Ricardo
Eu estaria mentindo se dissesse que não percebi a maneira como Daniela encarou a mesa de jantar, ontem à noite. É claro que eu poderia ter insistido e dito a ela que seu medo não passava de mera bobagem, pois para mim, era exatamente isso.
No entanto, eu tenho total consciência de que o menor deslize social que Daniela cometesse, não passaria despercebido pelos olhos gélidos e analíticos de Marisa. E conhecendo bem a mãe que tenho, sei que ela não medirá esforços para colocar Daniela em maus lençóis.
Isso é típico de Marisa Vasconcellos, mesmo.
Não que eu me importe, pelo contrário. Adoro a forma como ela se delicia com um simples cachorro quente ou uma pizza gordurosa, sem preocupações com quilos extras ou bons modos. Ou, sobretudo, a maneira como ela lambe os dedos de forma prazerosa e geme após sentir o gosto de comida neles, o que me faz sentir confortável e à vontade em sua companhia para desfrutar de uma refeição simples. Contudo, a menor possibilidade de Daniela se sentir um peixe fora d'água, e desejar ir embora antes da hora, me deixa realmente preocupado.
Eu a quero aqui, principalmente depois de ter percebido que encarar meus pais depois de meses sem vê-los fora muito mais fácil do que presumi, simplesmente, por ela estar comigo.
Não sou capaz de explicar.
Talvez ontem, eu tenha conseguido mostrar a eles ao mesmo tempo em que me dei conta de que há alguém que queira estar ao meu lado, e que isso se trata não do limite do meu cartão de crédito, mas talvez, do tamanho da minha rola. Obviamente, eles não precisam saber a parte sexual da coisa.
Apesar do frio que faz em Curitiba, fomos visitar o Jardim Botânico, como ela havia me pedido. Saímos antes dos meus pais acordarem, e foi uma boa oportunidade para tomarmos café da manhã na rua e conversar sobre banalidades. Daniela, mesmo com luvas de corino e um gorro de frio enterrado na cabeça, aproveitou a paisagem do lugar como quem aproveitaria na primavera, a estação do ano em que o ponto turístico fica ainda mais bonito e lotado de pessoas.
Ela usou meu celular para tirar muitas fotos do lugar e aproveitou para bater uma selfie de nós dois, com a famosa estufa servindo de adorno, ao fundo da imagem.
Almoçamos na praça de alimentação de um Shopping qualquer e aproveitamos para praticar nossas habilidades virtuais em um parque de diversão indoor. A maldita é praticamente imbatível, quando se trata de vídeo games, e eu saí realmente humilhado daquela merda.
Além de rir horrores da minha vergonhosa derrota, ainda tive que comer um Fast Food, como pagamento da aposta que fizemos. Eu queria muito ter saído vencedor apenas para ter o prazer de filmar sua expressão ao comer Escargot, mas, infelizmente, não foi dessa vez. Como diria minha já falecida avó, eu teria que comer muito arroz e feijão para vencer essa mulher, pelo menos nos jogos virtuais.
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Ultrapassando Limites
RomantizmDaniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...