Daniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...
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Daniela
Vago pelas ruas por um tempo, até considerar estar perigoso demais para caminhar sozinha e me juntar a um grupo de pessoas no ponto de ônibus. Embora eu tenha algumas opções de casas de amigos para ir, já que eu não consegui pensar em uma desculpa convincente para explicar meu rosto inchado ao Felipe, acredito que correr para o Levi é a opção mais segura, por ora.
Durante o trajeto, sou incapaz de impedir que as lágrimas quentes e ácidas escorram pelas minhas bochechas.
Ao encontrar um lugar livre, me sento e recosto a cabeça na janela de vidro, ignorando os olhares curiosos dentro do ônibus, repetindo para mim mesma que são todos desconhecidos, portanto, não têm nada a ver com a minha vida.
Embora meu conflito com o Neto no passado tenha sido bem mais tenso do que o que tive hoje, com o Ricardo, está doendo muito mais, agora. Não posso mentir e dizer que tal constatação não me assusta, porque, droga, estou apavorada com a conclusão que está se formando em minha cabeça. Eu era sim apaixonada pelo Neto, e a decepção que ele me causou me consumiu, me tornando uma mulher amargurada e fechada para o mundo. Contudo, percebi que decepcionar dói muito mais do que ser decepcionada, quando o sentimento para com o outro é genuíno; e o que estou sentindo pelo Ricardo, sem um mísero resquício de dúvida, se encaixa perfeitamente nesta definição; genuíno.
Ricardo possui todos os defeitos que eu odeio em uma pessoa, entretanto, tarde demais, cheguei à conclusão de que isso não fora o suficiente para me manter indiferente. Eu não estou apenas apaixonada por ele. Quando ele não disse uma palavra sobre a trágica e vergonhosa história do meu passado, o buraco que se abriu em meu peito me fez perceber que eu o amo, e por isso tenho a sensação de que esse vazio, mais cedo ou mais tarde, será preenchido pela dor e irá me matar de forma gradativa.
Sempre achei que havia conhecido o amor com o Neto, o Badboy fantasiado de garoto prodígio. No entanto, nunca fiquei tão satisfeita em perceber que tudo, desde o início, não só fora um engano, como também uma farsa.
Embora eu o tenha namorado por realmente gostar dele e não me importar se ele era o cara mais desejado do momento – e da cidade–, eu me sentia pequena ao seu lado, afinal, em minha cabeça, eu não passava de uma garota simples com gostos peculiares. Não entendia como ele, justo ele, havia se interessado logo por mim. No entanto, hoje eu entendo que Neto também teve seu ego inflado e sua vaidade estimulada ao me exibir como um troféu. Afinal, eu poderia ser ingênua, mas ainda era a Miss Boa Esperança.
Quando me vejo plantada em frente ao portão de ferro da casa simples, sugo o ar até o talo dos pulmões e aperto a campainha, aguardando ansiosamente que a porta seja aberta.
– Oi, minha querida.
Jogo-me no abraço do meu amigo e me permito chorar, exausta de armazenar a minha dor. Eu sempre soube que eu precisava partilhar os meus problemas com alguém que não fosse o Felipe, e agora, estou decidida a fazer isso com Levi.
