Capítulo Sete - Ricardo Vasconcellos

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A foto é do Gui :)

Boa leitura!

***

Ricardo

– Desembucha.

Estou em um restaurante descente, com o único membro da família que vale apena, sentado á minha frente. Fitando a Avenida Paulista através do vidro, remexo o salmão provavelmente frio dentro do prato.

– Não tem nada.

Ele abre aquele sorrisinho debochado de moleque pentelho e então bebe um gole de sua água.

– Você fica ridículo quando está preocupado.

Ergo os olhos para fitá-lo com tédio. Guilherme fala demais, às vezes.

– Sua testa fica franzida e essa sua cara de mal não combina, sei lá.

– Muito engraçadinho você, , moleque? – contenho a vontade de dar um pedala Robinho em meu irmão caçula apenas para lembrá-lo quem é o primogênito aqui – não estou preocupado, só trabalhando demais.

– Fala sério, Rico! – ele me chama assim de vez em quando, pois quando era apenas um borrador de fraldas não sabia falar o apelido corretamente. – Conheço você há vinte e quatro anos, sua puta. Coloca pra fora, velho. Faz bem.

– A única coisa que vou colocar pra fora se não calar essa sua boquinha é o meu pau. Quer ver?

– Você é nojento.

Rimos e eu peço ao garçom que retire meu prato intocado, ficando apenas com o vinho de uma boa safra para apreciar. Após um tempo com uma dose pequena de álcool na cabeça, sugo o ar e decido confessar:

– Fiz uma cagada.

Meu irmão me olha com atenção, mas não há surpresa alguma em sua expressão.

– Das grandes?

– Eu... Eu não sei... Acho que magoei uma pessoa quando agi por impulso.

– E desde quando você se importa? – em vão, logo ele tenta se corrigir – Quero dizer, você não faz o tipo altruísta.

Suspiro.

– Obrigado, irmão. – Ironia escorre em minha voz.

– Não é isso, cara. É só que...

– Sou um egoísta? Eu sei. Sou egocêntrico também, e babaca na maioria das vezes. Você acha que eu gosto de ser assim? Prepotente? – solto um riso fraco – Eu só não sei ser diferente! E convenhamos, eu não tive bons exemplos em casa. Mas também não posso culpá-los, já que você é tão diferente de mim.

Ele balança a cabeça em negativa.

– Se eu sou diferente foi porque você interferiu por mim, Rick. Não tinha ninguém por você, além dos nossos pais. Agora, se você aceita um conselho... Peça desculpas. Já é um grande passo.

[...]

Eu juro que esta é a última vez que venho atrás dessa feiticeira.

Embora Daniela tenha dito que homens como eu não saibam se redimir – aliás, deixei para pensar outra hora no que ela quis dizer com " um homem como eu" –, já tentei fazer isso, há mais ou menos uma semana, na biblioteca. Mas ela foi arredia, irredutível e acusatória. Me desprezou sem cerimônia, e foi difícil pra cacete ter que sair de lá fingindo que não fiquei de alguma forma, afetado.

Ultrapassando LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora