Capítulo Vinte e Seis - Daniela Fernandes

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Daniela

Família êh, família áh, família!

É curioso como uma criança, tão pequena e indefesa, tem o poder de mudar o nosso mundinho particular; de virar tudo de cabeça para baixo, antes mesmo de seu chorinho ecoar dentro de um quarto branco e impessoal de hospital, e ela ser rodeada por adultos sorridentes e babões. Uma pequena sementinha, ali, na segurança do ventre quentinho da mãe, é capaz de derreter corações de gelo, arrancar sorrisos involuntários e despertar preocupações que nunca pensávamos ter um dia.

Dois dias após termos chego à São Paulo, Ricardo começou a providenciar adaptações por todo o apartamento, desde um arquiteto para decorar o quarto do bebê - o que achei um exagero, já que nós mesmos podíamos fazer isso -, a protetores em todas as tomadas da casa.

Por Deus! Os dedinhos do bebê ainda nem estavam formados e ele mandou comprar protetores de tomada!

PROTETORES.DE.TOMADA!

Mas ainda que eu tivesse os melhores argumentos, seria inútil, já que além de eu estar querendo discutir com um advogado, este é o Ricardo, e ele não me daria ouvidos, ainda que eu estivesse com a razão. Ele está tentando, desprovido de sucesso, enganar-me que apenas não quer ter de se preocupar com os detalhes quando chegar a hora.

No fundo, ainda que eu pense que hora ou outra ele irá me enlouquecer, não me importo com esse excesso de proteção. Ricardo nunca tivera uma relação saudável com a família, e isso tudo é novidade para ele, muito mais do que para mim. Eu o deixarei curtir cada momento, até que perceba, sozinho, que por mais que os esforços sejam imensos e bonitos de se ver, vamos cometer erros como quaisquer pais de primeira viagem.

Apesar de às vezes eu desconfiar que seu cérebro fora gravemente afetado depois da notícia da gravidez, prefiro pensar que é só o coração sendo invadido por um sentimento desconhecido e de proporção inestimável, o que me faz apaixonar um pouquinho mais, por ele. Atitudes assim vindas de um iceberg como Ricardo devem ser consideradas um grande avanço, afinal.

Como fora decidido por Augusto, poucos dias depois, assinei um monte de papelada, tornando-me assim, uma das acionistas das Companhias Menezes, o que teve como consequência a separação de Augusto e Suzana. Pelo que Felipe me contou, a relação dos dois já estava estremecida devido à novidade da minha paternidade, e Augusto me incluir na empresa foi o estopim, para ela, que está saindo desse casamento com a conta bancária nas alturas, já que nunca fora nem uma tola, tampouco inocente.

Não posso dizer que me senti mal por isso, afinal, não é novidade para ninguém que eu nunca suportei aquela mulher. Sempre achei que Augusto merecesse alguém melhor, não uma mulher fútil, egoísta, e vil, como a Suzana. E que fique claro que isso não tem nada a ver com a minha mãe, embora eu tenha notado ambos muito próximos depois do divórcio.

Não voltei para o apartamento do Felipe, que, embora tenha torcido o nariz para isso no início, concordou, por fim, que ficar com Ricardo é a decisão mais sensata, para que tenhamos tempo de acertar nossas vidas como um casal.

Hoje é a primeira consulta com o doutor Fabiano, e Ricardo largou a Braga's nas mãos da secretária pré-histórica para me acompanhar. Se eu insisto em mostrar a nossa vagina para um cara que não ele, que ele esteja perto, para verificar o profissionalismo do médico. Caso ele perceba qualquer resquício de malícia durante a consulta, enfiará um processo no rabo do Filho da Puta. Palavras dele, não minhas.

Ahhh, os advogados... Querendo processar o mundo inteiro.

O doutor respondeu todas as perguntas menos invasoras de Ricardo, garantiu que podíamos manter relações sexuais normalmente, e reforçou, para o desgosto do meu namorado, que eu podia retornar ao trabalho sem problema algum, desde que o mesmo não exigisse esforços físicos.

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