Capítulo Sete - Daniela Fernandes

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Daniela

Levi está com uma expressão estranha, incomum. Enquanto tem sua mão sendo segurada pela de Ricardo com firmeza, seus olhos negros encaram o amigo de meu irmão com certa frigidez.

– É um prazer te reencontrar também, senhor Ricardo.

Reencontrar? Senhor?

– Como vai o novo apartamento? Já se mudou?

Alterno meu olhar de um, para o outro, sem entender absolutamente nada.

Por mais que Ricardo seja generosos centímetros mais alto que Levi, ele parece acuado, temeroso de um jeito, no mínimo, estranho. Neste exato momento, me pergunto onde está a postura ereta e toda segura de si que ele ostenta vinte e quatro horas por dia.

– Vocês já se conhecem? – Decido intervir e entender o que está acontecendo entre os dois, neste jogo de olhares que diz tanto mesmo que as palavras não escapem para esclarecer seja lá o que for.

– Na verdade... – Ricardo começa.

– Ele é o cara que te ajudou na manifestação, Dani. E agora, meu cliente também. Alugou um imóvel pela imobiliária no mesmo prédio que o seu, inclusive.

Estupefata, encaro Levi, sem precisar de mais nenhuma sílaba para tomar a compreensão dos fatos.

Seu olhar cheio de significado em minha direção diz mais do que eu preciso saber. E eu sei, que por mais que meu amigo esteja com a garganta coçando para falar poucas e boas, que seu profissionalismo se sobressai á sua indignação, fazendo com que, diante de Ricardo, o cliente montado na grana e fabricado com uma dose extra de arrogância, ele reprima a vontade de pronunciar a palavra "suborno" em voz alta. Porém, seu cérebro deve estar fervilhando de ódio e indignação, assim como o meu.

Como eu pude ser tão devagar quase parando, como diria minha mãe?

Quando, quase chorando por ter de gastar meu dinheiro contado por medo de lavar a peça em casa e estragá-la, deixei o blazer na lavanderia, e escrevi, com um cuidado premeditado, o bilhete que o acompanhou, não perguntei á Levi o nome do dito cujo. Apenas enviei ao endereço que me foi passado, presumindo então, que mesmo que o local denominado como "Braga's & Cia. Advocacia" tivessem vários funcionários, o dono reconheceria a própria peça de roupa.

Fecho os olhos e sugo o ar até que ele atinja o talo dos pulmões. Estou tão puta... Sinto uma vontade surreal de agarrar o pescoço de Ricardo Vasconcellos e apertar, até vê-lo ficar roxo e implorar por perdão, por ser uma pessoa tão...

– Daniela, não é o que você está pensando...

Eu odeio essa frase. Odeio! Não tem nada pior do que uma pessoa fazer cagada, você descobrir, os fatos estarem escancarados e claros como água cristalina, e ela te tratar como um alguém estúpido. Você sabe da verdade, conhece a verdade, vê a verdade, e o indivíduo vem e diz: não é nada do que você está pensando.

O caralho que não!

– Cala essa boca, Ricardo! – Interrompo, grosseria é meu nome do meio. – Essa é a primeira frase de um mentiroso quando o sapato aperta.

Imediatamente, o dia em que descobri o que Neto (não o Lord Voldemort como sei que muitas de vocês imaginaram por eu não pronunciar o nome do demônio) aprontou comigo após o fim do nosso relacionamento, passa como um filme em minha mente. Apesar de eu mal conhecer o homem que está diante de mim, diferentemente de meu ex-namorado, que eu também não conhecia, mas pensava que sim, ambos me trataram como um mero objeto. De formas distintas, mas ainda assim, um objeto. Uma mercadoria com uma etiqueta de preço pendurada, e que está a venda na prateleira de uma loja qualquer.

Ultrapassando LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora