Ricardo
"Proibida pra mim, no way."
Depois da porcaria de noite que tive, chego ao apartamento de Guilherme chutando tudo que encontro adiante. Só o que desejo é uma boa e generosa dose de uísque, mas ignoro minha vontade de encher a cara e sigo direto para o banheiro. Arranco minhas roupas com certa rispidez e entro embaixo do chuveiro, mas só a água não é o suficiente para relaxar meu corpo.
Agarro meu pau com força e começo a movimentá-lo para cima e para baixo. Inevitavelmente, a imagem dela remexendo sensualmente sua cintura fina invade minha mente sórdida.
A sensação de impotência ao descobrir que Daniela, a mulher da manifestação que me deixou enfeitiçado, é a irmã intocável do Felipe, o cara que acabei de conhecer e já considero pra caralho, me alveja como um soco no estômago. Ela está completamente fora do meu alcance, e, se eu não estou ficando louco, acho que sinto ainda mais tesão depois de saber disso.
Continuo a movimentar minha ereção.
Essa merda passou de frustração para outra coisa sem definição. Estou confuso e incomodado mais do que deveria. Não consigo compreender a mescla de sentimentos tão desiguais em que me encontro submerso até o pescoço. É desapontamento misturado á fúria. Temor misturado á impavidez.
Mas impavidez para que?
Lembro-me de suas sobrancelhas marcantes sobre os olhos que me encararam com um desejo recíproco, e gozo forte em minha mão.
Alívio físico, mente conturbada.
Encosto a testa no azulejo frio e escuto minha própria respiração arfante ir se acalmando aos poucos.
– Estou bem, caralho.
[...]
Segunda-feira chegou de novo, e por incrível que pareça sinto-me animado para começar a providenciar minha mudança. O depósito adiantado já foi realizado e posso ir para o novo apartamento quando quiser. Preciso lembrar-me de pedir á Samira que providencie tudo dentro de uma semana, pois não vejo a hora de dormir em uma cama decente. Além disso, Guilherme, enfim, poderá voltar a transar em sua própria casa e eu terei o que comer dentro da minha própria geladeira.
Distraidamente, adentro o escritório assoviando a música Moves Like Jagger de Maaron 5. Mas, quando a fatídica noite de sábado me vem á mente, interrompo imediatamente, como se estivesse cometendo uma infração. Franzo o cenho e balanço a cabeça, como se o gesto em si, fosse capaz de afastar a merda que fora meu final de semana. Meu humor está incrivelmente bom para um dia como este, e ninguém será capaz de estragar. Nem mesmo eu.
– Bom dia, senhorita Samira.
– Bom dia, senhor Ricardo.
Ignoro seu sorriso simpático e caminho rumo á minha sala, ouvindo o som de seus saltos ecoarem com rapidez atrás de mim.
– O que temos para hoje? – Pergunto enquanto deposito minha valise de couro em cima da mesa.
Ela concentra-se nas anotações de sua agenda, coloca a caneta na boca enquanto lê, e responde:
– Uma vídeo conferência com o doutor Braga dentro de trinta minutos, uma reunião pela manhã com um casal que pretende dar entrada em um processo de adoção, e mais duas referente á guarda compartilhada pela tarde.
– Ótimo. Depois estou livre?
– Oh, sim. E na sexta-feira, quando o senhor saiu mais cedo, um motoboy deixou uma entrega em seu nome.
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Ultrapassando Limites
Roman d'amourDaniela Fernandes é uma jovem vinda de Boa Esperança, uma cidadezinha pacata do interior do Paraná. Filha de uma mulher simples e pai desconhecido, ela vai morar com o irmão - cujo vínculo sanguíneo é restrito apenas pela parte da mãe - em busca de...