que for impossível?
Juliano: O impossível o cara lá de cima faz por nós! - ele sorriu docemente e depositou um beijo em minha testa -
Laura: Eu não consigo, Ju. Não consigo.
Juliano: São duas vidinhas, dependentes do seu amor. São dois mini corações que batem em você. Mais que isso, eles batem por você. São anjinhos que vieram de presente, você não entende?
Laura: Eles vão acabar com a minha vida.
Juliano: Eles vão dar sentido a ela. Eles vão te chutar e por muitas vezes, te acordar a noite, mas nada vai fazer com que o seu amor por eles diminua.
Laura: Não existe amor, Juliano.
Ele se senta e eu sento também, estou de frente para ele e sinto ele levando suas mãos ao meu rosto, meu corpo todo vibra ao teu toque.
Meu rosto permanecia em meio as suas fortes mãos e ele olhava bem fundo nos meus olhos.
Juliano: Você é mãe. Seu amor vai ser mútuo. O amor as vezes é assim, nasce sem querer, se desenvolve e toma lugares tão altos que você não poderia imaginar.
Laura: Eu estou com medo.
Juliano: O medo? Ah, ele também faz parte do amor. Medo de perder, medo de não dar certo, medo de não ser correspondido. Mas sem frio na barriga, não tem graça. - ele piscou pra mim e tirou suas mãos de meu rosto, me deixando decepcionada -
Frio na barriga, eu tenho sentido muito isso. Me dá frio na barriga quando ele chega junto a mim, parece que todas as borboletas do mundo insistem em voar livremente em meu estômago.
Juliano: Vamos fazer algo para comer?
Laura: Eu não sei cozinhar.
Era verdade, não sabia nem fritar um bife e isso nunca havia me incomodado, não até agora. Sempre tive empregados e bons chefes em minha casa, nunca precisei chegar perto de um fogão antes. Mas saber que um homem que me acolheu em sua casa, ainda teria que cozinhar pra mim era humilhante demais. Óbvio, que esse homem era um lorde sem igual e me pediu minha ajuda.
Ajudei a fazer estrogonofe e acredita que achei super divertido cozinhar?
Rolou uma guerrinha básica de temperos e boas risadas, e logo almoçamos juntos.
Eu não sei o que ele tinha, mas me fazia me sentir bem melhor do que eu realmente sou.
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Uma Patricinha No Morro - Segunda Temporada
DiversosAlguns anos se passaram desde o nascimento de seu último filho. A vida tranquila e serena em uma pequena cidade na Alemanha, estava completamente agradável. Mas surge uma oportunidade, capaz de mudar toda aquela tranquilidade. Três jovens sedentos...