Daniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...
É possível que não haja mais capítulo nesta semana, por conta do feriado. Em compensação, este está maior do que o normal.
Boa leitura!
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Ricardo
Homem que é homem aceita quando perde. Homem que é homem reconhece seu erro, e abre mão de algo que quer muito quando se trata de um bem maior.
Cresci sendo um egoísta, é verdade. Aprendi que todos os relacionamentos, amorosos ou não, tem que girar em torno de um interesse em comum. Seja este financeiro, ou por status. Simples assim.
É gostoso ter status. É gostoso ter dinheiro. Mas porque eu nunca me senti completo, se eu tinha tudo o que precisava para, teoricamente, ser feliz?
Bem, isso não vem ao caso, de qualquer forma. O que estou querendo explicar aqui, é que pela primeira vez na minha vida, exceto envolvendo meu relacionamento com meu irmão caçula, estou me importando com alguém que não seja eu mesmo.
Abri mão de comer Daniela. Não por falta de vontade, claro que não. Mas naquele fim de tarde, na minha lavanderia, vendo como ela é capaz de rir com facilidade e aproveitar momentos simples dos quais eu jamais acharia graça, percebi o verdadeiro motivo de ser tão protegida por Felipe. Ela é uma menina simples presa no corpo de uma mulher gostosa. É arisca, sim, mas talvez, seja para não mostrar aos outros, o que tem de melhor. Não gosta de deixar transparecer sua vulnerabilidade, por isso se esconde atrás de uma postura tão firme e arredia. É disso que o irmão a protege, de ser ela mesma.
Eu poderia ter me fodido sozinhocom a porra da máquina cuja fora trocada pela loja no dia seguinte, e, mesmo que ela me ache a pior das criaturas, se disponibilizou á entrar na cova do leão para tentar ajudar.
Altruísmo. Eu jamais seria capaz de chegar á esse nível do ser humano. Meu próprio irmão tem esse conceito formado sobre mim. E ela, sem esforço algum, pratica dessa façanha com tanta naturalidade que chega até ser incomum, para mim.
Depois daquele dia, procurei Levi. Um pouco foi por ela, confesso. Eu quis de todo o jeito que ficássemos em harmonia. No começo, esperançoso de que eu ainda conseguisse realizar o nosso sonho – meu e do meu pau – de me enterrar naquele corpo de todas as formas. Depois, ao ficar cada vez mais próximo de Felipe e dos outros, para que eu e ela tivéssemos no mínimo, uma convivência pacífica e livre de ressentimentos. Mas, quando me vi parado na frente do homem demasiadamente profissional, senti um peso enorme ser retirado das minhas costas. Inevitavelmente, meu orgulho foi posto no topo e agi como se fosse melhor que ele. Me julgue, é uma característica minha e foda-se o resto. Apesar disso, fiz o que um homem deveria ter feito: lamentei a minha imoral conduta. Claro que, fiz isso no modo advogado, e não como um cão arrependido.
