Minha vida no comando

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Maratona (1/10)

(Guaraná narrando)
Fala ae, parceria. Se lembram de mim não é? Vim aqui contar pra vocês como foi depois que PH e Malu sairam daqui e me deixaram como dono.
Assumir foi difícil, eu ainda não me sentia totalmente preparado pra isso. Fiquei alguns anos no comando, as pessoas me respeitavam, eu tinha as melhores mulheres, ganhava bem, tinha poder aqui. E isso era a melhor coisa pra mim. Era o paraíso, algo que fazia parte de tudo o que eu era.
Eu achava que isso era tudo o que eu precisava, tudo o que mais importava pra mim.
Isso tudo mudou quando a Débora entrou em minha vida. Eu estava fazendo ronda na favela, quando me deparei com seus lindos olhos castanhos indo de encontro aos meus. E algo fez meu coração pular no peito. Pensei que seria só atração, mas na nossa primeira conversa eu vi, que era muito mais que isso.
Ela era do tipo de garota que você só encontra uma vez na vida e eu jamais deixaria que ela escapasse de mim.
Ficamos por um tempo e eu fiz um baile só pra ela, pra perguntar perante a favela se ela aceitava ser a minha fiel. E ela aceitou.
Ficamos juntos por mais de um ano, e eu era somente dela. Nunca tive problemas em ser fiel a uma pessoa só, eu só era putão mesmo quando estava solteiro.
Em um belo dia, eu estava na boca sentado, lendo uma lista com os nomes de quem estava devendo e quem eu teria que matar. Quando, vejo Débora correndo em minha direção, chorando.
Me levantei rapidamente e a abracei.
Guaraná: O que foi, meu amor?
Ela não conseguia nem me responder, só soluçava. Então, ela me deu um papel.
E quanto eu abri, era uma exame de gravidez, onde estava escrito positivo.
Fiquei em estado de choque, eu sempre fui bem responsável com essas coisas. Não sabia o que dizer ou fazer, mas eu já amava aquele pequeno bebê, mais que tudo.
O tempo foi passando, a barriga crescendo e eu já estava morando com ela. Já que quando fomos contar aos seus pais, eles não aceitaram que ela continuasse lá.
Eu não podia deixar ela sozinha, na rua e esperando um filho meu. Então casamos no cartório mesmo e fomos morar juntos.
A gravidez toda foi algo bem difícil, ela recebia muitas ameaças. Por fim, ela tinha que ficar na boca comigo e ela teve que aprender a atirar. E andava com uma calibre 38 por onde fosse.
Logo, descobrimos que era um menino. E eu quase morri de felicidade, eu decidi colocar o nome do meu pai no garoto, como homenagem. Meu pai morreu defendendo a favela, ele era dono também. E minha mãe teve que me criar sem ajuda de ninguém. Trabalhava como doméstica para me dar de comer, anos depois ela desenvolveu um câncer e me deixou sozinho no mundo.
PH foi o único que ficou ao meu lado e me arrumou um emprego.
Depois que o meu herdeiro nasceu, as coisas pioraram ainda mais. Todas as facções queriam matá-lo. Débora passava as noites acordada, com medo de dormir e alguém roubar o bebê.
E foi esse inferno, até que ele completou dois anos e nós não podíamos nem colocá-lo em uma creche. Como se isso não bastasse, descobri que seria pai novamente, o que foi suficiente para que minha esposa entrasse em pânico.
Ela não saia mais, estava ficando depressiva, não dormia e não comia. Isso tudo foi se agravando, então decidi sair da favela.
Passei o morro pro meu sub, que na época era o Gasolina e me mudei para o interior de Minas.
Lá eu tive que recomeçar a minha vida, arrumei um emprego que não pagava muito bem, mas dava pra viver.
Descobrimos que agora era uma princesinha, a Mary. Nome escolhido pela mãe dessa vez.
Os anos foram se passando, as crianças crescendo, as despesas aumentando. O salário já estava ficando apertado, Débora começou a trabalhar pra me ajudar.
E foi um momento difícil.
Mais anos se passaram e as crianças (já não mais crianças) se formaram no ensino médio. E como a maioria dos jovens, com o sonho da faculdade. Eles tentaram muito passar por vestibular ou até tentaram pedir ajuda do governo. Mas nada.
Eu me sentia um nada vendo meus filhos tentar tanto algo e não poder ajudá-los.
Então, depois de muitas conversas com a Débora, decidimos voltar para o morro.
No começo, Juliano não queria se mudar, ele sempre foi contra ao tráfico.
E não, eu nunca escondi deles quem eu fui.
Voltando pro morro, eles até que se acostumaram rápido e logo, voltei a ser o dono.
Conheci o Lorenzo, que me lembrava tanto o PH que chegava a assustar. Queria rever meu amigo novamente, espero que um dia ele volte para o Brasil e isso se torne possível.

Aêêêê
Primeiro Capítulo da Maratona Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ Àÿÿ

 Uma Patricinha No Morro - Segunda TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora