Capítulo Vinte e Nove - Ricardo Vasconcellos

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Ricardo

– Ei – Saudei baixinho, afagando os cabelos dela com carinho. Depois do que acontecera, tenho receio de que até meu tom de voz seja capaz feri-la.

Os olhos verdes de Daniela analisam todo o ambiente, para depois recaírem sobre mim. Sorrio, tentando demonstrar através do gesto que está tudo bem agora. Que eu estou aqui, por ela, e para ela.

– Rick... – Ela começa a chorar.

Shhh... Eu estou aqui. Está tudo bem com vocês três, e eu juro que não vou deixar mais nada de ruim acontecer de novo com a nossa família.

Com dificuldade por causa dos fios e agulhas presas em sua mão esquerda, ela passa os braços pelo meu pescoço, enterrando o rosto em meu ombro e deixando as lágrimas se libertarem. Fico por alguns minutos afagando seus cabelos e sustentando nosso abraço, ouvindo apenas o som do seu choro baixinho.

Segundo o médico que a atendera quando chegamos ao hospital, devido ao alto nível de estresse por qual Daniela passara, e também a desidratação que a tomou durante os quase quatro dias em que ficara presa naquela casa isolada, ela perdera os sentidos e só despertara agora, três horas mais tarde. Enquanto Daniela estivera desacordada, fora submetida a todos os exames necessários e eu não sosseguei até escutar que estava tudo bem com ela e os nossos bebês.

Uno minhas sobrancelhas quando um pensamento me arremete. Por mais que na concepção alheia essa não seja a hora de tocar no assunto e colocar os pingos nos i's, eu não consigo ficar calado. Não quero perder mais nem um segundo da minha vida ao lado dessa garota arretada, e ela precisa ouvir tudo que eu tenho a dizer. Amanhã pode ser tarde demais, e eu aprendi a lição da pior maneira possível.

– Desculpe por ter te deixado sozinha, Feiticeira. Morri mil vezes quando me dei conta do que aconteceu.

Daniela ergue o rosto banhado pelas lágrimas e abre a boca para falar alguma coisa, mas rapidamente pouso meu indicador em seus lábios.

– Me deixe terminar, sim? Nunca, nunca mais quero deixar o orgulho interferir nas minhas decisões. Eu fiquei chateado com você, é verdade, mas não deveria ter agido como um moleque. Você errou, mas errou por se preocupar comigo, por me amar com a mesma intensidade que eu a amo – sorrio um pouco e aperto com cuidado suas mãos, percebendo o quão fácil fora dizer isso em voz alta. – A verdade é que eu não sei como responderia a tudo o que você passou e, de agora em diante, se você ainda quiser ficar comigo, prometo encarar os problemas que ainda virão, e tentar resolver com maturidade cada um deles. Eu te amo demais pra perder qualquer minuto ao seu lado, Daniela.

Ela chora ainda mais e eu solto suas mãos para enxugar seu rosto com os polegares.

– Por favor, não chora.

Daniela balança a cabeça negativamente.

– Estou chorando de felicidade. Pedi tanto a Deus que cuidasse da gente, que não deixasse nada de ruim acontecer com eles – sem desviar o olhar do meu, ela afaga a barriga ainda pequena com carinho. – Eu também amo você, Ricardo. Ainda vamos errar muito um com o outro, mas prometo tentar aprender a lição com cada um dos meus erros. Obrigada por não desistir da gente.

Agora sou eu quem a abraça.

– Eu jamais desistiria– sussurro, mais para mim, do que para ela.

Após alguns minutos, Daniela sai do meu abraço, enxuga o rosto para se recompor e volta a falar, dessa vez, com a voz mais firme.

– Rick... – passa a língua pelos lábios secos – onde ela está?

Franzo o cenho e trinco os dentes, sabendo que ela pergunta da japonesa.

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