Prólogo

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Mais uma noite paulistana.

A boate é requintada, a decoração de muito bom gosto, e, diga-se de passagem, o público frequentável é bem agradável. Mulheres lindas e donas de corpos esculturais - os quais eu já estou louco para me perder - circulam oferecendo seus sorrisos mais sedutores. E também, seus decotes mais cavados. Típico de quem quer dar.

- Eu já volto cara. - Aviso Rafael, que apenas observa o movimento e seleciona a caça da noite.

Aproximo-me do bar e ergo um dedo, fazendo sinal para o barman, que atende prontamente meu chamado. Peço uma Long Neck, e, com goles curtos, saboreio o gosto da cerveja enquanto observo a casa começar a lotar.

É quando vejo uma mulher ridiculamente bonita.

Porra! É ela. Aquela que inferniza minha mente desde aquele dia.

Não que as outras não sejam, mas ela é absurda. De tirar o fôlego. Seus cabelos ondulados batem quase á cintura, e tem reflexos claros nas pontas - sei lá como se chama essa porra que as mulheres fazem nos cabelos. Suas sobrancelhas são bem marcadas, e seus olhos parecem ser claros, mas não é possível afirmar devido á distância que nos encontramos. Eu não havia me atentado tanto aos detalhes quando a encontrei na manifestação, toda suja e tossindo horrores. Ela mal olhou para mim, e, apesar de saber que era uma bela mulher, produzida ela ficava estupenda.

Quando ela joga os braços para cima e começa a remexer os quadris de acordo com a batida da música, não sou capaz de explicar ao meu amigo debaixo que ele não pode acordar em público. Remexo-me desconfortável e decido voltar para o lugar onde deixei Rafael. Tentaria tirar dele alguma informação sobre a garota sexy e desconhecida por mim até então. Não que São Paulo seja uma cidade pequena onde todo mundo conhece todo mundo - muito pelo contrário -, mas, talvez eu tenha a sorte de ela ser da mesma faculdade onde eu curso o mestrado junto com os caras.

- Ei, Rick! - Hugo cumprimenta-me com um aperto de mão. - Só na boa?

- Tranquilo cara. - Retribuo. - O Lipe não chegou ainda?

- Chegou sim. Foi dar uma circulada para vigiar a irmã, sabe como é.

- Ah, claro. - Respondo com ironia.

Aquela proteção excessiva do Felipe para com a garota é tão ridícula... O cara precisa deixar ela viver, curtir a vida. Pessoas normais fazem isso, e com ela não deveria ser diferente.

Decido voltar minha atenção para o que realmente importa: a gostosa remexendo-se lindamente á alguns metros de mim.

Não desvio meu olhar dela um segundo sequer. Ela continua dançando, e percebo que está acompanhada por uma amiga. Elas sempre estão, afinal. Dou mais um gole na cerveja - dessa vez, longo - e é quando ela me vê. Faço questão de manter o contato visual. Se ela for inteligente o bastante, perceberá que está em minha mira esta noite, e, provavelmente, em minha cama mais além.

A amiga a cutuca com o cotovelo e diz algo em seu ouvido, fazendo com que ela fique desconfortável. Sorrio discretamente, percebendo que o assunto sou eu, e que, de alguma forma, também a afetei.

Será que ela me reconheceu?

- Tira o olho, cara! - Rafael adverte.

- Porque eu faria isso? - Desdenho com um sorriso cínico estampado nos lábios.

- Porque ela é a Dani. Irmã do Lipe. Para nós, é como se fosse homem.

Por pouco não cuspo a cerveja.

Caralho! Só pode ser brincadeira.

Quando Felipe falou que não admitia nenhum de seus amigos azarando a irmã, não pensei que a tal irmã fosse uma puta de uma gostosa. Chega a ser crime. Isso não é justo. Com certeza é o universo me sacaneando por todos os corações que já parti ao longo dos meus vinte e oito anos.

Universo filho da puta!

- Você tá de sacanagem que a irmã do Lipe é aquela gostosa, né? - Apontei discretamente o dedo da mesma mão que segurava a garrafa.

Ele gargalhou.

- Não estou não. E acho melhor não se referir á ela desse jeito. É sério! A Dani não é qualquer uma.

- É claro que não. - Respondo irritado.

Estou puto, frustrado e de pau duro. O pior, é que nenhuma das mulheres parece atraente o bastante diante dela. Tenho de esperar para me aliviar em casa, e sozinho, pensando naquela bunda redonda remexendo-se conforme a batida da música.

Nesse momento, pondero seriamente até onde vale minha amizade com Felipe Menezes.

É apenas mais uma boceta. É apenas mais uma boceta - tento me convencer. Então, chego á conclusão de que ela é só mais uma. Não. Nada vale apena. Amigo é amigo, filho da puta é filho da puta.

Mais tarde, fui um filho da puta.

***

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21/01/2016

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