Capítulo Vinte e Dois - Daniela Fernandes

2.5K 282 87
                                    

Daniela

Sei que se agora estou sofrendo feito um porco prestes a ser morto, a culpa é toda minha. Única e exclusivamente, minha. Todavia, eu errei mais uma vez na vida por acreditar na bondade das pessoas; na mutação que nunca acontecera dentro do Neto. Mas essa sempre fora minha principal característica, afinal; a benignidade, ingenuidade.

Eu deveria ter desconfiado quando ele deu início à nossa conversa confusa já dizendo que ainda me amava e me aceitaria de volta independente de qualquer coisa, como se eu tivesse que ser perdoada de alguma coisa, e não o contrário. Só estava me enrolando para dar o tempo exato de Ricardo chegar e ele grudar seus lábios nos meus, pegando-me desprevenida.

Mas, depois de muito refletir, chego à conclusão de que não devo e nem preciso mudar minha essência e me fechar uma outra vez. A bondade existe sim no ser humano, e não é porque fui ferrada uma vez mais, que deixarei de acreditar nisso. Se eu o fizer novamente, posso perder a chance de conhecer um mundo bom, aonde eu sei que existe pessoas benevolentes que aceitam que o sol nasce para todos sem sentir inveja. Afinal, a sombra é apenas para quem merece, não é mesmo?

Neto é um caso à parte, óbvio. Aquele moleque é apenas um Filho da Puta doente que não suporta ver um sorriso desenhando meus lábios. Antes, ele me tirou a dignidade, que, apesar de ser algo doloroso de se perder, eu posso dizer que, enfim, eu consegui superar. Mas agora, o que eu perdi foi algo mais valioso: a chance de ser feliz ao lado de um cara um tanto egocêntrico e narcisista aos olhos alheios, mas que, com toda certeza, tem suas peculiaridades, o que o torna especial, pelo menos para mim.

A Daniela é altruísta, é carinhosa, protetora com os que ama. A Daniela é boa, tem o dom de perdoar. Contudo, a raiva de qualquer ser humano, por melhor que ele seja, é exacerbada quando as pessoas por quem tem grande apreço começam a ser prejudicadas de alguma forma. Física ou emocionalmente, não importa. 

Chego em casa tarde da noite, e qual é a minha surpresa ao me deparar com Felipe, desacompanhado, sentado no sofá com o queixo apoiado sobre a mão. Os pensamentos dele parecem estar muito longe daqui, e a única luz acesa é a do abajur da sala, o que torna tudo mais estranho. Ele parece estar esperando por mim e isso faz com que um calafrio ruim suba imediatamente por minha espinha.

– Aconteceu alguma coisa? – Indago, alarmada, já preocupada com a minha mãe.

Felipe assente para então suspirar.

– Pelo amor de Deus, você tá me deixando preocupada. É com a mãe?

– O Ricardo me contou tudo.

Se eu pudesse me ver diante de um espelho agora, poderia constatar a ausência de cor em meu rosto. Minha boca instantaneamente fica seca e eu empurro a ausência de saliva garganta a baixo. Minhas mãos tremem e, puta merda, eu estou a ponto de entrar em um colapso nervoso.

Como assim aquele Cretino foi abrir a boca sem me consultar?!

Por quê?

– Eu não sei do que você está falando. – Arrisco.

– Já chega, Daniela. Há duas coisas que eu odeio: – ele enumera com os dedos – mentira, e ser feito de otário. Embora todos os sinais tenham apontado a direção certa, eu preferi acreditar em vocês. Em você, principalmente.

– Lipe...

– Não. Pode desmanchar essa expressão de arrependimento, porque eu sei que você não está. Eu estou mais que decepcionado, Daniela. Você e a mãe sempre foram a prioridade da minha vida, e ser enganado dessa forma... – ele balança a cabeça negativamente. – Não dá pra aceitar. Eu não vou perder um amigo porque você não conseguiu manter as pernas fechadas.

Ultrapassando LimitesOnde histórias criam vida. Descubra agora